Capítulo 40

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CAROL

Um dia antes da viagem

Finalmente chegou o dia. Hoje o Nando vem jantar aqui e vai falar com os meus pais. Obviamente eu vou fingir que não sei de nada.

Me arrumei um pouquinho, afinal é uma noite especial. Dou uma conferida no espelho e ouço minha mãe gritar da sala anunciando que ele havia chegado. 

Desço as escadas e percebo seu olhar indiscreto para as minhas pernas. Estou usando uma saia jeans que ficou esquecida na gaveta, então está um pouquinho curta.
À medida que me aproximo, ele logo disfarça o olhar. O cumprimento como de costume, apenas encostando nossas bochechas formalmente, nem chego a beijar. Mas dessa vez ele reage diferente, apoiando a mão na minha cintura e depositando um beijo no canto dos meus lábios.

Todos estavam na sala, mas não perto o suficiente para nos ouvirem.

- O que foi isso? - falo entre dentes, desencostando meu corpo do dele rapidamente.

- Confia em mim. - ele sussura com ironia. 

- Vem Nando, você chegou na hora certa. Já estamos pondo a mesa. - minha mãe anuncia.

O jantar estava bom, mas o Nando estava exagerando na atuação, sempre arrumando motivos para beijar meu rosto ou ficar segurando minha mão. Uma situação chata e desconfortável que eu não podia me livrar ali na presença de todos.

Finjo que estou retribuindo o carinho  e me aproximo dele, falando baixo em seu ouvido.

- Acho que está exagerando um pouco, Nando. Não precisa disso, até mesmo porque minha família sabe que eu não sou muito de demonstrar afeto.

- Foi mal. É que você tá tão bonita! Lembrei de quando éramos namorados.

Rafa começa a tossir na mesa, desviando a atenção de todos para ele e eu aproveito para me afastar do Nando.

- Nossa! Me engasguei aqui. Desculpem.

- Come devagar filho! - minha mãe repreende.

Olho para ele e sussurro um obrigada por ele ter me salvado. Sim, meu querido irmão e eu temos uma conexão que nem dá para explicar. Ele havia percebido que eu estava desconfortável perto do Nando.

Jantamos e na hora da sobremesa Nando decide se pronunciar.

- Então família… Gostaria de um minuto da atenção de todos. - ele se pronuncia ao levantar da mesa.

Todos arregalam os olhos e nos encaram. Coro diante da situação. Eu não havia imaginado esse momento enquanto repassava o plano. Quer dizer, é claro, que pensamos no discurso, mas esqueci que haveria esses olhares.

Meu pai ajeita a gola da camisa, provavelmente nervoso imaginando se tratar de um pedido de noivado.
Renan observa descrente a cena, como um espectador na mesa de jantar. Rafa tentava demonstrar surpresa e minha mãe continuou em pé segurando a fôrma de pudim.

- É melhor a sra. se sentar. - ele fala.

Ah pronto! Pela cara dela, deve achar que estou grávida agora.
Vamos logo com isso Nando! Imploro mentalmente.

Minha mãe senta segurando o crucifixo que estava pendurado no pescoço.

- Bom, como vocês já sabem, eu e Carolzinha não apenas decidimos reatar nosso namoro, que começou na época da escola, como também decidimos pensar no nosso futuro.

Ele olha para mim e minha garganta seca de tanto nervosismo. Bebo praticamente toda a água do copo de uma vez só. 

- Continuando… vocês sabem que estou aqui de férias, mas estou retornando para São Paulo amanhã. Eu tenho meu trabalho lá como compositor, meu pai investiu muito para que eu chegasse onde estou hoje e gostaria que a minha namorada tivesse a mesma oportunidade.
Eu gostaria de saber se vocês apoiam a Carol a viajar para São Paulo comigo e poder conquistar o sonho dela, que eu acompanho desde criança.

- Nando, é muita bondade da sua parte. Mas, São Paulo? Não sei, ela já esteve lá e não deu certo.

Abaixo a cabeça para não demonstrar minha raiva.

- Sim, ela esteve lá. Mas digamos que as escolhas que ela fez não foram boas. Dessa vez é diferente, eu vou cuidar dela pessoalmente. Carol ficará lá em casa, meus pais fazem questão.
Preciso falar também que meu pai é sócio de uma gravadora e conseguiu uma entrevista para ela. Já está quase certo dela assinar o contrato.

- Nando, isso é sério? - minha voz sai mais eufórica do que eu pretendia. 
Essa parte é realmente uma surpresa para mim.

- Sim, meu amor. Você finalmente vai poder compor e gravar suas músicas.

Começo a enxugar as lágrimas que escorriam do meu rosto. 

- E aí? O que me dizem?

Minha mãe parecia processar toda a informação. Tenho quase certeza que na cabeça dela havia uma única pessoa impedindo que ela aceitasse: Day.

- É isso que você quer, filha?

- Sim, pai.

- Não, ela não pode. - Minha mãe se levanta da mesa e todos olham assustados para ela.

- Filha, você em São Paulo de novo… Não sei, estou com uma sensação ruim.

- Rose, por favor! Deixa a menina viver!

- É mãe. Ela mudou! Agora tá namorando o Nando. - Renan comenta.

Penso em falar mais alguma coisa para convencê-la a aceitar, mas a culpa não me permite. De repente bateu um medo dela descobrir que eu continuo com a Day. Meu Deus, eu não quero ser responsável por ela ter um segundo infarto, podendo ser fatal!
Engulo o pensamento em seco, fazendo força para uma lágrima não escorrer do meu rosto.

- Está bem! - Ela responde quebrando o silêncio. - Espero que você coloque sua carreira realmente em primeiro lugar e fique longe de certas pessoas.

- Sim, mãe.

- Pode deixar que vou ficar de olho nela. - Nando responde passando um braço em volta do meu pescoço - Minha mãe ligará daqui a pouco para conversar com a senhora. Pode ter certeza que ela cuidará da Carol como se fosse filha.

- Fico mais aliviada, Nando. Só tenho a agradecer por vocês dois terem voltado.

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