Capítulo 29

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CAROL

Franzo o cenho com a claridade que escapa pela janela e vem em direção aos meus olhos. Demoro um pouco até assimilar que o barulho estridente que ecoa pelo quarto é do meu celular e me viro para alcançá-lo na mesinha ao lado. Cinco chamadas não atendidas e quando deslizo a barra de notificações, várias mensagens no whatsapp. What the fuck? Dayane aprontou alguma, certeza.

Me recordo de tudo o que ouvi durante a ligação na madrugada, gemidos, a voz abafada da minha namorada, Isa falando em banho… Minha vontade é matar aquela filha da puta sonsa. Desde o início eu percebi que ela se insinuava para ela, só a Dayane que não enxerga isso ou finge que não. Fecho as mãos em punho só de pensar na situação que estamos. Estou longe, dois meses sem vê-la, ela está carente, quer atenção e tem uma vadia louca no cangote dela. Por quanto tempo viveremos assim? Afinal, o amor resiste mesmo a distância?
Eu devia sentir raiva da Dayane depois dessa madrugada, mas não consigo. Ela nunca me deu motivos para desconfiar e eu só quero poder estar lá perto dela. A saudade é mais forte do que o meu orgulho.

Levanto atordoada pelos sentimentos ruins que me atingem logo cedo, tomo minha ducha e finalmente retorno para ela.

Ela atende, mas eu não falo nada.

- Carol? Amor?

- Bom dia, Day.

- Bom dia… É… achei que você não queria me atender.

- Bom, me diz você se eu tenho motivos pra isso.

- Claro que não, amor. Não aconteceu nada, juro pra você. Eu não sou assim… - engole em seco - do tipo que trai.

Sinto remorso por ter insinuado isso, mas o pedido de desculpa fica entalado na garganta.

- Tudo bem, amor - suspiro - confio em você. Só toma cuidado nessas saídas.

- Pode deixar, baby. Geralmente eu nem tenho saído mesmo… Não é a mesma coisa sem você.

Meu rosto cora e então não me sinto mais ameaçada pela presença de Isa perto dela.

- Sabe, eu tava pensando… Já que você não consegue vir pra cá, talvez eu possa ir no fim de semana. Eu só preciso arrumar um lugar pra ficar.

- Ai amor, jura? - meu tom de voz muda instantaneamente, agora pareço uma adolescente apaixonada - Isso eu consigo resolver, você pode ficar na casa da Bia.

- Então fala com ela e se ela topar, eu vou. Já tenho a grana da passagem.

...contando as horas pra gente matar a saudade (Desculpa, a autora perdeu o foco aqui).

Me despeço dela e desço para tomar meu café. Encontro Rafa na cozinha conversando com a minha mãe enquanto ela lava a louça.

- Bom diaaa! - Digo sorridente para o Rafa, pois o tratamento com a minha mãe ainda estava meio tenso.

- Quanta felicidade logo cedo, Ca. - ele estranha.

- Sim, você tem razão. É muita felicidade e ninguém vai estragar isso, olho de relance para a minha mãe.

- Bom te ver assim, filha. Finalmente as coisas estão se ajustando. Sabia que você iria conseguir se adaptar aqui novamente.

- Com certeza, mãe. -  respondo ironicamente passando a manteiga no pão.

Rafa chuta minha perna por baixo da mesa e eu resmungo fazendo careta para ele.

- O que aconteceu? - ele articula a boca de forma que eu tente fazer a leitura labial.

- A Day - respondo da mesma forma.

Ele arregala os olhos e faz uma expressão de quem não tá entendendo nada.

- Depois te conto -  falo em voz baixa

Após o café, me arrumo e vou na casa da Bia. Claro que ela aceitou receber a Day no fim de semana, a Bia é minha melhor amiga e sabe todo o perrengue que tenho passado desde que minha família descobriu o namoro.

Tudo estava resolvido e eu era só felicidade andando pela rua na volta pra casa.

- Carol?

Ao olhar para trás, abro a boca surpresa.

- Nando? - minha boca se abre num sorriso. Ele se aproxima mais e nos abraçamos.

O Fernando foi meu primeiro namorado quando eu achava que era hétero. Só que antes disso, ele foi também meu melhor amigo, crescemos e estudamos juntos até o início do ensino médio. Depois ele mudou de escola e perdemos o contato. Nossas famílias eram bem próximas e por um tempo até acharam que ia dar casamento, à propósito, minha mãe o adora. 

- Tá perdida aqui, cenourinha?

- Não. Você que tá. -  Sorrio ao constatar que depois de anos ele ainda me chama pelo apelido.

- Bem, eu tô só de passagem. Tô morando em São Paulo, mas vim visitar meus avós.

- Nossa quanta coincidência! A minha nam… Quer dizer, eu também morei um tempinho lá. Mas agora voltei pra cá. - meu entusiasmo vai embora, mas tento não demonstrar muito.

- Você mudou muito. - fala tirando os óculos escuros. 

- Hummm. Você também.

- Vamos sair a noite, sei lá, colocar o papo em dia.

- É uma boa. Vamos sim.

- Beleza, eu passo na sua casa às 20h então. 

- Ok. Minha mãe vai surtar quando te ver.

- Pensei a mesma coisa.

Me despeço dele e vou pra casa.
Minha relação com o Nando sempre foi mais amizade do que qualquer outra coisa. Éramos muito novos e a decisão de namorar foi uma atitude impensada nossa. Tudo começou quando a gente só estava curioso pra descobrir como era o primeiro beijo e daí em diante acabamos namorando por conveniência.
Mas fiquei feliz de poder reencontrá-lo e de saber que não nos tornamos estranhos devido a distância.

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