Capítulo 66

500 52 63
                                    

DAY

Quatro dias depois eu e Isa estávamos no laboratório aguardando nervosas pelo resultado do exame.

- Day, para de andar pra lá e pra cá que eu já tô ficando tonta.

- Por que essa demora gente? - Continuo andando pela recepção.

- Será que é porque você chegou aqui com duas horas de antecedência e fez a gente ficar esperando??

- Dayane de Lima Nunes - uma voz feminina ecoou de uma sala no fundo do corredor.

Olhei pra Isa e ela assentiu com a cabeça, me encorajando a entrar.
Minutos depois eu estava de volta segurando um envelope.

Sentei na cadeira e Isa prontamente virou para o lado, ficando de frente para mim.

- E aí?

- Você tava certa… Aconteceu o mesmo comigo.

Isa volta a postura anterior, ficando de frente para o balcão da recepção.

- Então finalmente acabou né, você vai falar com a Carol?

- Sim. Eu preciso fazer isso agora, ela deve estar na gravadora junto com o Nando.

- Vamos. Te dou carona até lá - Isa olhou para mim e sorriu fraco.

Fomos em silêncio. Eu percebi que Isa não ficou muito animada, mas não quis perguntar nada e deixar um clima estranho no ar. Me concentrei em olhar a paisagem durante o trajeto e de vez em quando relia o resultado do exame..Quando chegamos, coloquei o papel com cuidado no envelope e respirei fundo antes de abrir a porta.

- Boa sorte, Day! - A voz de Isa saiu bem fraquinha e eu podia jurar que era uma voz de choro, mas ela pigarreou um pouco e logo normalizou o tom de voz - A parte boa é que não vou ter mais que aturar você bêbada e chorona.
Isa abriu um sorriso ao dizer isso, então eu considerei que havia feito um julgamento errado sobre ela ter ficado chateada lá no laboratório.

- Obrigada! - Segurei o rosto dela e dei um beijo na bochecha antes de sair do carro.

...

- Oi, eu gostaria de falar com a Carol Biazin. Ela está?

- Qual seu nome?

- Day…  Avisa que é  para falar sobre o EP, por favor.

A recepcionista demorou alguns segundos no telefone e logo liberou a minha entrada. 

- É só pegar o elevador para o terceiro andar, sala 302.

- Ok. Obrigada!

Ao chegar na sala indicada, Carol estava sozinha me aguardando.
Meu coração parecia ter errado uma batida quando a vi, embora ela estivesse me encarando com uma expressão muito séria. 

- Me pergunto o que você tem para falar sobre o EP… Deve ser muito importante para você vir aqui.

- Oi, Caroline. Você tá bem?

- Não tanto quanto você - Carol revira os olhos - Vai direto ao assunto, por favor.

Meu coração doía com aquelas palavras ríspidas e eu desejei mais ainda terminar logo com esse clima entre a gente e provar pra ela que eu não a traí.

- Bom, na verdade eu vim falar sobre o que realmente aconteceu no aniversário do Vi…

- Dayane, esse assunto de novo não. Eu não quero mais saber, já chega!

- Carol, você entendeu tudo errado. Me deixa explicar!

- Não quero ouvir! Até quando você vai insistir nisso? Eu vi as fotos. Vai dizer que foi montagem ou que te obrigaram a deitar na cama com ela? Pelo amor de Deus, Dayane! Você acha que eu sou idiota? Tá todo mundo comentando que você tá saindo com a Isa, eu tô fazendo papel de trouxa até para os fãs… Eu já tomei minha decisão, você aceitando ou não.

Carol foi se exaltando enquanto falava e minha vontade era começar a falar mais alto ainda para ver se ela iria me ouvir, mas isso só ía piorar as coisas. Decidi deixar ela falar até que ela terminasse e me desse oportunidade.

- O que ela tá fazendo aqui? - Nando pergunta ao entrar na sala.

- Ela já está de saída - Carol responde.

- Eu vim aqui para ter uma conversa em particular com a Carol. Você pode sair, por gentileza?

Falo ríspida, mas antes que Nando responda, Carol se pronuncia.

- Dayane, a conversa já acabou sim. Agora você pode sair!

Carol puxou Nando pela mão e o trouxe para perto dela. Eu não conseguia acreditar no que estava vendo. Me senti golpeada tão forte no estômago que me faltou o ar e eu precisei colocar a mão no local para me certificar de que a dor não tinha sido mesmo física de tão real que parecia. 
Carol beijou o Nando na minha frente e em uma fração de segundos eu consegui armazenar na minha mente detalhes que me machucariam para sempre: as mãos dela acariciando de leve a nuca dele, a mão dele segurando em sua cintura, a troca de olhares e o leve sorriso que ela esboçou quando finalizou o beijo.

Eu quis gritar, desejei que o chão se abrisse e me tragasse ali mesmo naquela sala, desejei voar em cima dele e tirá-lo de perto dela na base da porrada. Mas ali não tinha ninguém precisando ser salvo, se não a minha própria dignidade.
 
- Pensei que já tivesse saído. Quer me falar mais alguma coisa? - Carol volta a me encarar com aqueles olhos frios.

Fiz força o suficiente para segurar o choro e manter minha postura.

- Não, Caroline. O assunto está encerrado - segurei firme o envelope em minha mão e saí.

Quando o elevador fechou eu soltei todo o ar que estava prendendo. Me foi crescendo um nó garganta, aquela dor que parecia dilacerar de cima a baixo. Passei pela recepção o mais rápido que pude e saí andando pela rua. De repente tudo começou a ficar confuso demais para mim… As  pessoas andando, o barulho dos carros e um som estridente de pneus freando bruscamente no asfalto. Fechei os olhos com força e tudo virou um enorme silêncio.

Pouco a pouco os sons foram voltando ao normal e quando consegui abrir os olhos, eu estava literalmente no meio da rua.

- Menina, você tá bem? - o motorista colocou a cabeça para fora do veículo e me olhava assustado.

As pessoas haviam parado na calçada para observar minha reação. Olhei em volta e percebi que estava intacta, o motorista havia conseguido frear a tempo.

- Ei, você tá bem? Você atravessou com o sinal aberto! - O motorista fez menção de sair do carro…

- E-eu tô bem. Me desculpe!
Voltei para a calçada e o trânsito fluiu, fazendo tudo voltar ao normal. Quando entrei no uber, encostei minha cabeça no banco e agradeci mentalmente por ainda estar viva.

Quando as pessoas passam por algum tipo de trauma emocional em um relacionamento elas podem reagir de diferentes formas. Eu sou o tipo de pessoa que mesmo sofrendo vai tentar reverter a situação para que tudo fique bem, mas que quando chega no limite deixa o outro ir e não corre mais atrás.

Fiz todo o trajeto para casa sem derramar uma lágrima ou esboçar qualquer reação sobre o ocorrido. Eu estava finalmente anestesiada o suficiente para seguir a vida e aceitar que Caroline não queria ser mais minha.

Ao chegar em casa, deixei toda aquela carga negativa ir embora durante o banho. Vesti uma roupa confortável e decidi cuidar de mim. Liguei a TV com o volume um pouco mais alto do que o normal, evitando que o ambiente ficasse silencioso demais e fui preparar o meu jantar.

Hoje eu cheguei no meu limite!

CloserOnde histórias criam vida. Descubra agora