A ligação que recebi me deixou em completo desespero, a cena de Maycon com os olhos vermelhos, alguns arranhões no joelho e o pulso inchado, foi ainda pior. Não pensei em muito mais e o levei para o hospital, o mais perto que podia, os documentos por sorte ficavam em minha carteira, pelo menos isso foi um alívio.
Maycon não chorava, mas seus olhos demonstravam a dor que sentia. Só que de todos os momentos, o que menos compreendi, foi a presença de Gustavo dentro de um hospital público, abaixando de frente para nós como se não importasse onde estamos. Vê-lo preocupado me deixou confusa, mas também estranhamente feliz. É bom saber que de certa forma, Gustavo se importa com Maycon, da mesma maneira que meu garoto o considera. Ver os dois perto um do outro me traz uma boa sensação, e começo a me arrepender das palavras que disse a ele naquela noite.
Chegamos ao shopping como o prometido, Gustavo pagou um sorvete para nós com muita insistência, Maycon ficou mais alegre e nem parecia o garoto sonolento de poucos minutos atrás.
Agora caminhamos entre as pessoas, Maycon está no meio de nós, e tenho a impressão de que alguém de fora poderia facilmente nos confundir com uma família. Parece que Gustavo não se importa com isso também, vez ou outra me olha com um sorriso amigável, e as sensações que tenho com sua presença ainda continuam as mesmas, ou talvez, mais intensas.
Porém estou ciente de que, independente do que sinto por ele, Gustavo não saberá lidar com uma família entrando em sua vida. Vi em seus olhos, no dia em que nos despedimos, que ele não está preparado para um relacionamento tão complexo quanto o que eu lhe daria. Não sou capaz de aceitar um romance que não me traga confiança, não terei garantias de que um dia, ele não vá pensar que tudo não passou de um impulso bobo, e que possa nos deixar com a desculpa de que não pode fazer parte de algo assim.
Já lidei com perdas, e nunca serei capaz de me acostumar com elas.— Tia, quero usar o banheiro, onde fica? — Maycon está todo lambuzado de sorvete na mão, e tem alguns poucos respingos na camiseta.
— Estamos perto... — Aponto para uma das placas. — Aproveite e lave bem a mão e o rosto.
— Posso entrar com ele. Tudo bem ficar sozinha uns instantes? — Gustavo me questiona. Sinto-me como uma criança diante da sua pergunta.
— Acho que eu posso sobreviver. — Respondo com sarcasmo, Gustavo fica um tanto sem jeito, e me sinto péssima no mesmo segundo. — Vou esperar vocês aqui na frente. — Deixo um sorriso para os dois.
Fico esperando por um tempo, enquanto isso observo o movimento das lojas. Acho que em toda a minha vida, é a primeira vez que entro num shopping em plena segunda-feira. Isso me dá uma certa vontade de rir, porque simplesmente parece uma piada.
Nunca imaginaria que estaria andando com meu chefe e com meu sobrinho, como se fossemos mais do que isso.
— Prontinho, tem uma criança limpa e um adulto meio molhado!
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Antes De Desistir
Romance"Uma leitura leve e marcante, com personagens queridos que vão conquistar seu coração." Lorena Medeiros é uma jovem que carrega consigo grandes responsabilidades. Desde a dolorosa morte de sua irmã, Lorena se tornou responsável pelo pequeno Maycon...