XXXII

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O palácio inteiro estava murmurando sobre o desaparecimento do jovem şehzade, Ahmet sentia-se muito abalado, ordenou que encontrassem seu filho a qualquer custo, e enquanto isso, Kassim estava responsável por interrogar aos suspeitos por aquele desaparecimento, e não foi surpresa nenhuma para a sultana quando foi chamada para o interrogatório. Ela aguardava no corredor pela sua vez, pois Râbi'a estava com ele, já que a criança desapareceu sob seus cuidados. 

Quando a valide sultana saiu, foi a vez de Kösem, o ağa da porta escoltou a sultana até a sala. Kassim estava de pé no meio da sala, e em um canto não muito distante estava um escriba anotando tudo que era dito, Kösem teria que ser muito cuidadosa com o que iria falar, ou poderia acabar sendo apontada como a culpada. 

Sentou-se no divã preparado para as sultanas, e olhou para Kassim aguardando que este iniciasse suas perguntas. Ambos se olharam por um breve momento antes dele finalmente resolver falar.

— Sultana Kösem, sua inimizade com a mãe do şehzade Murad é bem conhecida por todos, inclusive, dizem que você foi a culpada por ela ter sido enviada ao velho palácio. Por que se vingar em um bebê inocente?

Kösem abaixou o olhar, ficou em silêncio por um bom tempo, até que Kassim a chamou, e esta o encarou com os olhos brilhando devido as lágrimas em seus olhos.

— Eu amo a todos os şehzades, você mesmo era prova do quanto eu os queria comigo. Mas a valide os tirou de mim... eu queria ter cuidado dele, deveria ter brigado mais para mantê-lo junto a mim. 

Algumas lágrimas começaram a descer pelo rosto da sultana, e por mais que Kassim mantivesse uma aparência tranquila, pelo olhar do homem, Kösem soube que este estava sem saber como prosseguir. Ela limpou as lágrimas com as mãos e fingiu tentar se acalmar.

— Saliha me agrediu primeiro, quase perdi meu filho se não fosse por você e Gül ağa. Já tentaram me assassinar. E mesmo quando tentei melhorar as relações com a sultana Saliha, está me gritou, e disse que a primeira ordem quando seu filho assumisse ao trono seria ordenar o assassinato dos meus filhos... — ela levantou-se e encarou a Kassim com o rosto molhado pelas lágrimas que não paravam. — Eu amo Selim, Mehmed, Osman, Hürrem, Geyhan e Murad. Para mim todos eles são meus filhos, e me doi saber que um deles sumiu tão repentinamente. 

Derramar lágrimas nunca foi a mais dificil das tarefas, fazia isso tão naturalmente quanto respirar. Quando Kassim se deu por satisfeito, ela saiu da sala secando as lágrimas forçadas e ao ver Saliha perdida em sua dor, lhe sorriu como um demônio faria. 

Saliha não se controlou e virou-se para encarar a Kösem.

— Sua maldita! Você sumiu com meu filho! Sua desgraçada, eu vou acabar com sua vida, Kösem. Eu vou te destruir! — gritou alto o suficiente para qualquer um ouvir, a sultana parou e a encarou como se não fosse nada, e sorriu para ela, desafiando-a. — Desgraçada!

Antes que a mão de Saliha chegasse em seu rosto, ela segurou o braço da sultana, Yasemin jamais teria sido capaz de fazer algo assim, mas Kösem era determinada e não abaixava sua cabeça para alguém como Saliha.

— Não me confunda com a inocente Yasemin, ela está morta. Eu sou Kösem. Sou a sultana Kösem, e não tenho medo de você, nunca mais tente tocar em meu rosto ou juro por Alá que te transformarei em cinzas. 

Kösem largou o braço de Saliha com uma certa brutalidade, a sultana chorosa não se atreveu a dizer mais nada a mulher que se retirava do local acompanhada de suas escravas. 

A sultana dispensou suas demais escravas, e ficou apenas com Meleksima. As duas seguiram por uma passagem secreta para fora do palácio, havia uma carruagem a sua espera, Gül ağa abriu a porta da carruagem e Kösem subiu primeiro seguida por Meleksima, e então se juntou a elas no cubículo.

A carruagem não demorou a seguir pela estrada secreta para longe do palácio, Kösem havia deixado sua coroa em seus aposentos, e seu vestido rico em detalhes valiosos, estava coberto por uma capa, ajeitou o capuz na cabeça, e encarou os dois que estavam a sua frente.

Os dois tinham uma expressão um tanto culpada no rosto, o que não era para menos, o que fizeram não era algo muito bom. E, Kösem sabia perfeitamente que teria que pagar por isto em algum momento, mas que fosse no momento de sua morte, pois tudo o que queria agora era assegurar o futuro de sua própria dinastia. 

Ela estava calma ao contrário dos dois, mesmo sendo a mais culpada entre eles. Estava começando a se tornar muito mais do que uma sultana, Meleksima e Gül ağa notavam isso, a mulher que um dia teve um rosto de anjo, estava se transformando na própria escuridão, o que ainda a lhe deixava um passo longe da verdadeira escuridão era o traço humano da piedade. Kösem se recusava a machucar um ser inocente como uma criança, e ela até mesmo tentou, mas chorou e ao invés de matar o sehzade ordenou que este fosse entregue a uma família distante. 

Kösem desceu da carruagem assim que ela parou em frente a uma casa um tanto quanto decadente, ela respirou fundo e seguiu para dentro da casa. Uma mulher de vinte e poucos anos a recebeu, mas o que a sultana queria mesmo era ver o bebê e descobri em que condições ele estava sendo criado ali. Observou em silêncio o comodo pequeno, e um tanto escuro. Virou-se para a mulher e a olhou torto, era claro que era muito pobre, seu olhar logo recaiu sobre Gül ağa e esta o repreendeu.

— Onde está o bebê? — Perguntou, olhando para um assento, mas preferiu não sentar ali, tinha medo que quebrasse. 

Aguardou enquanto a mulher foi buscar o bebê que estava em um berço forrado com panos velhos, Kösem fez uma careta e olhou Gül ağa querendo torcer seu pescoço. O eunuco apenas deu de ombros. Quando a mulher trouxe o bebê, esta agradeceu mentalmente pela sua manta ser limpa ao menos, e ter uma aparência melhor do que o resto da casa. 

Os olhos da sultana brilharam ao ver o pequeno que dormia tranquilamente. Pelo que sabia, a mulher havia perdido um filho recentemente e estava com os seios cheios de leite, claro que ela não sabia sobre a origem do menino, muito menos quem era Kösem.

— A senhora vai se mudar daqui. Irá para outro lugar, e viverá lá. — ela fez um sinal para Gül ağa com a cabeça, e o eunuco tirou entregou um grande saco cheio de moedas de ouro. — Vá. É melhor que cuide bem deste pequeno, você será a mãe dele, e jamais devem regressar a Istambul. Me entende? Ótimo.

Kösem deu uma última olhada para o pequeno, abriu um pouco a manta dele e olhou para a marca de nascença em seu ombro. Não podia se esquecer nunca daquela marquinha, pois se um dia ele voltasse, iria saber quem realmente era.

— Dê um nome a ele, e o cuide bem. — disse entregando o bebê.

A mulher assentiu em silêncio e Kösem se foi daquele lugar. Entrou na carruagem e sorriu satisfeita, era um problema a menos em seu caminho, precisaria ter paciência agora, e tudo iria se ajeitar com o tempo.










___________¥Curiosidades¥___________

Şehzade Mehmed, era filho do sultão Süleyman, e da sultana Hürrem. Adoeceu em Manisa e morreu pouco depois, durante a noite, provavelmente de varíola. No dia seguinte, Lala Pasha e Defterdar İbrahim Çelebi levaram seu corpo para Istambul. Após sua morte, seu irmão mais novo Selim o substituiu como governador de Manisa.
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