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— Rüstem paxá? Tenho uma mensagem da valide sultana. — Yasemin retirou um pedaço enrolado de papel de dentro da manga de seu vestido e entregou discretamente ao paxá.

Por mais que estivessem em um local "isolado" do jardim, jamais poderia dar o braço a torcer. A valide havia sido clara quando disse que em qualquer canto poderiam haver espiões e que Yasemin deveria ser o mais cuidadosa possível ao entregar a mensagem, ou seria responsabilidade dela.

Yasemin ajeitou o capuz sobre a cabeça. Deixou o paxá sozinho, precisava retornar o quanto antes para o harém e garantir a valide sultana que havia entregue a mensagem, ser próxima a Râbi'a tinha algumas vantagens para Yasemin, só com ela aprendia muito mais sobre o harém do que poderia aprender apenas sentando-se e conversando com as demais meninas, e também ganhava uma certa liberdade para caminhar pelo jardim, claro que não podia demorar muito ou os sussurros poderiam acabar com ela e ainda tinha uma meta para alcançar. 

Escutou o trote de um cavalo e seu relinchar, olhou para trás e viu o animal indo em sua direção, completamente desgovernado com uma menina sobre ele. Reconheceu a pequena sultana, ela iria se machucar, tinha que parar o animal. Ficou no caminho do animal, e ergueu sua mão, desde que se lembrava tinha aquele dom de acalmar até a pior das bestas e com o garanhão branco não foi diferente, escutou o choro da sultana e foi até ela. 

— Está tudo bem, sultana, o cavalo não vai mais correr. — Yasemin disse tentando acalmá-la, por sorte ela não havia se machucado apenas chorava sem parar, mas não deixou de achar uma loucura permitir que uma menina tão jovem montasse em um cavalo adulto. — Venha comigo.

Yasemin a tirou de cima do cavalo e a pôs no chão, abaixou-se para ficar da mesma altura que ela, e limpou as lágrimas dela. 

— Não chore, sultana. 

Enquanto tentava consolar a menina, viu um homem correndo até elas. Yasemin encarou-o um tanto contrariada.

— A sultana quase caiu do cavalo? E que faria se ela se machucasse? Por acaso não está ciente que ela ainda é muito nova para montar em um animal tão grande, que tivesse lhe dado um pônei antes. — Yasemin vociferou, e tomou a mão da sultana. — A valide irá saber disso, da sua irresponsabilidade para com os filhos do sultão. Venha, sultana, lhe levarei até sua avó.

Não esperou nenhuma resposta por parte do homem, apenas levou a sultana consigo, segurando em sua mão o tempo inteiro.

— Pensei que eu pudesse montar um cavalo... — choramingou, com os olhos fixos no chão.

— E você pode, sultana, apenas é muito jovem para um daquele tamanho. Se fosse um pônei não teria tanta dificuldade. 

— Como sabe disso? 

— Eu comecei a cavalgar quando tinha sua idade, sultana, mas comecei com um pônei. — Yasemin respondeu com um sorriso no rosto.

As duas foram até os aposentos da valide, e assim que chegou lá a menina correu para um homem que conversava com a sultana. Yasemin fez um reverência para a valide que franziu o cenho ao vê-las ali.

— Fatma, querida, o que aconteceu? Por que não está com sua mãe? — Ahmed perguntou, pegando sua filha no colo. 

— Eu queria montar a cavalo, mas ele acabou ficando maluco e começou a correr muito rápido. Alguns ağas tentaram pará-lo, mas só a moça conseguiu. — Fatma disse com a voz baixa.

A valide olhou para Yasemin, que mantinha sua cabeça baixa. O sultão também virou-se para olhar a jovem, tentou não demonstrar que estava surpreso e nem mesmo ela conseguiu disfarçar, pois em em um momento ela apenas quis olhá-lo rapidamente para saber como era seu rosto e teve uma surpresa. 

A SultanaOnde histórias criam vida. Descubra agora