Kösem abriu os olhos um tanto contente aquela manhã, felizmente uma menina havia nascido e Mahfiruz não tinha poder algum, era um inútil. Um sultão precisava de filhos varões, e não de meninas, o trono nunca era herdado pelas mulheres, os sehzades que lutassem pelo lugar no trono. E era o que Kösem temia, junto com Mehmed nasceu seu temor pelo destino.
- Sultana, trago está carta de nosso sultão, para você.
Um sorriso surgiu no rosto da sultana, há meses aguardava por uma noticia de Ahmet e finalmente a tinha, sem demora nenhuma passou a ler-la, seu coração se aqueceu ao ler as mais belas palavras escritas unicamente para a dona de seu coração.
Levantou-se e deixou a carta dentro de seu baú especial, ali tinha todas as cartas lhe enviava, alguns eram trechos de poesias que escriva só para ela. Sorriu, e na mesma hora a porta de seu quarto foi aberta, Safiye entrou em seus aposentos e os analisou, como sempre.
Kösem a reverenciou e encarou a sultana de fios loiros, as duas se olharam em silêncio por algum tempo, uma troca de ofensas silenciosas que durou, até Safiye dispensar os criados, e está se aproximar de Kösem.
- Em que posso ajudá-la, sultana? - Kösem perguntou por fim, quebrando o silêncio entre as duas.
- Soube que mandou distribuir moedas pelo nascimento da filha de Mahfiruz. - Safiye disse com um tom inocente.
- Sim, todo nascimento deve ser celebrado. Acaso uma nova vida não é motivo para comemorar? - indagou com um tom cinico e desafiador, olhando direto no par de gemas azuis celestes da sultana Safiye. - Minhas ações não são nada ofensivas.
- Não se faça de cínica, Kösem. Sei bem o motivo pelo qual mandou distribuir as moedas de ouro, mas você esquece que Mahfiruz pode ter outro filho.
Kösem riu.
- Igual a você? Que eu saiba, até hoje, não conseguiu dar a luz a filho, mas isso é só parte do seu castigo. - Kösem deu um passo para perto sultana, mostrando que não tinha medo dela, ademais ela já não tinha medo de ninguém dentro daquele harém. A sultana de cabelos negros meneeou com a cabeça e sentou-se em seu divã, mostrando um lugar ao seu lado. - Eu sei que vive uma vida que não deseja, uma vida traçada por sua mãe... que lamentável.
Kösem pegou sua taça de metal com água e bebeu um pouco com seus olhos fixos em Safiye, dava para ver a raiva nos olhos da sultana, e Kösem se deleitava com ela.
- Nunca será mãe, está fadada a viver todos seus dias na infelicidade, com Rüstem paxá.
Safiye não conseguiu ficar quieta, não podia agredir Kösem, mas não evitou de descontar sua ira na mesa, jogando tudo sobre ela no chão. A sultana Safiye aproximou-se de sua rival, e olhou bem no fundo daquele par de ônix que a encaravam com um simples cinismo.
- Te matarei com minhas próprias mãos. - ameaçou, e Kösem sorriu, dava para ver que a sultana desejava esganá-la ali mesmo, mas não faria. Não arriscaria ser morta quando o sultão chegasse.
Safiye virou-se para deixar os aposentos, enquanto Kösem apenas sorriu satisfeita. Agora sabia exatamente o que poderia acontecer, teria que ser muito cuidadosa.
- Melek. - Kösem chamou e a ruiva entrou com rapidez em seus aposentos.
- Encontre a Gül ağa e lhe diga para entregar uma carta a nosso sultão. A carta sobre Rüstem e Ibrahim paxá. Já está na hora deles terem seu fim, a valide sultana deve perder seus fiéis lacaios. - Kösem fez um sinal com a mão para que a jovem se fosse logo.
Destruir o conselho por dentro, que coisa melhor, algumas mulheres iriam preferir afastar seus inimigos, mas Kösem queria manter Safiye ali. Queria mostrar que nascer sultana não significava nada se não era forte e inteligente.
Os desvios exorbitantes do tesouro imperial estavam registradas no livro de Halil paxá, o homem responsável por revisar todos os gastos. Com uma investigação bem feita, Kösem não só descobriu que Ibrahim paxá desviava dinheiro, como também dizia ser mais poderoso que o próprio sultão, uma clara ofensa. Quanto a Rüstem paxá, este seria morto por suas atitudes débeis ao seguir ordens da valide sultana e ao incentivar o motim no Egito.
Uma informação valiosa que havia segurado até aquele momento. Estava feliz, quando o sultão regressasse vitorioso da campanha ela teria o poder que necessitava no conselho imperial.
- Nurhan, irei aos banhos. Necessito aproveitar esse momento de paz. - a sultana disse com um largo sorriso no rosto.
Os banhos tinham sempre a mesma aparência, o mármore branco com cheiro de sabão e essências, a área comum era algo que qualquer uma poderia usar, mas havia um lugar especial onde as sultana poderiam desfrutar de um banhos relanxamte de essências e espumas. A água morna relaxava cada parte de seu corpo enquanto ela se regogizava com sua eminente vitória diante da valide sultana e sua filha inútil.
- Creio que está tudo indo como deseja sultana. - Nurhan disse com um sorriso no rosto.
- Sim, em breve haverá só uma sultana neste palácio. - sorriu, reconstando seu pescoço no mármore. - Traga algo para beber, Nurhan.
- Sim, sultana. - a mulher saiu, dos banhos.
Kösem se divertia com seus pensamentos, fazendo planos para quando ganhasse o jogo. Cantarolou baixinho, mas ao ouvir o barulho da tranca da porta ficou alerta. O vapor dificultava um pouco ver quem se aproximava.
- Nurhan? - perguntou, tentando enxergar a silhueta que se aproximava. - Quem é você?
A jovem de cabelos loiros a encarou com uma certa seriedade, e sem que Kösem esperasse está lhe afundo na água. A sultana tentou se soltar, esperneou, mas a jovem tinha força, e não permitia que Kösem se livra-se.
Foram os segundos mais desesperadores da vida de Kösem, ela pode respirar quando a jovem se distraiu com batidas na porta e a voz da kalfa, gritando por Kösem. Antes que a sultana pudesse dizer o que estava acontecendo foi forçada a voltar para debaixo d'água.
Ela tentou, mas nada, suas forças estavam indo e a sultana chegou a parar de se mexer. Achando que teve algum êxito, ela se afastou da banheira, e na mesma hora Afife, Gül ağa e Nurhan entraram nos banhos.
Era óbvio o que a jovem havia feito, Nurhan levou as mãos aos lábios desacreditada, não queria acreditar que Kösem havia sido afogada.
A sultana no fundo da água escura, um jeito indgno para alguém como ela, um jeito que ela jamais iria se permitir morrer. Kösem levantou-se como se fosse um demônio vindo do inferno para buscar uma alma encomendada, a sultana estava tomada pela ira, e não pensou duas vezes antes de puxar a mulher para dentro da banheira e ficar sobre ela. A escrava do harém tentava se soltar, mas Kösem usava o peso de seu corpo tornando a tarefa inútil.
- Como te atreves? Eu sou sultana Kösem, sua insolente! - exclamou.
Gül ağa correu para tirar a sultana de cima da escrava, era proibido matar no harém,e com testemunhas ali seria o mesmo que estar se auto condenando. Quando o eunuco conseguiu tirá-la. Nurhan a cobriu com um pano branco, e Afife ajudou a moça.
- Afife hatun, quero está maldita no calabouço, ninguém além de mim pode vê-la. Entendido? - Kösem perguntou com uma voz severa, e a mulher apenas assentiu, não podia ir contra as ordens de uma sultana.
Kösem sabia bem quem havia feito aquilo, e iria mandar um presentinho especial para elas. Ordenou a Gül ağa que presenteasse as sultanas com escorpiões em caixas douradas, e em cada caixa iria mandar junto um dedo e uma mecha de cabelo da escrava que lhe enviaram.
Elas estavam sendo mais agressivas, e agora era a vez de Kösem revidar.
___________¥Curiosidades¥___________
A rainha Elizabeth I e a sultana Safiye tinham uma relação amistosa, chegando a se corresponser várias vezes, com cartas e trocas de presentes. A sultana Safiye ajudou bastante na relação entre os dois impérios. Quando Elizabeth I morreu, a sultana Safiye ficou três dias de luto pela rainha.
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A Sultana
أدب تاريخيUm mundo perigoso, em um harém tudo que se respira é traição. Todas desejam a mesma coisa, ser a mãe de um príncipe e assim conseguir se estabelecer como uma sultana, mas ser apenas mãe dos filhos do sultão, não parecia ser o suficiente. Ela não qu...