Capítulo 25

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CAROL

Ajudo minha mãe a se instalar no quarto, colocando algumas almofadas para que ela fique mais confortável na cama. Ela está com uma aparência debilitada, o que dificulta ignorar seu pedido de voltar a morar em Curitiba.

- Mãe, já conversamos sobre isso. Eu preciso conversar com a Day pessoalmente e além disso todas as minhas roupas estão lá. Pensa no quão difícil está sendo eu tomar essa decisão apenas em prol da sua saúde enquanto eu deixo minha própria felicidade de lado.

- Essa garota mexeu com a sua cabeça, parece que fez lavagem cerebral em você. Mas isso vai passar, filha. Você está confusa.

- Vou para o meu quarto me arrumar. - dou as costas e saio antes que eu perca a cabeça e discuta com ela de novo.

Me apronto e entro no carro onde Rafa me aguardava para dar uma carona.

- Então você vai mesmo fazer isso? Acha que vai dar certo?

- Tem que dar, Rafa. É a única decisão que me sinto capaz de tomar agora sem afetar muito os dois lados envolvidos.

Ele suspira e faz um carinho em minha cabeça.

- Ok. Estou contigo nessa.

- Obrigada, mano! - seguro suas mãos e dou um beijo.

Assim que chego na rodoviária encontro uma Day sorridente e vou ao seu encontro andando a passos largos, pronta para lhe dar um abraço.

- Ué, cadê sua mala amor?

- Deixei lá. - Disfarço mexendo no cabelo - Vamos, eu quero chegar logo em casa.

Ela sorri e entrelaça nossas mãos enquanto pedimos um uber.

Ao chegarmos, vou direto para o banho.
Ligo o chuveiro e deixo a água escorrer pelo meu corpo. Fechos os olhos e faço uma força descomunal para me manter em pé e continuar respirando. Eu não sei como falar com a Day, não sei como ela vai reagir.
Fecho as mãos e soco de leve a parede, praguejando em voz baixa, por tudo que estava acontecendo.
Demoro mais 15 minutos no banheiro tentando criar coragem.

Saio e a encontro na cama distraída ao celular.

- Day, a gente precisa conversar. - sento na ponta da cama, de frente para ela.

Sua expressão muda de serena para preocupada, enquanto trava o celular e me encara para prestar atenção no que tenho a dizer.

Meus olhos já estão marejados, mas preciso continuar.

- Eu não sei como começar a falar isso - minha voz embarga e eu começo a chorar - Droga! - limpo os olhos e me recomponho.

Ela coloca a mão sobre a minha, como se já prevesse o que iria acontecer

- Bem, você sabe que a minha mãe não apoia a gente. Eu fui lá pra conversar com ela, mas discutimos feio e ela teve um princípio de infarto.

Day abre a boca incrédula.

- Ela quase morreu e o médico disse que se ela passar por uma situação assim novamente ela pode não resistir -  começo a soluçar aos prantos - E ela me pediu pra ficar lá e terminar com você, porque ela não aguentaria o fato de saber que sou lésbica, isso não entra na cabeça dela.

Day engole em seco tudo o que ouve, vejo seus olhos ficarem marejados e ela abaixa a cabeça para que eu não a veja chorando.

- Só que eu não posso fazer isso. Ao mesmo tempo que não quero ser responsável pela saúde dela, também não quero terminar com você. Então eu queria saber se você aceita continuar comigo, mesmo a distância… Até as coisas se acalmarem.

- Como isso pode dar certo, Carol? Você acha que ela não vai saber quando a gente combinar de se ver?
Meu bem, isso é loucura. Se der algo errado e ela descobrir pode ser pior.

- Não temos outra opção. Eu amo você, Day e se você quiser eu estou disposta a isso.

Ela fecha as mãos em punho, mantendo o olhar fixo sobre a cama.
Tento tirar o cabelo sobre seu rosto e sinto minha mão molhada.
Eu nunca a vi chorar antes. Day sempre teve fama de ser explosiva, de falar tudo o que pensava sem se abalar pela opinião alheia e vê-la assim tão exposta e fragilizada fazia doer até a minha alma.
Me aproximo dela e nosso abraço faz de nossos corpos um só recostado sobre a cabeceira da cama.
Nos aconchegamos em silêncio até que nossos corações se acalmem.

Eu, que ainda não havia conseguido dormir direito desde então, me sinto embalada pelo som da respiração dela. Estou cansada a ponto de meus olhos quase se fecharem, mas me recuso a descansar com medo de que as poucas horas que ainda temos juntas passem mais rápido.

- Vamos fazer dar certo então. - responde dando um beijo em minha testa.

Sinto um alívio imediato e deixo finalmente meu corpo descansar sobre o dela durante o tempo que nos resta.

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