Capítulo 30

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CAROL

Desço as escadas no exato momento em que a campainha toca. Minha mãe que estava mais próxima abre a porta.

- Ah, meu Deus! Nando!

- Oi tia. Quanto tempo. - fala lhe entregando um buquê de flores.

- Sempre tão cavalheiro. Vem, entra.

- Já estamos de saída. - aviso em tom firme.

- Ah tudo bem, filha. Não vou atrapalhar vocês. - se vira para ele toda sorridente - Mas aparece depois, Nando, vou fazer aquela lasanha que você gosta.

- Claro, tia!

Minha mãe estava patética por achar que eu e o Nando estávamos saindo para um encontro. Reviro os olhos só de pensar que ela é capaz de desejar isso ao invés de aceitar meu namoro com a Day.

Fomos a uma lanchonete do bairro mesmo, afinal não era nenhum encontro só dois amigos reunidos para um bate papo.

- E então, Carolzinha, como anda a vida?

Meus olhos se estreitam um pouco enquanto esboço um sorriso levando meu copo aos lábios.

- Ah, tá indo… Sem grandes novidades. Estive tentando minha carreira na música em São Paulo, mas houve um imprevisto.

- Sério? Eu virei compositor e tenho trabalhado com alguns cantores.

Olho para ele incrédula. Era coincidência demais.

- Eu te vi no The Voice, Carol. Sério, você deveria voltar pra São Paulo e continuar tentando porque você tem uma voz incrível. Suponho que esse imprevisto tenha sido algo muito sério pra fazer você desistir assim.

- Pois é. - abaixo a cabeça e ele coloca as mãos sobre a minha, me fazendo encará-lo de novo.

- Sabe que somos amigos ainda, certo? Me conta o que houve. 

- Bem, é uma longa história. Eu terei que resumir pra você.

- Sou todo ouvidos.

- Eu conheci uma garota no The Voice, começamos a compor e cantar juntas e decidi me mudar pra casa dela em São Paulo porque lá tem mais opções na área, como você sabe. Mas além disso, nos apaixonamos e começamos a namorar, minha mãe descobriu, ficou p da vida, quase infartou e aqui estou eu tentando levar esse namoro à distância sem meus pais e meu irmão Renan saberem. Se eu voltar pra lá é capaz da minha mãe se estressar de novo, infartar e não resistir - dou um longo suspiro - foi isso que aconteceu.

Nando estava boquiaberto me olhando e segurando uma batata frita que eu não sabia se ele ía colocar na boca ou devolver ao prato.

- Você tem uma namorada? - a batata escorrega pelos seus dedos.

- Foi só isso que você ouviu? - levanto uma sobrancelha para ele.

- Uau! E você ainda disse "sem grandes novidades" - simulou aspas com as mãos. 

Do nada explodimos em uma gargalhada sem sentido. Sabe a expressão rir para não chorar? Foi exatamente isso, mas não me contive e em questão de segundos senti meu rosto ardendo e as lágrimas descendo sem controle.

Sinto as mãos dele acariciando as minhas, numa tentativa de me confortar. Me recomponho e enxugo as lágrimas com um guardanapo.

- Nossa. Nem sei o que falar. E como vai esse namoro?

- Estamos bem. Tem dois meses que a gente não se vê, mas conseguimos dar um jeito para ela vir na sexta-feira sem minha família saber, é claro.

- Nossa, está mesmo vivendo o romance proibido que você escrevia no diário, né?

- Aquele que você fez questão de roubar da minha mochila e leu escondido? - estreito meus olhos para intimidá-lo.

- Ah, esquece isso, cenourinha.

- Bem, eu quero te ajudar Carol. Seu lugar definitivamente não é aqui. Volta comigo pra São Paulo?

- Mas como? Se eu voltar a minha mãe vai desconfiar que vou ver a minha namorada e vai dar na mesma.

- Não se nós reatarmos nosso namoro milagrosamente depois de anos. - ele esboça um sorriso de canto que me deixa desconfortável.

-  Oi?

- Não vai ser de verdade, Carol. É só um pretexto. Sabe que sua mãe me adora e como já fomos namorados, ela não vai estranhar de você ir morar comigo. Além do mais você já está grandinha para ter que pedir permissão. Daí quando chegar lá você obviamente volta a morar com a sua namorada e continua tentando sua carreira.

- Confesso que seu plano é bem maluco. Tem chances de dar merda? Tem! Mas vou pensar nisso. Vou conversar com a Day.

Brindamos com nossos sucos e continuamos conversando.

Já em casa, sento próximo à janela do meu quarto e fito o céu estrelado.
E se desse tudo errado? Ninguém pode esconder algo pra sempre.
Mas também poderia dar certo. Poderia acontecer dela aceitar quando descobrisse, de estar mais compreensiva em relação a isso e poderia acontecer também dela nem infartar coisa nenhuma.
Céus! Que eu não faça nenhuma burrada, mas eu vou seguir meu coração.

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