Bastou a sultana deixar os aposentos, para Ahmet abrir seus olhos. A principio estava completamente desnorteado sem saber o que havia acontecido, sua última lembrança era de estar na varanda vendo o porto enquanto Kassim e Halil paxá lhe contavam sobre a rebelião dos janízaros, sentou-se na cama e observou o quarto ao seu redor, tudo parecia estar em ordem.
Levantou-se e caminhou até a vão da porta da varanda permitindo que a luz do sol lhe desse forças novamente, observou o céu azul em silêncio até ouvir a porta abrir, e Kassim entrar. A surpresa no rosto de seu amigo era nítida.
— Majestade, graças a Alá que está bem. — disse contente, se aproximando do sultão.
— Kassim, o que aconteceu todo este tempo?
O paxá respirou fundo, muitas coisas deveriam ser ditas, e o sultão pode notar no olhar do seu amigo que coisas muito ruins aconteceram durante o tempo que esteve na cama.
Escutou tudo mantendo uma aparência calma, mas por dentro sentia a ira aflorar, em especial por alguém ter tido o ultraje de atirar contra sua sultana, ficou aliviado em saber que ela estava viva e surpreendido por ela ter tido tanta coragem para enfrentar tantos revoltos.
— Reúna os janízaros e o povo, irei até a Sublime Porta. E chame o Grão-vizir Halil paxá, tenho muito que lhe dizer.
— Como ordena, sua majestade. — Kassim fez uma reverência e virou-se para sair.
Ahmet olhou para as chamas na lareira, e respirou fundo.
O trono havia sido colocado no pátio, havia guardas por todos os lados. Os janízaros foram os primeiros a chegarem, e fizeram filas, logo depois os homens civis estes aguardaram sob o sol olhando para a porta fechada atrás do trono.
Assim que as portas se abriram uma voz alta trovejou:
— Atenção, sua majestade, sultão Ahmet-khan!
Todos fizeram reverencia, e Ahmet caminhou até seu trono, parou em frente a ele olhando as pessoas curvadas com um certo desgosto, olhou para seus vizires de cabeça baixa, não acreditava que até sua sultana havia tido mais competência que eles, balançou a cabeça com desgosto. Jogou as abas de seu caftan vermelho para trás e sentou-se em seu trono apoiando o antebraço no joelho, e a mão sobre a coxa, queria castigá-los, mas não iria fazer isso não só por seu senso de justiça como também pela palavra de sua sultana.
Com sua mão direita fez um gesto para que eles levantassem, e os encarou em silêncio enquanto Kassim paxá, em seu uniforme de janízaro, começava a ler o decreto:
— Por vontade de Alá, e de sua majestade, sultão Ahmet, o Magnífico, fica declarado que neste dia sagrado nenhum homem que tenha cometido qualquer ato contra as leis na noite de quarta-feira, será perdoado. E, todas as divididas dos comerciantes serão quitadas com o tesouro imperial, assim como aqueles presos por suas dividas serão libertos e suas dividas quitadas. Nosso sultão tem em mente que o desespero levou-os a uma atitude tão drástica, e por demonstrarem tanta preocupação com o império e confiarem em nosso sultão, todas as famílias de Istambul, receberá um pago.
— Longa a vida ao sultão! Longa vida ao sultão! Longa vida ao sultão! — a multidão gritou, mas Kassim ainda não havia terminado.
— Mas, nosso sultão, está ciente de que os presentes hoje foram alimentados por mentiras que quase causaram a morte de uma pessoa na noite de quarta-feira, por está razão, aqueles culpados de espalhar o boato e os que atentaram contra a vida desta pessoa, serão executadas e serão enterrados como indigentes, pois tais atitudes não correspondem a alguém que mereça respeito.
Os guardas trouxeram um janízaro que claramente já estava ferido, assim como um dos vizires, e o homem que havia atirado em Kösem.
Ahmet levantou-se, e se aproximou do homem que tremia só de olhar ao sultão, este suplicava por sua vida, tentava argumentar, mas Ahmet não queria ouvir. O sultão ergueu sua mão, e um guarda depositou uma espada ali, os dedos de Ahmet fecharam-se ao redor do cabo da espada, e este continuou a encarar o homem.
— Você incitou ao povo, e como se não bastasse atentou contra a vida de uma sultana! — exclamou furioso, com um movimento rápido o guarda puxou a bainha enquanto Ahmet guiou a espada descarregando sua fúria ao decaptar o homem.
O corpo caiu no chão, e o sultão olhou para os presentes, todos pasmos com a cena do sangue escorrendo, e dos demais sendo mortos pelos guardas.
Ahmet os mirou, enquanto sua espada pingava, não precisava dizer mais nenhuma palavra, entregou sua espada ao guarda e virou-se para retornar para dentro do palácio. A justiça estava feita, e sentia-se mais aliviado, todos viram de perto o lado misericordioso e o cruel.
O sultão foi direto ao harém, queria ver sua sultana, e ao chegar em seus aposentos fez com que não lhe anunciassem, queria pegá-la de surpresa, e assim foi, encontrou Kösem contando histórias a seus filhos enquanto fazia caras e bocas, e gesticulava com suas mãos. Era uma das coisas que mais amava em Kösem, seu espirito livre.
E mesmo quando esta o mirou, não o olhou como um sultão e se levantou para fazer uma reverencia, ela o olhou com os olhos marejados, e logo um sorriso cresceu em seu rosto. Ela se aproximou de Ahmet e o abraçou com força, o aroma dos cabelos da sultana lhe fizeram sentir-se ainda mais vivo.
Ela se afastou e o mirou, com um grande sorriso.
— Papai! — seus filhos gritaram.
Selim, Mehmed, Hürrem, Geyhan e até o pequeno Osman correram para lhe abraçar. O sultão se abaixou, e permitiu-se receber o carinho de seus tão amados filhos, Meleksima levou Mustafá até ele.
Ahmet tomou seu filho nos braços, sorrindo enquanto olhava aquele rosto angelical. Foi sentar-se no divã, junto a Kösem e seus filhos sentaram-se nas almofadas ali. Pediu a Kösem que contasse uma nova história, e ficou ali com sua família, sorrindo. Naquele momento, todo o resto parecia ser só um sonho ruim, não era o sultão, se não um simples homem que estava encantado com o amor.
Fim...
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A Sultana
Historical FictionUm mundo perigoso, em um harém tudo que se respira é traição. Todas desejam a mesma coisa, ser a mãe de um príncipe e assim conseguir se estabelecer como uma sultana, mas ser apenas mãe dos filhos do sultão, não parecia ser o suficiente. Ela não qu...