Capítulo 24

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CAROL 

Curitiba

- Hey, Ca. Como você tá? - Rafa me cumprimenta com um abraço.

- Acho que bem.

- Vem, vamos entrar.

Entro e ao chegar na sala me deparo com minha mãe.

- Oi, mãe. - tento esboçar um sorriso que não é correspondido.

- Oi, vamos conversar lá no seu quarto. 

- Mãe, a Ca acabou de chegar. Dá um tempo pra ela...

- Deixa, Rafa. Tudo bem. - interrompo

Subimos até o meu quarto, estou sentada na cama enquanto ela permanece encostada na porta, olhando pra mim com os braços cruzados.

- E então, Caroline. Me explica o que tá havendo. 

- É o que eu te falei, mãe. Eu e a Day estamos juntas. Nada mudou. - abaixo a cabeça.

- Caroline isso não tá certo. Você não tem vergonha de falar isso pra mim não? Escuta aqui - ela aumenta o tom de voz - você vai terminar esse namoro se é que eu posso chamar isso dessa forma e vai voltar a morar aqui.

Levanto e vou até ela esbravejando conforme cuspo as palavras da minha boca.

- Mãe, eu sinto muito, mas isso não vai acontecer. Eu vou começar a minha carreira lá e vou continuar com a minha namorada. ENTENDA DE UMA VEZ POR TODAS, EU SOU LÉSBICA SIM E EU AMO A DAYANE.

Ela espalma a mão atingindo meu rosto em cheio. Sinto meu rosto arder e na mesma hora meu olhos se enchem de lágrimas.

- Qual o problema de você aceitar isso? Por que você acha que tá errado? Eu vim aqui conversar com você e é assim que você me recebe?
Eu vou embora agora!

- VO-CÊ-NÃO-VAI, CAROLINE OU ENTÃO… - ela coloca a mão no peito, desmaiando em seguida.

Rafa entra no quarto e começa a socorrê-la. Permaneço imóvel, tento ajudar, mas meu corpo não reage.

- Carol, chama a ambulância! - volto a reagir com as palavras do meu irmão. 

 …

Estávamos no corredor da ala de emergência. Meu pai e Renan chegam.

- O que você fez com ela, Carol? - Renan me sacode pelos ombros.

- Nada. Eu não fiz nada. - começo a chorar.

- Pega leve com ela, cara. A culpa não foi dela. - Rafa interfere. 

Meu pai me abraça em silêncio.

- Responsáveis da paciente Roseli Biazin.

- Somos nós, Dr. - respondemos juntos.

- Como ela está? - Rafa pergunta.

- Bem, o quadro dela agora está estável, mas requer muito cuidado. Ela passou por uma situação de muito estresse e teve princípio de infarto. 
Se ocorrer de novo, infelizmente pode ser fatal.
Sugiro que todos colaborem para que ela permaneça num ambiente calmo e mantenha os cuidados necessários de alimentação e repouso. Vocês podem ir vê-la agora.

Permaneci na sala de espera, enquanto todos seguiam em direção ao quarto.

- Ca, você não vem?

- Eu não sei, Rafa. E se ela não quiser me ver? E se eu causar… - minha voz fica embargada só de pensar que eu quase causei a morte da minha própria mãe.

- Olha só, não foi sua culpa. Eu vou lá dentro, vejo como ela está e já volto. Ok? Me espera aqui.

Poucos minutos depois eles saem do quarto. Renan me encara com desaprovação e meu pai um pouco confuso sem querer tomar partido na situação.

- Ela pediu pra você entrar. - Rafa fala tocando meu ombro.

Eu estava cansada da viagem, esgotada emocionalmente e não tive um minuto de paz desde que cheguei. Minha cabeça latejava e no meio da confusão eu nem pude atender as chamadas da minha namorada. 
Respirei fundo, mentalizando que eu conseguiria ao menos caminhar até lá sem sentir que o chão estava se desfazendo embaixo de mim.

Entro no quarto, fechando a porta.
Ela me encara, indicando para que eu sente ao lado da cama.
Obedeço, mantendo a cabeça baixa.
Ela coloca a mão sobre a minha e suas palavras me golpeiam inteira.

- Filha, me diz que você vai me ouvir. Porque se você voltar pra São Paulo e insistir nessa história de namorar outra garota, eu não vou aguentar.

- Mãe, não me pede isso. - as lágrimas escorrem fazendo com que minha dor de cabeça fique mais intensa.

Fecho os olhos e penso na noite passada. Um flashback toma conta da minha memória. 
"Ei, promete que volta?"
Ouço a voz da Day ecoando na minha cabeça. 

- Eu vou dar um jeito, mãe. Me deixa pensar no que fazer, por favor!

Por orientação médica, minha mãe permaneceu em observação no hospital e só teria alta no dia seguinte.

Estou sentada na minha cama com o rosto apoiado sobre os joelhos e uma decisão a tomar.

- Posso entrar? - Rafa aparece com um prato de comida.

- Não vou jantar, estou sem fome.

Conto para ele sobre o pedido da minha mãe, ele obviamente não concorda com a atitude dela, mas também não arrisca a me encorajar para seguir em frente. Não quando ele sabe que a saúde dela agora depende exclusivamente do que eu decidisse de hoje em diante.

- Eu preciso ficar sozinha, Rafa. Preciso ao menos falar com a Day e dizer que cheguei bem.

- Tá certo. Qualquer coisa me chama. - ele se retira levando consigo o prato.

...

- Meu Deus, amor. Eu já estava louca de preocupação! Mandei mensagem até pro Rafa e ele não visualizou. O que houve?

Pela agitação na voz, Day está andando impaciente pelo apartamento.

- Desculpa, amor. Eu cheguei bem. Mas aconteceu um problema aqui.

- Como assim?

- A minha mãe passou mal e tivemos que levar ela pro hospital. Chegamos agora pouco.

- Nossa! E ela tá bem agora?

- Tá.

Houve um breve silêncio

- Carol, não tá tudo bem né? Vocês chegaram a conversar?

- Sim… Você sabe, amor, ela continua relutando, mas depois ela se acostuma. - tento disfarçar. 

- Tá bom então, princesa. Vai descansar, vai. Amanhã cê volta?

- Volto, mas não sei que horas. Ela vai ter alta amanhã.

- Tá, a gente se fala amanhã então. Me avisa que vou te buscar na rodoviária.

- Tá bom… Day? - chamo antes que ela desligue. 

- Oi.

- Eu te amo. - sinto as lágrimas descendo quente pelo meu rosto, mas mantenho a voz firme para que ela não perceba. 

- Ah eu também te amo, baby. Volta logo! - ela fala com uma vozinha manhosa e meu coração dói só de pensar em não tê-la mais na minha vida.



>> Meus 3 leitores estão quietos. Será se eu tô flopando gente?

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