Os olhos azuis como o mar sorriam com alegria ao ver seus sobrinhos, Safiye brincava com Osman segurando em sua mão e rindo de como ele era forte para um bebê. Não tinha dúvidas de que ele seria um príncipe como nenhum outro, ela olhou para Kösem que estava sentada com seu lado no divã. Meleksima entrou nos aposentos da sultana e serviu a bandeja com alguns aperitivos para as duas, ela manteve a cabeça baixa, mas Safiye a olhou como se a menina fosse um incomodo.
— É uma bela escrava. — Safiye sorriu, encarando a menina ruiva. — Dizem que aqueles com cabelos como seu, foram beijadas pelo fogo.
Meleksima anuiu em silêncio, e fez uma reverencia para se retirar, mas Safiye continuou a olhá-la, só quando a menina saiu que tornou a olhar para Kösem com seu sorriso forçado e uma falsa expressão amigável, era mais do que óbvio que as duas nunca poderiam ser amigas, estavam de lados opostos naquele jogo por poder que as sultanas travavam.
— Qual o nome dela? — perguntou com uma certa casualidade, pegando uma taça com suco.
Kösem bebeu um pouco antes de falar.
—Meleksima. — respondeu com calma, colocando a taça de prata de volta na mesa.
Safiye sorriu.
As duas permaneceram juntas por algum tempo, até que a sultana decidiu ver seu irmão. Deveria ter ido antes, mas Safiye tinha curiosidade em conhecer a mulher de quem sua mãe havia falado na carta que a trouxe de volta ao palácio, e pelo que viu Kösem era muito mais astuta do que a valide sultana havia dito. Era nítido no olhar da favorita do sultão, as chamas do poder, ela tinha uma certa semelhança com sua avó. Ainda lembrava-se do fogo que a sultana Hürrem tinha em vida, sua douçura e gentileza, só escondiam sua inteligência e força.
Não era para menos, que seu irmão estivesse encantado por Kösem, mulheres como ela sabiam como cultivar o amor de forma que a brasa rompesse em um incêndio fervoroso. Era triste, pois teria que fazê-la desaparecer, se ela chegasse a se tornar valide sultana, seria um grande problema para todos.
Entrou nos aposentos do sultão e fez uma reverência assim que o viu. Ahmet sorriu alegre em rever sua irmã, foi até ele de braços aberto e abraçou-lhe com firmeza. Desde o casamento de Safiye com Rüstem paxá, que não a via com freqüência, ela sempre ficava em seu próprio palácio, mesmo que o paxá fosse com freqüência a Topkapi.
Os dois se afastaram um pouco para se olharem, dava para notar a saudade que ambos tinham.
— Minha querida Safiye. Estranho muito sua ausência no palácio, deveria vir me visitar mais vezes. — disse com um largo sorriso no rosto.
Safiye assentiu em silêncio com um sorriso triste.
— Eu sei, majestade, mas... Não consigo vir ao palácio sem recordar que ainda não tenho filhos. — disse com uma voz tristonha.
Desde muito jovem Safiye desejava construir uma família própria com muitos filhos com o homem que amava, porém a vida não permitia que nenhum dos dois acontecesse. Poderia não amar Rüstem, mas também não deseja de ter seus filhos mesmo com ele, seria seu alento naquele casamento infeliz.
Ahmet entendia o sofrimento de sua irmã, queria poder fazer mais para ajudá-la, e mesmo sendo um sultão que comandava o mundo, não podia mandar na vida. Aquilo era a vontade de Alá, e mesmo um sultão não podia mudar a vontade dele.
— Safiye, não fique triste, sei que quando Alá decidir, você terá os mais lindos filhos. — disse tentando consolar sua irmã.
Safiye assentiu em silêncio.
— Amém. — sussurrou baixinho.
— Venha comigo, vamos caminhar um pouco. — disse fazendo um gesto com o braço para que sua irmã fosse.
Anos longe, mas o jardim continuava o mesmo de sempre, o mesmo desde que era só uma garotinha. Os dois sentaram-se sob a sombra da tenda que havia sido posta ali para eles, ela viu a Kassim treinando Selim, e na mesma hora seu coração bateu mais forte. Ele não havia mudado nada, eram o mesmo desde que deixou o palácio. Em parte, Kassim era a razão dela nunca visitar Topkapi, já que nunca houve um momento sequer que seu coração não tivesse disparado ao vê-lo.
Ele era seu grande amor, mas ela nunca foi o dele. Quando jovem sonhava com os filhos que teriam juntos, passava horas no jardim do palácio em Manisa observando seu irmão e ele treinarem juntos. Embora ser sultana fosse nascer livre e com muitas regalias que todos sonhavam, ainda havia uma coisa que ninguém dizia, uma sultana de sangue jamais poderia ficar com quem seu coração desejava. O sultão Cihangir não era como seu pai, Süleyman, que respeitava o amor e o considerava algo realmente valioso. Seu pai era um homem amargurado por ter sua coluna deformada, sentia-se sempre incapaz, só Râbi'a conseguia pentear a concha dura na qual ele sempre se escondia.
O sultão Cihangir nunca preferiu Safiye por conta de seus cabelos loiros como ouro, suas filhas favoritas sempre foram Halime – por ser a mais valente das sultanas –, e Cihan – a sultana que está sempre alegre –, para Safiye não restava nada além das migalhas de suas irmãs mais novas. Ainda tinha treze anos quando foi oferecida a Rüstem, e nunca perdoou seus pai por lhe tratar feito um objeto de troca.
Safiye ficou em silêncio observando Kassim, e quando Ahmet chamou o filho, esta tomou coragem e foi até Kassim. Como qualquer pessoa no mundo, ele não a olhava diretamente, sempre mantinha a cabeça baixa e sua voz era sempre formal, mas de alguma forma acalentava o coração da sultana.
— Já faz muito tempo, Kassim. Você não mudou nada. — Safiye disse olhando para ele com uma certa hesitação.
— Você também, sultana. — disse olhando-a nos olhos por alguns breves instantes. — Alá a favorece muito.
Safiye sorriu, ela queria muito poder abraçá-lo, mas com Ahmet ali, tudo o que podia fazer se resumia a um singelo sorriso tristonho, carregado pela magoa em seu coração. Eles não trocaram muitas palavras, incomodava Safiye que ele ficasse de cabeça baixa o tempo inteiro quando estavam juntos, um tanto irritada se afastou de Kassim.
___________¥Curiosidades¥___________
O filho de Osman I, Okhan, continuou a expansão do pai e reformulou o exército otomano, tornando-o ainda mais poderoso. A ordenação do exército era um dos principais trunfos do império otomano. Havia uma formação de guerreiros de elite, denominados janízaros que passaram a constituir uma das maiores máquinas de guerra do período.
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A Sultana
Fiction HistoriqueUm mundo perigoso, em um harém tudo que se respira é traição. Todas desejam a mesma coisa, ser a mãe de um príncipe e assim conseguir se estabelecer como uma sultana, mas ser apenas mãe dos filhos do sultão, não parecia ser o suficiente. Ela não qu...