XI

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— Kösem hatun, tem certeza disso? Dizem que está mulher é uma bruxa. — Gül ağa disse com a voz temerosa, olhando para a jovem ao seu lado.

O eunuco negro tinha medo de que descobrissem que os dois haviam deixado Topkapi para ver uma bruxa no meio da noite, mas Kösem estava determinada, desde o instante que entrou naquela carruagem tinha a plena certeza do que queria e não iria embora dali sem nenhuma resposta.

A jovem já não era mais capaz de ler as linhas das próprias mãos, estava perdendo seu dom, e agora com a gravidez de Saliha ainda mais aparente, temia por si mesma, uma sultana com dois şehzade era um risco para a frágil posição em que estava. 

Seguiu para dentro do casebre empurrando lentamente a porta de madeira velha, as dobradiças enferrujadas produziam um ranger agudo e como o ganido de uma cão quando pisava em sua cauda. No centro da casa havia um espaço circular, com algumas brasa acesas, e mais acima estava uma panela pendurada em uma armação de ferro. Haviam dois tapetes e estavam postos de modo que diziam claramente que ela aguardava uma visita.

— Kösem, devemos ir embora desse lugar. Por Alá, ponha algo...

— Está atrasada. — uma voz feminina disse e o som de moedas balançando ecoou pelo casebre. 

A bruxa era Akhmu, uma mulher jovem de pele negra e cabeça raspada. As duas já se conheciam, mas apenas conseguiram falar por alguns poucos instantes, agora, tinham a oportunidade de conversarem mais entre si.

— Estava me esperando? — Kösem perguntou aproximando-se da redoma de brasas e tomando seu assento no tapete. 

— Desde que era Yasemin. 

Kösem olhou para as brasas e logo após para ela, a bruxa mergulhou a mão na água quente e respirou fundo.

— Sua estrela se apagou. Ah sim, posso ver que está perdida na escuridão. Deseja poder, e por isso veio até mim, Yasemin sabia do preço da magia, mas e Kösem? Ela sabe o preço de uma magia?

A bruxa sorriu e foi até Kösem, abaixando-se ao lado dela. Mostrou a adaga que estava em uma de suas mãos e estendeu para ela, esperou até que esta pegasse a adaga e cortasse a própria mão deixando algumas gotas de seu sangue caírem na água quente da panela.

Um sorriso surgiu no rosto da bruxa que pegou a mão de Kösem e lambeu o sangue da palma da mão de Kösem.

— O que quer é magia negra. Ganhar poder requer uma vida, está pronta para sacrificar uma vida inocente só para ter poder? Muito bem, me dê algo para sacrificar. 

Kösem respirou fundo e entregou um saquinho de couro aparentemente vazio, e assim que o pegou a bruxa pareceu ter recebido o maior dos presentes, e abriu o saquinho. Ela pegou um tufo de cabelos ruivos de lá e alguns castanhos. 

— Duas vidas... realmente deseja o poder. Posso sentir que ama a estas duas pessoas, isso é mais do que perfeito. 

Ela colocou os tufos de cabelo nas brasas, esperou que estivessem queimadas por completa para tirar de dentro de seu vestido um pequeno frasco com um liquido escuro e entregar a Kösem, mas não sem antes receber seu pago com algumas moedas de ouro.

— Beba e o poder será inteiramente seu.

Kösem retornou a Topkapi, estava com a consciência limpa, a sombra do remorso passava longe do que sacrifício que fez. Em sua mente, o poder era tudo que importava e não iria deixá-lo por nada naquele mundo, o defenderia com unhas e dentes, se para ser poderosa tinha que perder sua estrela e seu amor, então não tinha arrependimentos.

— Kösem hatun, o que aquela mulher lhe deu? — Gül ağa perguntou, e a jovem parou por alguns instantes e o olhou.

— Muito em breve receberá mais do que aquelas moedas Gül ağa, eu prometo. Contudo, me agradaria ter sua lealdade, e então o que receberá será tamanho que nunca mais irá precisar se curvar a ninguém além de mim. 

A SultanaOnde histórias criam vida. Descubra agora