Batidas na porta chamaram atenção de Ahmed, embora não o suficiente para fazê-lo desviar sua atenção da carta que havia recebido a pouco do governador do Egito. Não queria que ninguém o incomodasse, mas se fosse algum problema, quanto mais cedo o resolvesse, teria ainda mais tempo para se dedicar a resolver o problema de uma possível rebelião.
╾━━━━━ AdianteAdiante. ── disse sem tirar os olhos do papel.
╾━━━━━ Majestade, a sultana Saliha espera do lado de fora com a sultana Fatma. ── um dos ağa da porta entrou de cabeça baixa.
Ahmet respirou fundo, não podia imaginar momento pior para que Saliha aparecesse, mas havia tempo que não dava atenção a Fatma. Olhou para o ağa ainda hesitante se deveria ou não mudar sua prioridade naquele momento.
╾━━━━━ Que passe. ── disse com uma voz desanimada.
O ağa saiu e logo em seguida Saliha entrou nos aposentos privados junto com Fatma. A pequena sultana sorriu ao ver seu pai, e enquanto Saliha o reverenciava, a pequena sultana corria para ele.
Era uma menina adorável, de cabelos castanhos como da mãe e olhos castanhos enormes. Fatma era a menina dos olhos de Ahmed, ele a amava profundamente, e tinha um certo alivio por ser uma menina assim não teria que ser assassinada quando um novo sultão ascendesse ao trono. Ela sentou no colo de Ahmed, e este a beijou sua fronte e alisou seu cabelo.
╾━━━━━ Fatma desejava vê-lo, sente falta de seu pai. ── Saliha disse com um certo tom de alfinetada para que Ahmed percebesse como estava se distanciando. ── E claro... eu e nosso filho também.
Saliha repousou uma das mãos sobre seu ventre, e Ahmed desviou o olhar de Fatma para ela. Ele gostava de Saliha, ela havia lhe dado um lindo şehzade, mas aquela chama da paixão que sentiu ao conhecê-la havia se extinguido há muito tempo, o que sentia agora era afeto e respeito pela mãe de seus filhos.
Ahmed anuiu em silêncio. Ele desceu Fatma de seu colo e acariciou o rosto da menina.
Levantou e aproximou-se de Saliha, tocando seu rosto com cuidado. Ela tinha uma pele macia, ainda tinha a mesma beleza, mas alguma coisa havia mudado em seu olhar, e Ahmet só não sabia dizer o que era exatamente. Não era tolo, sabia bem como o harém era capaz de corromper o melhor e dar poder ao pior, mas teve esperança de que com Saliha fosse diferente.
Ela era sua paixão, mas como qualquer chama ardente, tem um final e tudo o que restam são brasas e sombras de um passado. Já não alimentava mais desejo por Saliha, embora usasse o pouco de afeto que sentia para manter as brasas quentes e tratá-la dignamente. Beijou-lhe a testa, e sorriu para ela.
╾━━━━━ Vá agora, tenho muito trabalho que fazer. ── disse com uma voz tranquila. ── A noite irei visitá-la.
Saliha assentiu com um sorriso, embora estivesse evidente que ela não desejava ir.
Ahmed afastou-se dela e foi para sacada, sentou-se no divã que ficava bem no meio e que lhe permita poder aproveitar a vista mais bela de Istambul, era até reconfortante poder observar aquele céu azul. Fechou os olhos por alguns instantes, queria poder sossegar seus pensamentos que davam voltas e voltas. Estava preso em uma tempestade, e nada podia lhe tirar daquele meio.
Rebeldes se levantavam no Egito, e se não fosse rápido o suficiente e achar uma solução iria perder uma terra que lhe rendia muito ouro. Sabia que se marchasse com o exército e reprimisse os rebeldes, seria uma solução rápida, mas seria visto como um cruel, já que as pessoas que tramavam uma revolta era um ancião guiado por sua visão do alcorão que julgava ser certo. Para muitos Davut efendi era um profeta, e pisar em alguém visto desse modo só iria piorar ainda mais a situação.
Escutou uma voz um tanto familiar, ele reconhecia aquele cântico. Levantou-se rapidamente e se aproximou do parapeito, apoiou suas mãos no balcão de mármore, e procurou a dona daquela voz. Na sacada um pouco mais baixa, mas da qual tinha uma visão privilegiada, Ahmet viu a jovem do mercado de escravos. Havia se esquecido completamente de ter comprado a moça, e agora lembrava-se perfeitamente de sua voz, e da sensação de paz que lhe transmitiu da primeira vez que a ouviu. Ela limpava a sacada do quarto da irmã do sultão, e fazia isso cantando como se estivesse apenas relaxando.
Ele a observou em seu trabalho, um tanto maravilhado com sua beleza. Buscou na memória o nome da moça, mas não conseguia se lembrar. Queria tanto poder ouvir ela cantando só para ele, talvez a voz dela pudesse lhe proporcionar um momento de sono agradável, havia noites que não conseguia dormir, e sentia que ela poderia lhe dar paz aos seus pensamentos.
╾━━━━━ Majestade... ── uma voz lhe chamou, mas ele fez um gesto para que o homem ficasse em silêncio.
Ahmed queria continuar ouvindo aquela música tão agradável, mas a presença do homem era pertinente, e ele queria ficar sozinho. Virou-se para Kasim, o guarda pessoal, lhe encarava um tanto sério.
╾━━━━━ Majestade, Ibrahim paxá deseja vê-lo. Diz que tem notícias sobre os embaixadores venezianos.
Ahmed assentiu, ali estava um assunto que não poderia esperar. Expandir o império era importante, era o desejo de seus antepassados conquistar até o último canto do mundo, assim como era o seu.
__________¥Curiosidades¥___________
O Palácio de Topkapı localiza-se na cidade de Istambul na Turquia. Topkapı significa "porta do canhão". Foi construído por Mehmed II, o Conquistador logo após a conquista de Constantinopla, em 1453, e foi a residência dos sultões durante quatro séculos.
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A Sultana
Historical FictionUm mundo perigoso, em um harém tudo que se respira é traição. Todas desejam a mesma coisa, ser a mãe de um príncipe e assim conseguir se estabelecer como uma sultana, mas ser apenas mãe dos filhos do sultão, não parecia ser o suficiente. Ela não qu...