IV

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— Yasemin, vem comigo. A valide sultana, deseja vê-la. — Nilüfer kalfa disse parando perto da moça que conversava com Katarina.

Yasemin cruzou olhares com Katarina por alguns instantes, pedia ajuda silenciosamente, mas não havia nada que alguém como ela pudesse fazer para ajudar a jovem. Um tanto hesitante assentiu em silêncio e seguiu a kalfa pelo harém. Ela não havia ido aquela parte do palácio ainda, tentou gravar na memória o caminho inteiro, para que não se perdesse, mas o motivo de estar sendo chamada pela valide sultana ainda lhe assustava um pouco.

Nilüfer fez um sinal para que ela esperasse e entrou nos aposentos da valide. Yasemin esperou, até ouvir a voz da kalfa lhe mandando entrar.

Os aposentos da valide sultana era sem dúvida o maior de todo o harém, era decorado com muita elegância, e em um divã perto a duas janelas espaçosas viu a figura de cabelos de fogo, sentada de modo gracioso, e com  uma expressão suave. Ao seu lado direito havia um eunuco negro, com certeza era o kizlar ağa, Haci Mustafá ağa, o eunuco responsável por quase tudo dentro do harém, e diferente dos outros eunucos este se vestia com mais sofisticação, estava nítido que o tecido de suas roupas era do mais caro que o ouro poderia comprar.

Parou perto do degrau e fez uma reverência para a valide, que fez um gesto com a mão para que esta se aproximasse.

— Yasemin, correto? Eu soube que veio de Valência. O que fazia tão longe de casa para ter sido capturada? — a voz da valide era bem sugestiva, o que fez Yasemin ficar acuada. — E seu nome... Ele não é estrangeiro.

— Minha família era de andarilhos, e ao meu pai sempre lhe agradou os jasmins, por isso meu nome, sultana. — explicou com calma, evitando olhá-la.

— Um nome bonito, para uma jovem bonita e educada. — disse com uma voz séria e logo se aproximou da jovem. — Outro dia, quando nos vimos, você falou uma coisa que me deixou um tanto... curiosa.

— Aquilo era apenas...

Râbi'a ergueu sua mão para que Yasemin se calasse, parou perto dela e respirou fundo.

— Tenho a impressão de que tem um dom, poderia dizer que você é uma bruxa, mas algo me diz que tem algo diferente... Diga-me, o que é de verdade. Qual sua origem?

Yasemin engoliu em seco.

— Minha família é de ciganos. Fugimos de Valência devido a caçada que estava sendo promovida atrás de qualquer um que não fosse católico. Vagamos por dias, e antes de chegarmos ao Egito, fomos emboscados e meus pais mortos.

A valide riu.

— É claro, uma moça cigana. — Râbi'a voltou até seu divã e sentou-se. Encarou Yasemin por alguns instantes. — Venha aqui, tem um dom, e quero que me ajude com este dom.

Yasemin franziu o cenho.

— Sultana, eu... — teve que se calar novamente pois Râbi'a fez outro gesto para que se calasse. — Tudo bem, mas devo dizer que ainda não sou muito boa nisto.

Yasemin se aproximou da sultana e se abaixou perto dela. Segurou as mãos da sultana e observou as palmas de suas mãos com muita atenção, era linhas bem visíveis. Deslizou o polegar pelas palamas da valide, e respirou fundo, deixando que os caminhos contassem seu destino.

— Vejo uma guerra. Há uma mulher em seu caminho, uma mulher de cabelos escuros, ela está bloqueando sua passagem... ela quer algo seu... um anel de esmeralda. A senhora está em um poço escuro, e não tem saída. Vejo lágrimas de sangue no chão e um homem nas sombras, ele parece estar lhe esperando. — Yasemin olhou para a sultana. — Ele disse que está na hora de pagar por tudo que fez a ele.

A SultanaOnde histórias criam vida. Descubra agora