Capítulo 34

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DAY

Resolvemos convidar o tal do Nando para o almoço. Aproveito que Carol está distraída pondo a mesa e interrogo Bia enquanto preparávamos uma salada.

- Hmm, então Bia… Você que conhece o ex da Carol… O que acha dessa história?

- Olha, Day. O Nando é gente boa. Nunca soube de nada que pudesse comprometer a moral dele. E o namoro dele com a Carol não foi bem um namoro. Na época eles eram amigos demais, viviam juntos e todo mundo achava que eram um casal. A Carol só deu o primeiro beijo nele por curiosidade e a partir daí começaram a se tratar como namorados.
Mas relaxa, era coisa boba de adolescente. Se ele está propondo isso para ajudá-la, porque sabe que ela tá infeliz aqui, então eu acredito.

Começo a sentir uma pontinha de alívio por ouvir tudo isso.
A campainha toca indicando que ele havia chegado. Carol atende e eu ajudo Bia a colocar a comida na mesa.

- Nando! - ela exclama toda sorridente.

Meu maxilar trinca quando vejo Carol pendurada nos ombros dele, envolvendo em um abraço.
Ele percebe e logo se retira do abraço, vindo nos cumprimentar.

- Bia - ele acena com a cabeça e ela retribui com um sorriso.

- E você é a famosa Day. - me estende a mão. 

Analiso de cima a baixo. É apenas simpático, não é bonito como achei que fosse. Devo admitir que Carol está em melhores braços agora. Um sorriso superior surge no canto dos meus lábios. Estendo a mão de volta.

- Olá, Fernando.

Todos estão entretidos conversando e saboreando o almoço, Carol e Bia estão rindo de alguma coisa que ele fala. 
Tem cara de bom moço, é educado e comunicativo, contudo ainda não me convence. Não posso evitar minha cara de ranço enquanto o observo.

- Né, amor?

Pisco os olhos e os três estão olhando pra mim. Porra, não prestei atenção. O que eles falaram?

- Hã? Não ouvi amor, desculpa.

- Tô falando de quando driblamos os seguranças e invadimos o camarim do Lulu Santos só pra você tirar uma foto com ele antes do The Voice ir ao ar.

- Ah sim! Foi loucura aquilo, mas acabou dando certo no final. - me esforço em parecer interessada na conversa.

Terminamos a sobremesa e fomos para a sala. Eu queria resolver logo para que ele fosse embora o mais rápido possível.

Bia optou por subir e nos dar mais privacidade, embora já soubesse do plano.
Ele está sentado no sofá à minha frente e Carol ao meu lado.

- E então, Nando. Como conheceu a Carol e quando começaram a namorar? - pergunto ajeitando minha postura no sofá, cruzando as pernas e juntando as mãos sobre o joelho, de forma imponente.

Era como se eu fosse a dona de algo entrevistando um estagiário nervoso.
Pergunto para me certificar de que a resposta dele coincida com a da Bia. Se ele tá achando que vai se passar como namorado da Carol assim fácil, está enganado.

Para a minha surpresa, o moleque responde exatamente igual. Então realmente tiveram só um namorico, não chegaram a se amar, nem nada. Mas havia um elo de amizade por terem praticamente crescido juntos.

Carol repousa a mão no meu ombro e acaricia de leve para que eu relaxe, certamente percebeu que eu estava tentando intimidá-lo.

Conversa vai, conversa vem e resolvo não alongar mais o assunto.

- Bem, preciso falar que sua proposta é no mínimo estranha. Mas gostaria de ouvir os detalhes antes de concordar com isso. - Falo alisando a coxa de Carol, sem desviar minha atenção dele.

Os olhos de Nando recaem para o movimento da minha minha mão.
Eu queria poder ler a mente dele e descobrir como se sente sabendo que Carol agora prefere um toque feminino, o meu toque no caso. Um sorriso perverso salta em meus lábios quando ele percebe que eu o flagrei agindo como um voyeur nesse exato momento.
Ele se recompõe pigarreando um pouco.

- Day, antes de mais nada quero que saiba que respeito o relacionamento de vocês. Sim, a proposta é estranha, mas é apenas uma tentativa de unir o útil ao agradável. Carol respira música, eu a ouço cantar desde criança e é bem injusto ela se privar desse sonho por… - ele engasga um pouco e parece procurar as palavras certas.

- É injusto ela se privar desse sonho por ter se assumido lésbica e estar namorando comigo? - completo.

Carol que até então continua como uma espectadora na sala, respira audivelmente demonstrando nervosismo.

- Não, Day, não foi o que eu quis dizer. - ele tenta reformular a frase - Quis dizer que pode demorar um pouco para a tia Rose aceitar isso e não é justo com a Carolzinha.

Reviro os olhos com a forma que ele menciona minha sogra e minha namorada. Mesmo ela não aceitando esse namoro e me odiando, continua sendo minha sogra, não dele. Fecho uma mão em punho sobre o sofá.

- Como você sabe, eu sou compositor e meu pai é sócio de uma gravadora, pode ajudar a Carol. Vai ser muito mais fácil a Carol voltar pra lá comigo, pois nossas famílias se conhecem de longa data.
Fique tranquila, Day. Assim que chegarmos em São Paulo a Carol vai direto pra sua casa e pedirei aos meus pais para não comentarem nada com os pais dela.

Devo admitir que ouvindo a proposta da forma que ele fala, parece que vai dar super certo.

- Está bem, que isso não demore muito. 

- Amor, obrigada por aceitar! - Carol dá um gritinho e me beija.

Nando se remexe no sofá incomodado.

- Não vai demorar, Day. Preciso voltar para São Paulo daqui há um mês. Até lá vou aparecer mais vezes na casa da Carol e levá-la para sair, para que não fique muito estranho quando contarmos que estamos namorando.

Trinco o maxilar novamente e lanço um olhar mortal para ele.

- Você vai levá-la para sair, mas o destino será aqui na casa da Bia. Não precisam ter um encontro de verdade.

- Amor, é modo de falar. Tudo bem, eu fico aqui na Bia.

- Bem, estamos entendidos então? Preciso ir agora.

- Sim, estamos.

Nos despedimos e ele vai embora.
Carol não consegue conter o sorriso, mas mantenho minha cara fechada.

- Amor, tem que confiar em mim.

- Em você eu confio, não confio nele.

Ela me puxa pela gola da blusa e cola nossas bocas.

- Em breve eu e você estaremos juntinhas, todos os dias, todas as noites. - sua voz rouca vibra dentro da minha enquanto chupa e mordisca meus lábios.

- Você me deixa muito trouxa, Caroline. - dou um longo suspiro, convicta de que Caroline me faz perder toda a pose de bandida má.

Ela sorri, fazendo planos para o futuro que nos aguarda, tagarelando sem parar.

Ouço com atenção tudo que a minha namorada fala, mas não pude conter uma sensação estranha  que insistia em permanecer dentro de mim.

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