Capítulo 48

609 62 13
                                    

CAROL

Estou há vinte minutos sentada na cadeira do estúdio, balançando para um lado e para outro e com olhar fixo na parede. O ensaio acabou e muita gente já havia ido para casa.

- Você tá muito quieta hoje. - Nando coloca as mãos na cadeira e gira de frente pra ele.

- Só espairecendo.

- Não, não está, Ca. Eu ainda te conheço tão bem quanto antes.

- Pelo visto acho que sim, não vou negar.

- O que você acha de ir lá pra casa passar o tempo? A gente conversa e joga videogame como nos velhos tempos.

- Ah, eu preciso me distrair mesmo! Tenho ficado muito na rotina aqui em São Paulo, é só casa e gravadora.

- Sei como é, nas primeiras semanas também me senti assim.

- Mas veja pelo lado positivo, você pelo menos tem a minha casa pra visitar. Desgruda um pouco da Day. - Ele faz uma voz engraçada ao pronunciar o nome dela e nós rimos.

- Vamos. Mas é bom que esses jogos sejam bons. 

- Você não está preparada para eles, Carol. Você vai retirar o que disse logo quando ver a interface deles.

Os pais do Nando estão viajando, o que nos deixou mais à vontade na casa.
Fizemos brigadeiro e jogamos praticamente todos os jogos que ele tinha. Aproveitei também e fiz uma chamada de vídeo para a minha mãe para ela ver que eu e o Nando estávamos "juntos".
 Ali ao lado dele eu me senti como antes, quando conversávamos sobre tudo e então eu contei o que tinha acontecido na festa.

- Espera, deixa eu ver se entendi - ele coça a cabeça - A Isa gosta da Day e elas além de serem amigas, trabalham juntas?

- É, resumidamente é isso.

- Bem que eu notei bastante intimidade entre elas.

As palavras dele me atingem em cheio.

- Carol, mas e a Day? Acha que ela dá mole pra Isa.

- Bom, eu nunca vi e ela jura que não. Na verdade ela diz que a Isa nunca falou que gostava dela, ela vive dizendo que o jeito da Isa é assim.

- Ai Carol, mas sei lá… E quando você tava em Curitiba? Rolou uns estresses assim?

- Uma vez só - digo abaixando a cabeça - eu liguei de madrugada pra Day e ela estava no apartamento da Isa. Elas tinham saído pra beber e a Isa acabou bebendo demais.

Nando abre a boca espantado.

- Mas o Vitão tava junto também - acrescento como se essa informação fosse amenizar a história.

- Bom, na minha humilde opinião essa Isa tem potencial pra ser a talarica da história. Mas assim… É só minha opinião. Você obviamente conhece a namorada que tem.

- Nossa, Nando, você ajudou muito agora! Obrigada por encher mais a minha cabeça - digo com ironia - Obrigada por me ouvir, mas eu confio na Day.

- Isso é o que importa! Menos mal então.

Olho para o relógio da parede e já são oito da noite.

- Puts, eu falei pra Day que chegaria às seis! - Pego o celular e vejo que está descarregado - Preciso ir Nando.

- Deixa que eu te levo.

- Não precisa, você já fez muito em me ouvir e fazer companhia hoje.

- Não foi nada. Aliás, apareça mais vezes. Vem, vou levar você e ponto.

...

Chegamos no prédio e ao sair do carro dou de cara com a Day chegando da rua.

Ela olha para mim e para o carro. Nando faz questão de acenar.

- Eu te liguei, estava preocupada - ela diz passando pelo portão e eu a acompanho.

- Meu celular descarregou e eu só percebi agora pouco.

Entramos no elevador junto com alguns vizinhos. Um silêncio constrangedor. Eu olhava pra Day e a Day olhava para o painel eletrônico, como se contasse mentalmente quantos andares faltavam

Chegamos na porta e só então me dou conta que ela está segurando um pacote da Starbucks.

- Deixa que eu abro - me adianto ao perceber que ela estava com dificuldade em pegar as chaves no bolso da calça. 

- Fui comprar café pra gente e o seu pão de queijo - diz deixando o pacote sobre a mesa.

- Obrigada, meu bem. Eu vou só tomar um banho rápido.

Ela não responde.

Saio do banho torcendo mentalmente para não ter nenhuma discussão.
Sento à mesa pegando meu café.

- Dia cheio hoje? - ela pergunta enquanto digita alguma coisa no celular.

- Não muito.

Apesar de saber que não devo satisfação de cada passo que dou, me sinto no dever de falar onde estava, afinal ela me ligou preocupada. 

- Depois que saí da gravadora eu fui pra casa do Nando… Err… a gente tava jogando e acabei passando da hora. 

Ela me fulmina com os olhos enquanto bebe o café.

- Ok. Só avisa. Eu fiquei preocupada achando que tinha acontecido alguma coisa… Sabe como é, você não tá acostumada a andar aqui. 

- Claro, amor. Foi mal. Dei mole de não ter visto o celular descarregar. Mas tá tudo certo, eu cheguei bem.

- Tudo bem - ela termina o café e levanta da mesa.

- Não vai querer o pão de queijo? - pergunto tentando amenizar o clima.

- Não… Eu trouxe pra você mesmo.

Day vai para o quarto, me deixando ali sozinha com um café, uma porção de pão de queijo e de culpa também.

Ela odeia o Nando. Mas  ao contrário do que eu esperava, ela não perguntou nada, não reclamou, não surtou.

Bom, era isso que eu queria, que não houvesse discussão. Então por que estou tão incomodada com atitude dela?

CloserOnde histórias criam vida. Descubra agora