C A P Í T U L O 1

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														Pessoas no mundo todo alimentam a ideia de que na vida existem padrões a serem seguidos fielmente

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Pessoas no mundo todo alimentam a ideia de que na vida existem padrões a serem seguidos fielmente. Nunca me apeguei a isso, talvez porque a vida não tenha me dado escolhas, ou porque não tive tempo de parar e pensar que deveria seguir um cronograma estabelecido por seres que desconheço.

Estão sempre dizendo que uma mulher precisa ser forte e ao mesmo tempo ser o sexo frágil. Que precisamos cuidar da vestimenta e não parecer vulgar; além de existir a ideia de um corpo perfeito estar ligado a uma barriga lisa, rosto delicado e pele aveludada, estes argumentos me fazem entender o porquê de tanto sofrimento.

Não me encaixo nos "padrões de perfeição" , não sou uma mulher magricela, nem tenho cabelos extraordinários e pele de bebê. Sou uma simples mulher que batalha todos os dias para conseguir encontrar o seu lugar no mundo.

Com todas as dores da vida, aprendi a me amar da forma que sou,  aceito os quilos que recebo depois de uma noitada de hambúrgueres e refrigerantes, assim como aceito meus fios de cabelo indefinidos que nunca se decidem entre liso e cacheado, aceito a cor da minha pele, bem como as marcas que carrego nela também. São junções que me completam e me tornam tão Lorena Medeiros.

—  Tia Lo! —  Maycon me chama da sala.

—  O que foi, garoto? —  Nossos dias são sempre assim, não há muita distância, mas mesmo assim sempre estamos gritando.

—  Já estou pronto, vou me atrasar para o colégio!

—  Só mais dois minutos e já vamos.

Maycon é meu sobrinho e único companheiro, moramos na zona norte de São Paulo, estou aqui desde quando nasci e acredito não partir tão cedo.  Não há nada de luxo, nem exageros, somos simples, duas pessoas tentando enfrentar as dificuldades da vida com um sorriso no rosto.

Fui criada por minha irmã Samira, minha mãe sumiu pelo mundo e meu pai é só um desconhecido que mal sabe da minha existência.  Quando completei dezoito anos entendi bem o que é ter responsabilidades e aos dezenove precisei encará-la de frente sem nenhum aviso prévio. Samira nos deixou há exatos cinco anos, foi uma morte difícil no meio de escolhas erradas.

Apanho minha bolsa e saio do quarto ajeitando a traseira do tênis com os dedos das mãos. Maycon já está pronto , pontual como sempre. Está com as mochilas nas costas, uniforme e uma expressão impaciente.

—  Não me olha com essa cara, garoto. Temos vinte minutos para chegar no colégio, ou seja, tempo de sobra. —  Pego uma maçã. —  Comeu todo o almoço? —  Maycon assente enquanto abre a porta, o sol quente não é nenhuma novidade, amaldiçoado seja o idiota que sumiu com as nossas árvores. Me recuso a andar de sombrinha como a Dona Pietra.

—  Vamos logo, tia. Eu não gosto de chegar atrasado, quero encontrar meus amigos e zuar um pouco. —  Seus olhos marrons e especiais me derrete por inteiro. Amo Maycon como se fosse meu próprio filho, mas jamais serei capaz de roubar o lugar de Samira em sua vida, sua imagem jamais será esquecida e se depender de mim, continuarei dizendo coisas sobre ela, e o quão incrível já foi um dia.

Antes De DesistirOnde histórias criam vida. Descubra agora