C A P Í T U L O 13

864 101 11
                                    

															Meus dias dentro da casa dos Monteiro nem de longe se assemelha a um trabalho enfadonho

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Meus dias dentro da casa dos Monteiro nem de longe se assemelha a um trabalho enfadonho. Fico o tempo todo conversando, dizendo coisas sobre a minha vida e escutando histórias de Mirian e também Joaquim. Gosto de ter contato com pessoas mais velhas, elas sempre são mais sábias e te dão uma visão diferente da vida que provavelmente você nunca tenha enxergado.

Estabelecemos uma rotina, todos os dias nós passeamos pelo jardim, regamos suas plantas, lemos algum livro de poesias juntos sentados no banco de madeira, essa escolha foi dele,  de vez em quando arrisco alguns filmes, mas essa parte ele nunca demonstra achar muito empolgante. Mirian está sempre por perto, e na maioria das vezes Laís também. Ela cuida de toda a medicação de Joaquim, não fica o dia todo aqui, está sempre saindo para cuidar de outros pacientes da redondeza. Joaquim agora não reclama dela, acho que acabou se acostumando com a sua presença, aliás não vejo nada de ruim, Laís só é uma mulher muito séria, tem uma personalidade diferente das que Joaquim é acostumado, ainda mais depois de receber tanto carinho e mordomias no asilo.

—  Está pronto para ler um pouco? —  Questiono Joaquim enquanto andamos pelo gramado.

—  Sempre estou pronto, mas hoje você lê, é a sua vez.

—  Quase todos os dias é a minha vez, o senhor só fica me enrolando. —  Cutuco seu ombro e o faço rir.

—  Tente me entender, filha, meus olhos já não me ajudam muito.

Sentamos no banco de costume, ele fica debaixo de uma árvore e tem uma sombra deliciosa.

—  Não acha melhor mandar fazer um óculos? Não falo pelas poesias, porque eu adoro ler, mas acho que é bom que use um.

—  Vou falar com o Gustavo depois, mas agora eu quero a minha poesia. Capriche! —  É engraçado quando ele deixa de sorrir e solta as palavras quase que te impondo uma ordem.

—  O senhor é quem manda! —  Murmuro enquanto abro a página que eu havia marcado antes de chegar aqui.

Joaquim se acomoda no banco e fecha os olhos como se quisesse mesmo se concentrar. Sua pele clara estava cada dia mais marcada pela idade, às vezes fico tentando imaginar como Joaquim era quando mais novo, e sempre penso que provavelmente fosse igual ao seu neto, com  exceção pelos olhos, Joaquim tem olhos verdes, já Gustavo tem olhos azuis, um azul intenso de te deixar de queixo caído.

—  Vai ler ou não, filha? —  Joaquim me desperta com uma ruga se formando na testa.  Balanço a cabeça para os lados tentando mandar meus pensamentos embora. —  Você anda muito distraída ultimamente, até parece que está apaixonada!!

Abro os olhos um pouco mais do que o normal.

—  Claro que não, senhor Joaquim! Que absurdo. Vamos ler de uma vez!!

Ouço seu riso e ele novamente volta a fechar os olhos.  Respiro profundamente antes de iniciar a leitura, enquanto ele aguarda ansioso.

—  Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua…
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!

Antes De DesistirOnde histórias criam vida. Descubra agora