Capítulo 38

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CAROL

Em Curitiba o céu costuma ficar encoberto a maior parte do ano e quando amanhecia ensolarado eu tinha o costume de tomar café em uma confeitaria a poucos metros de casa. Curiosamente Nando havia se lembrado disso e me convidou para um café hoje.
Está uma manhã agradável. Olho o movimento da rua pela vitrine enquanto tomo meu cappuccino.

- E então, Carol, o que tua mãe tem falado da gente?

- Nossa, ela tá eufórica. Sabe que ela te adora desde sempre, né. - coloco a xícara sobre a mesa novamente - É uma pena que ela não tenha tanta simpatia com a Day.

- Mas é normal, Carol. Até eu levei um susto quando você contou. Sabe, a gente se conhece há anos e eu nunca poderia imaginar que você é lésbica, agora imagina tua mãe!

- Preconceito nunca é normal, Nando.

- Eu sei, não foi o que eu quis dizer. Me expressei mal, desculpa! - ele coloca as mãos sobre a minha e começa acariciar - Vamos mudar de assunto. Lembra quando a gente deu o primeiro beijo?

- Acho que sim. - estranho a pergunta - O que tem?

- Foi ali naquela praça. - Ele aponta pela vitrine. - Daí você saiu correndo achando que tua mãe poderia estar vigiando a gente.

É claro que eu lembro, mas não gosto de falar disso porque não significou muito pra mim. No dia seguinte, quando contei para a Bia ela achou o máximo e decidiu espalhar pra toda escola, inclusive para a Camila. Lembro o quanto fiquei desconfortável quando a Camila veio me perguntar sobre o beijo e até me senti culpada. Agora, pensando bem, percebo que Camila foi a primeira garota que senti atração. Na época eu não fazia ideia do que isso significava.

- Carol?

- Oi, Nando… lembro sim. Pois é, eu jurava que a minha mãe estava escondida observando. - Sorrio e puxo minhas mãos, colocando-as longe dele.

- Já falei com o meu pai sobre a sua situação - ele muda rapidamente de assunto - Eu disse que você vai pra São Paulo, mas prefere morar sozinha e como seus pais não concordaram, pedi para ele não comentar sobre isso e apenas confirmar que você ficará conosco. 

- Hum… não quis comentar sobre eu morar com a minha namorada?

- Não foi por mal, Ca. Isso geraria mais perguntas e eu não poderia garantir que eles não comentassem com seus pais.

- Entendo. Mas enfim, só quero que tudo isso passe logo. Não vejo a hora de sair daqui.

- Nossa, minha companhia é tão ruim assim?

- Ah, bobo! Você entendeu. Vamos, minha mãe tá esperando você pra almoçar lá. Como ainda tá cedo, a gente pode pegar o violão e cantar um pouco. Vamos ver se você sabe compor mesmo. 

- Olha não é por nada não, mas eu levo jeito pra isso. Vamos então. 

Chegamos em casa e só encontro Renan na sala, pois minha mãe havia saído para comprar algumas coisas para o almoço. 
Deixo Nando na sala e vou até a cozinha pegar água para ele.
Estou distraída conversando com a Day no celular e quando viro dou de cara com Renan que estava atrás de mim.

- Que susto, Renan! - desvio dele e vou até a geladeira.

- Engraçado… Você e o Nando estão namorando, mas nunca vi vocês se beijarem.

Congelo por uns instantes. Será que ele conseguiu ver meu celular? Deve ter visto... Foi exatamente na hora que a Day mandou uma foto... Impossível não ver. Meu Deus! Preciso pensar em uma resposta. 

- Não fode, Renan! Quer que eu transe com ele na sua frente também?

- Nossa, Caroline. Credo! Claro que não. Só comentei… grossa!

- Aff! - Saio bufando e retorno para a sala.

Acho que ele não viu. Tomara!

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