Capítulo 54

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CAROL

Estou concentrada na letra de uma música quando escuto um barulho de vidro sendo arremessado. Vou até a porta e percebo que o barulho vem da sala do Nando.

- QUEM ELA PENSA QUE É? AAAHH VAI PAGAR CARO POR ISSO!!!

Ouço mais barulhos de coisas sendo jogadas ao chão e resolvo bater na porta.

- Nando? Tá tudo bem?

Seguro a maçaneta e percebo que não está trancada. Abro devagar e o encontro com as mãos apoiadas na mesa.
A sala está toda revirada, papéis e objetos que estavam na mesa foram espalhados no chão e também o copo que eu ouvi ser arremessado.

- É só um problema que aconteceu, mas já estou resolvendo.

As mãos dele estão tremendo, não consigo identificar se é medo ou raiva

- Me fala o que é. Pelo jeito que está a sala, não parece algo fácil de resolver.

- Mas eu vou resolver, Carol. Eu consigo tudo que eu quero - ele se aproxima de mim deixando o rosto bem perto do meu - Tudo! Entendeu?

Estremeço um pouco com o olhar que ele lança para mim, eu nunca vi o Nando tão transtornado. Sinto um leve odor de álcool exalando de sua boca.

- Você andou bebendo a essa hora? - Pergunto me afastando dele, mas ele segura em meus pulsos.
Seu rosto continua muito perto e os olhos fixos na minha boca.

- Você tá me machucando! - Solto um gemido de dor.

Ele então parece sair do transe e me solta.

- Desculpa, Ca. Eu não quis - Ele então me abraça e em seguida coloca as mãos no meu ombro - Eu não quis te machucar. Você acredita em mim?

Tento me afastar novamente, obtendo êxito dessa vez.

- Olha, eu não sei que problema é esse, mas você está bêbado e não é assim que as coisas vão se resolver. Vai pra casa se cuidar. Você precisa esfriar a cabeça pra não fazer nenhuma besteira. 

- Você pode ir comigo e me fazer companhia?

Seu tom de voz agora está mais calmo. 

- E-eu não sei… Nando - engulo em seco ainda assustada por ele ter se exaltado.

- Lembra das vezes em que eu fui o único que realmente ficava do seu lado quando você brigava com a Bia ou tinha outro problema em casa ou na escola?

Assinto com a cabeça. Ele estava apelando para o lado pessoal porque sabe que eu não serei capaz de virar as costas.

- Eu sinto falta disso… Sinto falta de quando eu podia ter você só pra mim.

De repente pânico se forma em meu semblante e preciso me apoiar na cadeira para minhas pernas não vacilarem.

- Nando, v-você não tá falando coisa com coisa. Você bebeu demais, é isso - sorrio nervosa - Eu vou chamar algum colega seu aqui pra te acompanhar até em casa, vai ser melhor.

Quando me dou conta Nando avança em cima de mim, me deixando presa entre ele e a parede. Sinto sua respiração muito próxima da minha e por um momento achei que ele iria me beijar, mas ele se afasta subitamente fechando os olhos como se estivesse repreendendo seu próprio comportamento.

- Eu posso ter bebido um pouco, mas tenho ciência do que estou falando. A verdade é que você mudou, Carol. Desde que a Day apareceu você mudou completamente.

- Isso não é verdade! - crio coragem e o enfrento - Como você pode falar isso? Você foi embora antes, eu nem sonhava em vir pra São Paulo, quanto mais conhecer a Day.

- Mas eu voltei pra te procurar, Carol... Eu voltei e não encontrei a mesma de antes.

Nando muda o tom de voz novamente assumindo uma postura defensiva.

- Olha, eu sei que o que a gente teve foi mais significativo pra mim do que pra você. Mas eu entendo que tudo aconteceu muito rápido, éramos adolescentes ainda e você pode ter ficado confusa por conta da nossa amizade. Mas eu sempre te amei, Carol.

Nando passa a mão pelo meu rosto, contornando a linha do meu maxilar e consigo pará-lo antes que seu polegar toque na minha boca.

- Nando, por favor! Olha o que você tá falando! A gente já tinha resolvido tudo isso. Eu não estou confusa e eu amo a Day.
Só vai pra casa e esquece essa conversa… E-eu não quero que isso prejudique a nossa amizade -  termino a frase falando baixinho lamentando a hipótese de que isso possa realmente acontecer.

Não tenho coragem de olhar nos olhos de Nando. Ele esteve na minha vida durante muitos anos, nos momentos bons e ruins e eu sou grata por tanta coisa! Devo a ele o que eu conquistei hoje, mas jamais poderei retribuir da forma que ele espera.
Eu estou magoando e perdendo quem um dia foi o meu melhor amigo, mas não posso fazer nada para evitar isso. Pensar nisso me assusta.

- Tudo bem então, Ca. Se você quer que eu vá embora agora, eu vou. Mas eu preciso te alertar que a Dayane não é quem você pensa que é.

Fico nervosa com as palavras dele. Uma sensação esquisita percorre todo o meu corpo e embrulha o meu estômago.

- Do que você tá falando? - Pergunto assustada.

- Ela não te merece, Carol. Mas não cabe a mim te fazer enxergar isso.
Só não esquece que eu vou estar sempre aqui pra você.

Nando sai da sala e me deixa com a mente a mil. Começo a puxar o ar tentando desesperadamente desfazer o nó na garganta.

Meu Deus, o que foi isso? - Falo sozinha na sala me apoiando sobre a parede. Permaneço alguns minutos na sala tentando firmar meus passos de volta para a outra sala.

Não consigo pensar em mais nada a não ser ir pra casa.
Quero abraçar a Day, por medo de que mais alguma coisa afaste a gente, mas também quero saber o motivo dele ter falado isso.

Não pode ser verdade. Nando está blefando porque está magoado e uma pessoa nesse estado é capaz de qualquer coisa.
Amanhã, quando ele estiver sóbrio, vou tirar essa história a limpo.

Certo. Não posso simplesmente chegar lá e descontar na Day algo que ele claramente inventou.

Engulo em seco, tentando acreditar nas minhas próprias palavras.

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