Closer

Capítulo 22

CAROL

Alguns dias depois.

Eu e Day estávamos gravando uma live quando notei muitos comentários mencionando que a minha mãe estava online.
Tentei disfarçar o fato de estar surpresa e mandei um oi para ela antes de encerrar a live.

Olhei para Day e ela estava com os olhos arregalados.

- Carol, você já se perguntou a quanto tempo tua mãe acompanha as redes sociais e inclusive lê o que o fandom fala da gente?

- Amor ela nem tinha instagram! Eu tô com o c** na mão agora - falei fazendo gesto - Vou falar com o Rafa pra ver se ele sabe de alguma coisa.

Mandei mensagem para ele que prontamente respondeu, como se estivesse prevendo a merda que ía dar.

- Ca, a mãe não tem certeza, mas desconfia. Ela me perguntou se eu sabia porque todo mundo se refere a vocês duas como um casal.

- Mds e você falou?

- Não posso fazer isso contigo, mana. Isso é uma decisão sua. Mas também não quero continuar mentindo pra ela. Você me entende, né?

- Entendo, Rafa. Preciso pensar. Depois a gente se fala.

- Ok. Não esquece que eu te amo e tô contigo nessa. Bjs.

Travei o celular e fiquei por algum tempo olhando para o nada, completamente atordoada.
Day me abraçou e permaneceu em silêncio até que meus pensamentos se ajustassem.

- Preciso ter essa conversa com ela pessoalmente.

- Posso ir com você. Eu te ajudo.

- Melhor não, amor. Não sei como ela vai reagir. 

Não consegui dormir direito aquela noite. Eu estava bastante nervosa de ter que falar sobre isso com a minha família. Nunca concordei com a ideia de alguém ter que se assumir, pois nossos gostos e escolhas não dizem respeito a ninguém. Mas boa parte da sociedade estava aí justamente para mostrar o contrário, destilando preconceito de graça.

...

O relógio marcava oito horas quando decidi enfim levantar. Deixei Day dormindo e fui fazer um café.
Pego meu celular e vejo uma mensagem da minha mãe no Instagram que ela havia enviado há poucos minutos.

“Filha, como você está? Não sei como começar essa conversa, mas acho que preciso ir direto ao ponto. Por que todos estão tratando você e a Dayane como um casal e por que você não desmente?”

Sinto minhas mãos trêmulas, a boca fica seca e o coração acelerado. Viro para o lado e vejo Day me olhando enquanto fazia um coque no cabelo.

- Tudo bem, amor? Você tá branca.

Não disse nada, apenas entreguei meu celular para que ela lesse a mensagem.

- Fudeu, Caroline. - ela coloca a mão na boca - E agora?

- Agora não tem jeito. Chegou a hora de falar, amor. Me dá aqui o celular, quero me livrar logo desse peso. Vou responder e depois converso pessoalmente com ela.

Day me entrega o celular e fica na expectativa, aguardando eu responder.
Respiro um pouco e finalmente respondo, por um lado, tomar essa decisão estava me deixando um pouco mais leve. Não sei como ela vai reagir ou se vai me aceitar, mas como a Day disse, é tudo um processo e havia chegado a hora de enfrentar o meu.

“Mãe, tá tudo bem sim. E a senhora? Então… Eu e a Day estamos juntas. Eu planejava conversar com vocês… Desculpa você saber dessa forma."

Assim que apertei o enter, todo o ar que eu estava segurando foi liberado. Não demorou muito ela visualizou e começou a digitar.

Day colocou um copo com água na bancada e puxou um banco para que eu pudesse me sentar.

“Caroline, meu Deus do céu, filha! Por que isso? Você tá falando sério? Me diz que isso não é verdade. Foi pra isso que você saiu de casa? Para morar com uma garota? Já pensou quando toda a família souber, a vergonha que vai ser Caroline? Você mentiu dizendo que estava indo pela sua carreira.” 

“Mãe, aconteceu e não tem nada de errado nisso. Eu amo a Day. Por favor, entenda isso. Não me importo com o que os outros pensam, desde que você, o pai e meus irmãos me aceitem como eu sou. Eu não menti! Estou aqui sim pela minha carreira.” - Uma lágrima solitária escorreu pelo meu rosto enquanto eu digitava. Senti minha namorada me abraçar em apoio.

“Eu preciso de um tempo para digerir isso, Caroline. Você sabe que isso não tá certo. Você tá confusa, filha, é uma fase. Eu vou rezar porque tenho certeza que isso vai passar. Me dá um tempo pra pensar. Eu quero que você volte o quanto antes pra gente resolver isso. Estou muito magoada com você, sinceramente. Eu não esperava isso. Eu não tive uma filha para ser assim.”

Senti meu rosto queimar de raiva e tristeza ao mesmo tempo.

“Eu te dou esse tempo, mas não é uma fase e não há nada que você possa fazer. Eu sou assim e não vou me esconder mais, você goste ou não.”

Ela não respondeu mais e depois da conversa eu pude chorar copiosamente. Eu não imaginava que doeria tanto ler tudo aquilo da minha própria mãe que sempre foi tão amiga e confidente quando precisei.

Meu pai liga em seguida, esbaforido e falando mais coisas para eu desabar por completo. Day puxa o celular da minha mão e diz para ele que eu não estou bem, mas que retornaria a ligação depois. Ouço ele gritar com a Day, enquanto ela continua pedindo para ele manter a calma e então ele desliga o celular na cara dela.

Olho para ela com os olhos inchados, sem ter a mínima noção do que fazer ou falar.

- Vem cá, amor. - ela me conduz até o sofá, fazendo com que eu deite sobre ela.

Escondo meu rosto em seu pescoço e choro, colocando tudo que eu estava sentindo para fora. Ela acaricia meus cabelos e permanece em silêncio.
Naquele instante, o abraço dela havia se tornado meu porto seguro e eu pude ir me acalmando com o passar do tempo.

- Quer água?

Respondo que sim com a cabeça e ela vai até a bancada pegar o copo que havia deixado lá.

Meu celular que estava sobre a mesinha de centro começa a vibrar. Permaneço imóvel olhando fixamente para ele.

- Atende pra mim. - peço assim que Day me entrega o copo com água.

- É o Rafa perguntando como você tá.

- Pode responder. Depois eu falo com ele.

O dia foi bastante silencioso. Day fez o almoço e insistiu muito para eu comer alguma coisa. Eu estava sem ânimo para nada e confesso que se ela não estivesse ali, não sei o que seria de mim. Ela me ajudou no banho, fez brigadeiro, colocou minha série favorita e fez cafuné em mim, mesmo quando seu braço já estava doendo.

Levanto do colo dela e a beijo, fazendo carinho em seu rosto.

- Obrigada, amor. Obrigada por tudo isso.

- Não é nada, baby. Tudo isso vai passar e as coisas vão melhorar. Só dá tempo ao tempo. Ok?

Assenti com um sorriso de leve.