Cada vez ia piorando, os médicos faziam todos os esforços possíveis para salvar o sultão, mas parecia que nada adiantava. Kösem sentia-se a deriva, agarrado-se a esperança de que Ahmet abrisse os olhos e estivesse curado. Este era seu único desejo. Manchas escuras estavam ao redor dos olhos da sultana que passou noites em claro, vigiando a respiração do sultão e orando para que Alá poupasse sua vida.
O único lugar a onde ia era a varanda, e tudo o que via era um abismo, não queria perder a Ahmet, seu coração não iria conseguir se manter e ela sabia disso já que encontrou nele a paixão que tanto tentava rechaçar. Sentiu uma mão em seu braço e voltou sua atenção para a pessoa, era a valide sultana, ela também tinha uma expressão abatida, mas não tanto quanto Kösem.
— Kösem, vá descansar. Dá para ver em teu rosto que não ira aguentar muito mais, vá descanse ainda tem filhos para cuidar. — seu tom era o mesmo de quando as duas eram amigas, o que fez Kösem pensar um pouco mais, mas esteve todo esse tempo com Ahmet, se tivesse sido infectada, não iria levar esse mal a mais ninguém.
Kösem assentiu em silêncio e segurou na mão da valide.
— Se eu morrer, quero que cuide dos meus filhos sultana. Não irei do lado de Ahmet, irei ficar até o fim, mesmo que eu fique doente. — ela deu um sorriso e fez um reverência, precisava retornar para dentro. — Agradeço sua preocupação.
Ela virou-se e retornou para dentro, fechando as portas. Caminhou até a cama de Ahmet e sentou-se ao seu lado, segurou em sua mão e a beijou deixando sua cabeça repousar no peito do sultão. Cantarolou baixinho a música que Ahmet tanto gostava de ouvir, e a cada verso sua voz ia se comprimindo até ela apenas chorar, e Ahmet tomou fôlego, fazendo a sultana se ergueu e mirar sua face.
Seus olhares se cruzaram por um momento, mas seus olhos tinham um brilho diferente não parecia ser Ahmet quem a olhava, e suas palavras a deixaram confusa:
— Kösem... minha Kösem... vá. Não quero que você fique doente, você é a única que pode proteger este império... protege-nos, minha Kösem... — seu tom parecia ser de despedida, e a sultana ficou nervosa, não compreendia o que aquelas palavras queria dizer na realidade.
Ele fechou seus olhos novamente, e Kösem desabou em lágrimas, se ela tivesse se interessado nos ensinamentos de sua avó no passado não estaria ali desesperada implorando para uma divindade salvar a vida do pai de seus filhos.
A sultana deitou-se ao lado dele e adormeceu, sentia-se tão cansada que se entregou a escuridão, ou deveria ter sido, teve uma visão de homens armados entrando no palácio e matando todos em seu caminho, e não só os janízaros, mas até a povo comum. Viu morte e dor, viu seus filhos mortos, e não só isso, viu a Selim sentado no trono.
Kösem acordou desesperada, sua respiração acelerada, levantou-se e caminhou até a porta da saída, e Gül abriu a portas dando de cara com a sultana. O rosto dele era de temor.
— Sultana, é terrível, o povo está na porta do palácio junto com os janízaros, estão exigindo a presença do sultão. Os boatos sobre sua morte se espalharam mais rápido do que pensávamos. — o ağa estava nervoso. — Devemos ir, temos que levar os şehzades a um lugar seguro...
— Faça isso, eu irei até o povo.
— Mas, sultana...
— Nada entrará neste palácio, nada irá morrer hoje. — Kösem disse com firmeza, e olhou uma última vez para Ahmet dormindo em sua cama.
Gül ağa saiu correndo para cumprir as ordens da sultana, e Kösem deixou os aposentos de Ahmet, mas os guardas pessoais entraram para proteger. O palácio inteiro havia sido fechado, as mulheres se esconderam na parte subterrânea, a maioria dos soldados do palácio foram para fora, para defender a entrada daqueles rebeldes. Kassim paxá estava com eles, uma espaço estava determinado, e nenhum deles o cruzava, pois sabia que haveria sangue, e não era isto que aconteceria aquela noite.

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A Sultana
Historical FictionUm mundo perigoso, em um harém tudo que se respira é traição. Todas desejam a mesma coisa, ser a mãe de um príncipe e assim conseguir se estabelecer como uma sultana, mas ser apenas mãe dos filhos do sultão, não parecia ser o suficiente. Ela não qu...