XXIX

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O harém em dias normais era bem tranquilo, Nilüfer kalfa mantia as moças sempre ocupadas com algum trabalho. Era a mão direita de Afife no harém, uma das servidoras leais da valide sultana. 

— A sultana Saliha pediu que eu viesse chamá-la. Está lhe esperando para falar de algo muito sério. — Meleksima disse com a cabeça baixa.

Nilüfer assentiu, todos aqueles mais próximos da valide sabiam do trabalho de espiã que a garota fazia. Meleksima levou Nilüfer por uma passagem secreta no harém, saíram em uma sala onde viu a sultana de costas, olhando para algo em suas mãos.

— Sulta... — as últimas silabas desapareceram em sua garganta, ao ver o rosto de outra pessoa.

O olhar no rosto de Kösem era cheio de maldade, não era nada humano. O anjo que comumente estava em seu rosto havia dado lugar a um ser feito plenamente de escuridão e maldade, com um sorriso largo. Ela sentou-se no divã como um sultão faria, e fez um gesto com a mão.

Dois ağas seguraram a mulher e a colocaram de joelhos, um deles forçou-a a abrir a boca para despejar um liquido transparente. Nilüfer sabia o que aquilo significava, estava sendo envenenada, ela olhou para Meleksima que parou ao lado da sultana.

— Posso acabar com a dor que vai sentir, isso se me contar algo sobre a valide que realmente valha a pena. — Kösem mantinha um olhar sério no rosto, apenas esperando que ela começasse a falar.

Os efeitos do veneno estavam começando a fazer efeito, e Nilüfer agonizava enquanto lágrimas escorriam por seu rosto e os agas continuavam a segurá-la. 

— A sultana... envenenou o antigo sultão. Ela o matou.

Kösem franziu o cenho, era algo muito grave o que ela dizia.

— Está tudo... tudo no diário particular dela. Incluindo os nomes de quem a ajudou... 

Nilüfer estava começando a sufocar, ela implorava com o olhar para que Kösem lhe desse o antidoto. 

Um sorriso surgiu no rosto da sultana, e esta se levantou.

— Você foi muito útil, Nilüfer. Irei pedir que Alá a leve ao paraíso. 

Kösem fez um gesto com as mãos, e os ağas colocaram uma corda em seu pescoço. Nilüfer ficou suspensa no ar enquanto sufocava e a sultana apenas lhe sorria. 

Virou-se para sair daquela sala, acompanhada por Meleksima. Tudo estava indo de acordo com seu plano, mas poderia ficar ainda melhor. Caminhou pelo corredor com Meleksima lhe acompanhando. 

— A valide e Saliha estão acreditando em você? — Kösem perguntou com um sorriso no rosto, sabia que o rostinho de Meleksima era angelical demais e capaz de enganar as serpentes mais convencidas.

— Sim, sultana. Tudo o que diz para mim, informo a ela como ordenou. — Meleksima disse orgulhosa de si mesma.

Kösem virou-se para ela, e acariciou o rosto da menina com o polegar.

— Sua lealdade a mim, será recompensada no futuro. — Kösem sorriu.

Elas já estavam bem longe do lugar onde Nilüfer estava enforcada, e se afastou de Meleksima, deu as costas para a menina e respirou fundo.

— Seja rápida. 

Kösem deu mais alguns passos, e Meleksima avançou para cima dela, cravando a adaga na cintura da sultana. Ela gritou. Meleksima retornou ao lugar onde Nilüfer estaria, deixou a adaga suja de sangue no lugar e fugiu pelo caminho secreto, enquanto kösem sangrava no corredor.








___________¥Curiosidades¥___________

Ainda que o filho homem do sultão realmente morasse no harém com sua família, junto de sua mãe, quando ele atingia a idade necessária (entre 14 a 16 anos), ele era enviado para outras províncias. A ideia era fazer com que o jovem governasse o local. Nesse sentido, como passou a ser um pequeno sultão, o garoto poderia ter seu próprio harém. Era comum que os jovens levassem algumas das mulheres do harém de seu pai, para que pudessem começar o próprio, sempre acompanhados de suas mães.
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