Closer

Capítulo 26

CAROL

Day me ajudou a arrumar tudo e fizemos o possível para não deixar no ar um clima de despedida... Não era afinal.

Me acomodo na poltrona e observo a paisagem se modificando conforme o itinerário do ônibus executivo em direção a Curitiba. Fecho os olhos para tornar mais vívida a lembrança dos meus últimos instantes de felicidade.
Nossos corpos se procurando na cama sem pressa. O peso dela sobre mim indo e vindo, a respiração suave enquanto chupa o lóbulo da minha orelha e se perde em meu pescoço.
Nossas mãos entrelaçadas enquanto chegamos ao ápice juntas.

Meu corpo estava gravado com as suas digitais e eu ainda podia sentir o perfume dela exalando ao meu redor.
Sinto um nó na garganta ao constatar que em breve essas sensações seriam apagadas lentamente até restar somente a saudade.

Durante a viagem me esforço para planejar um meio de continuar mantendo o nosso relacionamento embora houvesse quase 800km entre nós. Eu sabia que não seria fácil, mas eu preferia enfrentar isso a ter que abrir mão da minha própria felicidade por conta do capricho da minha mãe. Embora seu problema de saúde fosse algo realmente sério, usar isso para me ameaçar foi uma jogada suja, mas que no momento eu deveria acatar, afinal eu também não estava disposta a pagar para ver o que aconteceria se eu decidisse não aceitar o que ela me impôs.

Algo dentro de mim dizia que com o tempo tudo iria finalmente se acertar.

Encontro Rafa no estacionamento da rodoviária e seguimos em direção a nossa casa. Na verdade esse termo já não se encaixava mais desde que resolvi morar com a Day, lá sim era definitivamente o nosso lar.

Chegamos em casa e estão reunidos à mesa meus pais e Renan.
Lanço um boa noite entre dentes e vou direto para o quarto.

- Filha, não vai jantar? - meu pai surge na porta entreaberta.

- Não, pai. Eu fiz um lanche durante a viagem.

Ele então resolve entrar e senta na cama ao meu lado.

- Então... Essa menina...

- Dayane - o interrompo

Ele se recompõe limpando a garganta.

- Sim, a Dayane... Você gosta mesmo dela né?

- Sim. - meu tom é firme. Fico na defensiva, me preparando caso ele comece o mesmo discurso preconceituoso da minha mãe.

- Sabe, filha. Essas coisas são um pouco mais complicadas para mim e sua mãe. Dá um tempo pra ela processar tudo. Enfim, eu só queria te agradecer por decidir ficar nesse momento tão delicado, mesmo sendo contra a sua vontade.

- E você? Não vai me dizer que isso é errado também e que é vergonhoso para a família. - olho para ele séria, fazendo uma força descomunal para não cair aos prantos ao reproduzir todas as palavras que ouvi da minha mãe.

- Não, meu amor. Desde que você esteja feliz, isso basta para mim.

Seu semblante é sereno e seus olhos demonstram total compreensão. Uma lágrima teimosa escorre no meu rosto, fazendo com que outras escorram em seguida.
Sou surpreendida pelo abraço de um pai amoroso e então toda a fortaleza que construí a minha volta desmorona enquanto choro copiosamente.

Eu não me sentia mais tão sozinha ali, eu tinha o apoio do meu irmão e do meu pai, fazendo com que eu criasse mais ânimo para seguir em frente.