— Kösem. — a voz doce de Mahfiruz, fez a sultana parar por alguns instantes e olhá-la com um certo desgosto.
Mesmo a barriga de Mahfiruz não estar aparecendo, já havia sido designadas escravas para servi-la. Ela já não mais reverenciava Kösem como as demais, considerava aquilo um insulto, mas no harém, todos deveriam seguir as regras e com a sultana não era diferente.
As duas se olharam por um momento, antes de Mahfiruz sorrir em provocação a Kösem.
— O que quer, hatun? — chamá-la pelo titulo de concubina era um jeito de responder a sua provocação, sem que chamasse muita atenção.
Mahfiruz respirou fundo, odiava ser chamada daquele modo, nunca foi como as demais escravas, era um presente para o sultão que foi educada e instruída como uma jovem nobre.
— Eu levo um filho do sultão em meu ventre, já não sou mais uma simples hatun. — disse um tanto exaltada, o que fez Kösem rir. — O que há de tão engraçado no que eu disse?
— Ter um filho do sultão não importa muito, se é apenas mulher de uma noite, igual a você. — Kösem sorriu maliciosamente para ela. — Não confie muito no que está em seu ventre, só os mais fortes varões conseguem o trono.
Kösem sorriu para ela, havia aprendido muito sobre como se comportar com cada tipo de mulher do harém, em especial, aquelas que acreditavam ser alguma coisa. A sultana só a via como uma pedra no caminho, estava bem nitido que Mahfiruz nunca chegaria a alcançar o poder por si só, teria sempre que ser submissa.
Aproximou-se dela com os olhos fixos nos dela, Kösem sabia ser bem ameaçadora quando queria, não precisava dizer nada só de olhar as pessoas já entendiam o que se passava em sua mente.
— Não passa de um peão em um jogo de sultanas. Tenho pena de você e do seu filho... ou será filha? — Kösem segurou no rosto dela com força. Sabia que era proibido agredir uma concubina grávida, mas não havia nenhuma proibição sobre assustá-las. — É melhor tomar cuidado, não se meta no meu caminho, ou eu te faço desaparecer deste palácio. E da próxima vez, a menos que tenha dado à luz a um şehzade, é melhor que me reverencie, ou, juro por Alá, que nada vai me impedir de te levar ao inferno.
Kösem soltou o rosto dela, a sultana tinha um pouco de pressa para resolver um assunto muito mais importante que a mulherzinha que tentava se igualar a ela. Não a subestimava, sabia que o poder era instável, mas enquanto pudesse iria mantê-la em seu lugar de simples concubina, e se ela desse a luz a um menino, então Kösem iria se livrar dela.
Para o trono, não havia regras, e faria até o impossível para proteger seus filhos da morte.
Ela esperou na sala por Halil, um tanto impaciente esperando por noticias. Havia entregado o diário da valide sultana a ele, depois de ler tudo, havia muito segredos escondidos ali, porém era necessário reunir mais provas que não pudessem negar a autenticidade do diário. Três nomes eram citados naquele diário, o de Zagan efendi, o médico da corte na época do pai de Ahmet; Iskender paxá, o atual capitão da frota do sultão; e, do Grão-vizir, Ibrahim paxá.
Aquelas três peças eram fundamentais para dar um final ao sultanato da valide.
— Sultana. — Halil disse ao entrar na sala, enquanto fazia uma reverencia.
— Paxá, alguma noticia?
— Falei com Zagan efendi que revistou o corpo do falecido sultão, Cihangir, e este disse que havia algo errado com o sultão. Havia manchas arroxeadas na lingua e nos dedos do sultão, uma característica bem comum de um tipo raro de veneno. — Halil disse entregando o diário a sultana, que pegou com um sorriso no rosto. — Mas sultana, mesmo que você consiga livrar-se da valide, ainda resta Rüstem paxá e Ibrahim paxá, como planeja lidar com eles?
Kösem olhou para o homem com seriedade, por mais que fossem aliados, não gostava da curiosidade de Halil, isso a fazia suspeitar de muitas coisas a respeito do paxá. Ele não a servia por lealdade, mas sim por um preço, e homem que se vendiam eram facilmente manipuláveis e tinham atitudes prejudiciais. Não queria fazer mal ao Império, e Halil era um risco enorme para sua dinastia.
Suspirou, e virou-se para ir, não queria prolongar aquela conversa mais do que o necessário, já tinha o que precisava, agora deveria ir-se.
— Aguarde por noticias minhas, paxá, logo saberá o que irei fazer com eles. — disse dando algumas batinhas na porta.
Assim que Gül ağa abriu, Kösem seguiu para longe daquele lugar. Escondeu o diário dentro de suas vestes até que chegasse a seus aposentos, e lá o escondeu no único lugar onde ninguém poderia imaginar estar.
Quatro hatuns entraram em seus aposentos, elas traziam os filhos da sultana que os olhou muito feliz, sempre que mirava seus pequenos anjinhos sentia-se em um pedaço do paraíso, nenhum deles havia herdado sua escuridão, o que lhe fazia crer que houvesse bondade naquele lugar. Segurou Osman em seus braços e o ninou, queria poder segurar todos seus filhos de uma só vez.
Logo pegou a Mehmed, e depois as duas gêmeas. A única coisa que as diferenciava eram seus cabelos, Geyhan se parecia muito com Kösem, e quis Alá que Hürrem fosse muito parecida com a avó até nos cabelos cor de fogo.
Ficou com seus filhos por horas, até que o momento de serem alimentados chegou, as hatuns levaram as crianças, e inesperadamente Saliha entrou em seus aposentos. A sultana tinha um sorriso no rosto, mas Kösem estava um tanto alerta quanto aos movimentos dela, já estava ciente do plano das duas sultanas, tudo graças a Meleksima.
Kösem não disse uma só palavra apenas ficou encarando a Saliha, com um sorriso no rosto.
— Você tentou tomar meu filho, mas não irá conseguir Kösem. Selim e Murad sabem quem é a mãe deles, e nunca vão amar você. — Saliha disse e se aproximou da sultana. — Seu sultanato acabou Kösem, pois eu ficarei neste palácio, e você irá lamentar ter cruzado meu caminho.
Saliha deixou os aposentos de Kösem, e a sultana olhou para Gül aga, fez um aceno com a cabeça para ele, e o eunuco entendeu perfeitamente o que ela queria dizer. A hora de Saliha havia chegado ao fim, ela seria a próxima a sumir daquele palácio.
Ainda a subestimavam muito, ela amava a Selim e Murad, mas antes deles, haviam seus filhos. E sem uma mãe para lhe ajudar nenhum deles chegaria ao trono, Saliha nunca iria ser valide sultana de nenhum deles, pois eles nunca chegariam ao trono do Império Otomano.
Enquanto as escravas lhe massageavam, para retirar a tensão de seu corpo, a noticia chegou, şehzade Murad desapareceu enquanto parte do harém estava em chamas. O sorriso de Kösem apenas se alargou mais, e ela relaxou com aquela noticia.
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O termo otomano deriva do nome Osman, ou, em árabe, Uthman.
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A Sultana
أدب تاريخيUm mundo perigoso, em um harém tudo que se respira é traição. Todas desejam a mesma coisa, ser a mãe de um príncipe e assim conseguir se estabelecer como uma sultana, mas ser apenas mãe dos filhos do sultão, não parecia ser o suficiente. Ela não qu...