Uma luz forte iluminava o rosto de Kösem, forçando a sultana abrir seus olhos e contemplar a visão paradisíaca de uma praia, a areia branca parecia prata reluzindo com a luz do sol, uma brisa calma soprava em seus cabelos, enquanto esta caminhava pela areia úmida pelo mar azul. A água refrescava seus pés e tornava a barra do vestido vermelho mais pesada, sentia-se livre podia fazer o que quisesse ali. Então assim é estar morta, pensou com um sorriso no rosto abrindo seus braços para aproveitar aquela liberdade. Passou a correr pela areia como uma menina, mas parou ao avistar um cavalo branco, os dois caminharam na direção um do outro, e Kösem acariciou sua crina macia.
O equino fez um gesto com a cabeça indicando para que ela montasse nele. Havia uma pedra alta o suficiente para permitir isso, e assim fez, montou no animal e segurou a crina entre seus dedos. Ele começou a marchar, a sultana sentia-se não como Kösem, mas a inocente Yasemin filha de ciganos, uma menina que cresceu no meio da liberdade junto a todos os tipos de pessoas, e que testemunhou a dor da perda ainda jovem.
Cavalgou pela praia até que avistou um trono, o trono de Ahmet, mas estava ali sob brilhando feito uma pérola sem ninguém nele. Desceu do cavalo e caminhou até o trono, tocou em seu encosto, sem acreditar que era realmente ele. Respirou fundo com um sorriso, e virou-se ia sentar-se ali, mas a visão de uma mulher jovem de cabelos ruivos estava ali.
— Este não é seu trono. — a jovem disse, ela usava uma linda tiara de ouro e um vestido roxo com mangas compridas. Ela tinha um rosto risonho, uma figura bela e que transpirava força. — Ainda não terminou sua missão.
A jovem aproximou-se do trono, e sentou-se como se fosse um sultão, admirando o mar.
— Vim desde o mar como você, completei minha missão, me apaixonei e me tornei sultana. Dei uma oportunidade a escravas que nenhuma outra tinha. — disse com um suspiro, sem olhar para Kösem. — Você deve ser ainda melhor.
— Quem é você? — Kösem perguntou e a mulher apenas sorriu, e lhe sorriu com uma forte luz saindo de trás dela.
A mulher lhe entregou um frasco com um liquido arroxeado.
— A cura que tanto precisa, está ai. — disse enquanto a luz ia aumentando cada vez mais.
Kösem fechou seus olhos para tentar suportar aquela forte luz. Sentiu seu corpo ser tomado por uma onda de calor e força, e logo quando reabriu seus olhos estava em seu quarto no harém.
Olhou as coisas ao seu redor, estava sozinha, e pôs-se sentada em sua cama. Ainda sentia o local onde a bala ricocheteara doer, mas estava mais suportável, levantou-se da cama e caminhou até o espelho, usa uma camisola branca de seda, ainda estava um pouco desnorteada, tocou no local e sentiu algo ali. Ao retirar estava um frasco com o mesmo líquido arroxeado.
Observou por alguns instantes, apertou o objeto entre seus dedos, e olhou para o broche deformado sobre uma das mesinhas de canto. Lembrou-se claramente do tiro que aquele objeto havia aguentado para não causar danos ao seu coração. A esmeralda havia resitido, mas estava truncada com um buraco no meio. Kösem sorriu, já sabia o que deveria fazer.
Vestiu um vestido verde, e ajeitou uma tiara em cabelos junto a um véu. Observou-se no espelho, e escutou o barulho de algo cair no chão, ao olhar para trás viu Nurhan tremendo, a kalfa havia deixado uma jarra de água cair, molhando todo o piso. Kösem franziu o cenho e Nurhan sorriu indo até ela e se ajoelhando para beija a barra de seu vestido.
— Sultana. Graças a Alá! Todos estivemos preocupados por estes dias.
Para a sultana parecia ter sido apenas uma noite desacordada, mas para os demais havia sido dois longos dias, e que graças a ela não voltaram a sofrer com ataques ou medo do povo se revoltar, mas o interesse de Kösem não era em mais ninguém além de Ahmet. A sultana deixou sua habitação, passou em frente a ala das odaliscas com rapidez, mas pode ouvir os murmúrios e notar as caras de surpresa ao vê-la de pé. Kösem foi até o pavilhão real, Kassim paxá estava na porta junto ao médico particular do sultão, a valide sultana e a sultana Safiye. Os quatro olharam surpresos para ela.
Ela fez um reverencia para as sultanas, mas voltou sua atenção para o médico.
— Qual o estado do nosso sultão?
— Ainda não há melhorado, sultana. Talvez não passe desta noite. — disse.
— Não diga tolices. Dê isto ao sultão, ele há de ficar saudável novamente.
— O que é isto, Kösem? — a valide sultana perguntou, olhando para o frasco que ela havia entregado ao médico.
— A cura. Rápido, efendi, não devemos perder mais tempo. Ahmet deve levantar-se o quanto antes. — Kösem o encarou com seriedade.
O médico olhou para a valide, querendo saber silenciosamente se poderia confiar no que Kösem falava. Râbi'a sabia perfeitamente que a jovem sultana não era capaz de matar ao sultão, não iria ganhar nada matando-o ali, preferia confiar, não em Kösem, mas em Yasemin que acolheu como uma filha.
— Como ordena, sultana. — o efendi reverenciou e regressou para os aposentos de Ahmet.
Kösem foi junto e observou os ağas e o efendi preparem a cura misturando-a na água para que tivesse mais. O efendi havia decidido dar a cura aos poucos, Kösem não discutiu, só de saber que Ahmet ficaria bom já sentia-se aliaviada. A sultana ficou ao lado de seu amado sultão, segurando sua mãozinha o tempo inteiro.
Três dias inteiros ali, sentada observando o efendi dar-lhe o cura, sem soltar sua mão. A princípio não havia efeito algum, e na terceira noite ela deixou o lado de Ahmet por alguns instantes e caminhou até a varanda para respirar um pouco.
Kassim estava ali, ele saia poucas vezes dali, tinha medo que a sultana precisasse de algo e ninguém mais poder ajudá-la. A sultana deu um sorriso tranquilo mirando as costas do homem parando com as mãos no mármore.
— Paxá. — chamou, e este virou-se fazendo uma reverencia e abaixando seu olhar. — Já está muito tempo aqui. Você é o protetor do nosso sultão, como vai protegê-lo se nem descansa?
— Perdoe-me, sultana, mas a senhora também deveria descansar, depois daquele... Não deveria estar de pé.
Kösem deu uma risada sem graça, e caminhou até o parapeito apoiando, olhou para a baia que ficava especialmente linda na luz do crepúsculo.
— Não posso parar minha vida por conta de um tiro que não me matou. — disse. — Sou sultana, tenho filhos pelo bem deles devo cuidar do sultão. Ainda são jovens, jamais iriam governar bem... — ela voltou-se ao paxá ainda de olhar baixo. — Como sultana, eu ordeno que vá descansar.
O paxá deu um sorriso mínimo, enquanto Kösem sorria largamente.
— Vá, Kassim, eu cuidarei de nosso sultão. — pediu com uma voz mais doce.
O paxá lhe olhou por alguns instantes e a revenriciou.
— Que Alá lhe mantenha sempre conosco, sultana.
— Amém.
Assim que Kassim se foi, Kösem sentou no divã e ficou observando o céu estrelado.
Oh, Alá, não leve meu Ahmet. Ainda preciso dele.
Levantou-se e olhou para o quarto, retornou para o lado de Ahmet e beijou-lhe nos lábios, deixando uma lágrima escorrer por sua bochecha.
—Eu te amo, não me deixe Ahmet. — sussurrou, ao afastar-se.
Kösem saiu dos aposentos deixando os ağas vigiarem o sultão. Ela também precisava dar atenção a seus filhos, que deveria estar desesperados pela mãe que sumiu. E, não podia negligencia-los para sempre.
___________¥Curiosidades¥___________
A tomada de Constantinopla por Mehmed II, é vista como o marco do fim da Idade Média e o começo da Idade Moderna. O cerco a cidade também mostrou ao mundo a efetividade de canhões contra as muralhas, uma vez que Constantinopla era conhecida por suas muralhas extremamente resistentes.
______________________________________

VOCÊ ESTÁ LENDO
A Sultana
Fiksi SejarahUm mundo perigoso, em um harém tudo que se respira é traição. Todas desejam a mesma coisa, ser a mãe de um príncipe e assim conseguir se estabelecer como uma sultana, mas ser apenas mãe dos filhos do sultão, não parecia ser o suficiente. Ela não qu...