XVII

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— Tem certeza disto, Gül ağa? — Sem perguntou um tanto desconfiada.

— Sim, sultana. Eu mesmo ouvi com meus próprios ouvidos, a valide sultana deseja enviar uma jovem aos aposentos privados esta noite. — Gül ağa respondeu, e o rosto de Kösem se retorceu em raiva.

Soltou o ar pesadamente, a valide estava começando a fazer seus movimentos, mas sua tática de substituir uma sultana por outra já era bem conhecida e Kösem nunca foi como Saliha. Era muito mais inteligente.

— Nurhan, descubra quem é essa menina e me conte tudo sobre ela.

— Sim, sultana. Com sua licença. — fez uma reverência e se foi com pressa.

Kösem começou a caminhar, e o eunuco a seguia de cabeça baixa. A mente da sultana começava a bolar maneiras para se desfazer da sultana, um método para afastá-la ou talvez até mesmo tirar sua vida. A valide era bem protegida, tinha Nilüfer, Afife hatun e Haci ağa a seus serviços além de centenas de outros espiões espalhados por todo palácio. Estava em uma desvantagem notável, e era isso que a tornava ainda mais determinada, mostraria como alguém com pouco poderia tirar tudo dela.

Parou no mezanino que ficava de frente ao pátio das recém-chegadas ao harém e olhou para baixo, viu algumas servas do harém tentando disciplinar as novas escravas. Encarou uma em especial, uma jovem de olhar assustado que segurava algo entre suas mãos e rezava baixinho, apesar de mal tratada era notável que tinha certa beleza, e Kösem sabia reconhecer alguém que tinha um futuro brilhante pela frente.

— Gül ağa, vê a jovem de cabelos ruivos? Traga-a para mim. Tenho planos para ela.

— Sim, sultana. — disse fazendo uma reverência.

Kösem observou dali, seu rosto inocente serviria para muitos dos planos da sultana. Estava na hora de começar a guerra contra a sua inimiga mais poderosa, e tomar aquilo que no momento desejava: O harém.



Estava ninando Hürrem em seus braços, cantando só para a pequena sultana de madeixas ruivas e rosto angelical. O nome era perfeito para ela, pois o sorriso não sumia do rosto daqueles que admirassem sua beleza singela, era o bebê mais bonito de todos, nenhum outro poderia se comparar àquela sultana tão especial. Ouviu batidas na porta, e logo viu Selim entrando, estava com um sorriso travesso no rosto.

— Mãe. — disse antes de sentar-se ao lado de Kösem, depois que ficou perfeitamente saudável, Selim havia passada a chamá-la daquela forma. E, o coração de Kösem se enchia de alegria toda vez que escutava. — Está é minha irmã?

— Sim, seu nome é Hürrem. Quer segurá-la? — perguntou com sorriso. E entregou a pequena sultana a Selim, o ajudou a sustentar a irmã em seus braços e só soltou quando teve certeza que ela não iria cair.

Hürrem abriu seus grandes olhos claros e encarou seu irmão soltando uma doce risada infantil que fez Selim sorrir abertamente. Era uma novidade para ele poder segurar alguém tão pequeno em seus braços.

Kösem observou os dois com um sorriso, e acariciou Selim, jogando os fios castanhos e ondulados para trás. Adorava estar junto de seus filhos, até mesmo do pequeno Murad que divida a mesma ama de leite com seu querido Mehmed. Algumas vezes chegava a amentar ele, era sua forma de desculpar-se por ter afastado ele dos braços de sua verdadeira mãe, embora não se sentisse arrependida de nada do que fizera, afinal, Saliha havia merecido.

Quando Selim de foi para ter sua primeira aula, o sultão entrou em seus aposentos enquanto estava estava lendo tranquilamente um livro italiano, pois lhe agradava aprender novo idiomas e entender mais sobre outros costumes, hábitos de uma vida livre que nunca morrem. Deixou o livro sobre a mesa e levantou-se para fazer uma reverência.

— Ahmet. — disse com um sorriso que logo sumiu, ao notar a expressão de aflição em seu rosto. — O que houve? Está se sentindo mal? — aproximou-se dele e tocou em seu rosto. Estava preocupada com ele.

Ahmet deu um sorriso fraco e repousou suas mãos sobre as de Kösem, acariciando-as. Beijou-lhe a palma da mão e logo as juntou entre as suas. Ele olhou para chão, estava claramente preocupado, e isso deixou Kösem ainda mais nervosa, odiava quando lhe deixavam curiosa e simplesmente faziam mais suspense pois o pior sempre passava por sua cabeça.

— Kösem, não sei como dizer isso, mas há alguns dias, enquanto regressava ao palácio cruzei com um homem estranho. E este me disse... — Ahmet se deteve por alguns instantes e soltou um suspiro pesado e afastou aqueles pensamentos. Seus olhos recaíram sobre o livro na mesa, e ele logo aproveitou a chance para mudar de assunto. — O Inferno de Dante... é uma leitura realmente agradável.

Kösem notou aquela súbita mudança do sultão, mas não desejava ser invasiva demais, afinal uma nova criada iria aos seus aposentos, contudo se estivesse com ela os planos da valide sultana iria completamente por água abaixo. Ela sorriu e virou-se para pegar o livro na mesa.

— Nurhan hatun está me ensinando a falar italiano. — disse com um grande sorriso no rosto. — Se bem que, ainda não compreendo tudo o que está escrito aqui.

Ahmet sorriu e pegou livro, abriu na página marcada com uma pena, e caminhou para a cama de Kösem indo sentar-se nela. A jovem sultana o seguiu, este a puxou para sentar-se ao seu lado, entregou o livro a ela e deitou-se com a cabeça no colo dela.

— Leia para mim.

— Mas, majestade, eu não...

— É uma ordem. — disse com um tom sorridente, e Kösem assentiu.

De fato sua leitura ainda não estava boa o suficiente, conseguia falar muito pouco mesmo esforçando-se muito mais do que conseguia, enquanto isso Ahmet usava aquele momento para descansar sua mente que se encontrava em um completo caos.










___________¥Curiosidades¥___________

Os eunucos tinham grandes privilégios junto ao sultão. Possuíam apartamentos próprios no palácio, e tinham grandes poderes estatais em suas mãos. Controlando por vezes o comando de exércitos poderosos, ou em funções administrativas no alto escalão otomano. Eles eram um dos únicos que podiam falar em particular com próprio sultão. Uma característica marcante das sociedades islâmicas com relação aos escravos, é que estes possuíam uma enorme mobilidade social. Passar de meros serviçais de casas e palácios ou soldados, para paxás e grão-vizires era só uma questão de tempo.

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