XXXVI

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— Sultana, está tudo bem? — Meleksima perguntou, olhando para o rosto de Kösem. Havia dias que reparava em sua face algo diferente, parecia mais distante. — Quer que eu busque algo para comer?

Kösem sorriu, e negou com a cabeça.

— Estou bem, Meleksima. Só um pouco cansada, esses dias tem sido exaustivos. — Kösem disse com a voz baixa enquanto caminhava tranquilamente pelo jardim.

A calmaria sempre era um sinal de que algo estava por vir, e desde a chegada da sultana Safiye, Kösem não sabia dizer com certeza qual seria o próximo movimento mesmo tendo Meleksima como uma espiã. A sultana suspirou. E parou perto de um roseiral, observando a planta deu um leve sorriso, aquela flor vermelha lhe fazia lembrar a sua mãe que sempre usava uma coroa feita de rosas. Um longo tempo se passou desde a última vez em que pensou na família da inocente Yasemin.

— Posso ver que está com uma expressão abatida, Kösem. Espero que não seja nada grave. — a voz de Safiye fez Kösem voltar sua atenção para ela, e a reverenciar como mandavam as regras. — As rosas sempre foram minhas favoritas, creio que também lhe agrade.

Kösem negou com a cabeça, o que chamou atenção de Safiye. As duas sultanas se olharam por alguns instantes, os olhos azuis de Safiye tinham um fogo de destruição que estava mirado unicamente na mulher a sua frente, mas Kösem não estava nenhum pouco a fim de ter um confronto naquele momento, estava abalada demais para suportar o veneno da serpente de olhos azuis diante de si. Fez uma reverência e se foi com passos rápidos, parecia estar fugindo, e de certa forma estava fugindo de seu próprio passado.

Ela não foi ao harém, queria observar o mar negro, queria poder ter um momento sozinha.

Apoiou suas mãos no mármore frio da varanda, e observou o porto vazio e sua mente viajou direto para Ahmet. No início, para a jovem sultana, tudo não passava de um jogo para conquistar o poder, queria o sultão apenas para ganhar o jogo do harém, entretando, seu coração começava a lhe trair com batimentos acelerados toda vez que pensava no rosto de Ahmet. O ar faltava em seu peito toda vez que o olhava. Seu corpo enfraquecia a cada toque. Um encanto. Kösem estava sobre o encanto do amor, embora negasse, sabia que não poderia fugir dele. Ela, por outro lado, tinha medo desse sentimento tão poderoso que mudava os pensamentos e atitudes de qualquer um.

A lembrança de encontrá-lo no mercado era recorrente, ele havia mudado sua vida completamente, Ahmet havia dado a ela a chance de permitir que criasse raízes. Chegava a ser irônico, que uma cigana criasse raízes em algum lugar, todavia, ali estava o fato que Kösem não podia negar: os braços de Ahmet eram seu lar.












___________¥Curiosidades¥___________

Murade III foi um sultão do Império Otomano e governou de 1574 a 1595. Era filho de Selim II com Nurbanu e neto de Süleyman, o Magnífico. Seu reinado foi marcado por guerras contra o Império Safávida e os Habsburgos da Áustria e a deterioração econômica e social dentro do Império Otomano.
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