VII

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Não houve piedade nenhuma, os ağa a golpearam e depois a jogaram em uma cela escura. A dor que sentia pelo seu corpo só não era maior do que a dor da humilhação, Saliha não média esforços em mostrar seu poder para todos do harém, Yasemin sabia que era o alvo perfeito para a sultana mostrar que comandava o harém, mas acima dela estava a valide, e acima da valide estava o sultão, e Yasemin havia conquistado os dois.

Não os amava, mas sabia que eram úteis, especialmente em uma situação como aquela. Podia não ter ağas a seus serviços, mas tinha algo a mais, algo que chamou atenção da valide desde o princípio, até aquele momento não via a necessidade de usar seu dom.

Rastejou até a perede mais próxima, e se forçou a ficar sentada. Podia sentir o tecido grudando em sua suas costas com o sangue que escorria de onde foram açoitada. Até suas mãos e pés doiam, mas seu coração estava intacto e cheio de raiva. Juntou as mãos trêmulas e ensangüentadas, as aproximou de sua boca e começou a murmurar. Parecia ser só mais uma oração, mas qualquer bruxa saberia que não era bem assim, um cântico que sua avó havia lhe ensinado há muito tempo, pensou que nunca o usaria, porém aquelas paredes frias lhe mostravam o contrário.

Assim que terminou de falar ela afastou suas mãos da boca e as olhou uma última vez, e sussurou um nome. Logo desmaiou, caiu no chão frio sem forças para se agarrar a vida, apenas esperava que ele chegasse logo. Uma lágrima solitária escorreu pelo canto de seus olhos, e tocou o chão como o som de uma gota de água em uma poça.

A chuva estava forte, trovões e relâmpagos deixavam a paisagem de Istambul manchada com escuridão. Ahmed tentava dormir mesmo com todo aquele barulho, mas um estrondo junto com um vento forte o fez acordar de vez. As portas que davam acesso a varanda havia se aberto por completo, e um vento furioso entrava por ela. De sua cama tinha uma visão clara da tempestade lá fora, levantou-se e caminhou até o vão, sentia seu corpo arrepiar com o frio.

Fechou as portas, e ficou um tempo com as mãos nela, até que ouviu uma voz. Uma voz feminina e triste, que sentia-se desamparada de alguma forma.

— Ahmed... — um lamuruio longínquo que despertou sua curiosidade.

Afastou-se daquelas portas e caminhou até as outras que davam acesso ao corredor. Hesitou por alguns instantes, até que chamado se tornou mais desesperado. Saiu devagar, temendo o que aquela voz significava, porém sentia-se tentado de alguma forma. Caminhou por um longo tempo, enquanto aquela voz ia ficando mais alta e mais familiar, estava sendo levado até os calabouços, todavia, não sentia-se a vontade em continuar e quando virou-se, viu uma pomba.

A ave voou para dentro dos calabouços e Ahmed a seguiu. Tudo parecia silencioso a não ser pelo bater de asas da ave que só se cessaram quando este estava em frente a uma das portas escuras. Escutou a voz novamente e dessa vez foi capaz de reconhecê-la.

— Yasemin? — disse incerto, seu rosto tomou uma expressão mais série e este gritou: — Guardas! Abram esta cela agora mesmo.

Os dois homens que entraram no lugar assentiram em silêncio, um deles pegou uma tocha e a aproximou da porta para que o outro pudesse ver a fechadura e assim abri-la. O sultão entrou primeiro naquele lugar, estava escuro e difícil de enxergar algo ali, os guardas entraram junto e com a luz da chama Ahmed viu Yasemin no fundo do cela desacordada.

Seus olhos se abriram, suas vestes agoram eram trapos. Ele havia dado aquele vestido como uma demonstração de seu afeto a Yasemin, mas não só haviam destruído a prova de seu carinho por ela como a deixaram ali jogada, pisaram em seu orgulho sem dó nem piedade e ninguém poderia pisar no orgulho de um sultão.

Ahmed foi até ela e tocou em sua face gelada, pediu a Alá que ela ainda pudesse ser salva, e assim a tomou em seus braços e a carregou para fora daquele lugar.

Estava chegando a porta de seus aposentos quando se deparou com Kasim que olhou abismado para a jovem em seus braços.

— Majestade...

— Chame um médico agora mesmo! — ordenou furioso. — E encontrem os culpados por machucarem ela! — gritou.

Teve muito cuidado ao deitar Yasemin em sua cama, sentia seu coração se despedaçando so de olhar para seu rosto machucado. Não queria tocá-la, achava que ela se despedaçaria no menor toque possível.

A paciência de Ahmet já havia se perdido há muito tempo, o sultão desejava punir os culpados por aquela tristeza situação de sua favorita.

Ağas! — gritou, e logo um dos que ficavam sempre na porta entrou de cabeça baixa.

— Sim, majestade?

— Mandem chamar a Afife hatun e Haci ağa agora mesmo, e diga que revirem todo o harém atrás dos culpados pelo que há sucedido a Yasemin, e traga-os a mim. — sua voz estava contida, mas seu tom deixava bem claro a sua ira e o desejo por vingança.

Assim que o ağa saiu, seus aposentos ficaram silenciosos, e este sentou-se ao lado de sua amada. A sensação de incapacidade que o tomou era demais, não havia sido capaz de proteger a quem amava, primeiro seu filho Süleyman e agora uma de suas favoritas estava inconsciente e cheia de ferimentos graves.

Quando o doutor chegou, revistou Yasemin e aplicou algumas medicinas em seus ferimentos. Enfaixous as mãos e costas dela, e a deixou descansar.

— Não tema, majestade, a jovem ira viver e não ficaram cicatrizes se fizer exatamente o que fiz durante as próximas semanas. É claro, precisa de atenção, caso ela apresente febre mande-me chamar. — o médico disse com seriedade e logo fez uma reverência. — Com sua permissão, majestade.

— Obrigado, efendi. — Ahmed disse e se aproximou da cama.

Observava Yasemin de longe, a respiração dela estava mais controlada, o que o deixava aliviado, mas ainda queria saber os motivos que a levaram até aquele calabouço. Algumas batidas na porta ecoaram no quarto e Ahmed mandou entrar.

— Majestade, Haci ağa e Afife hatun estão interrogando todos do harém agora mesmo, mas eu acabei encontrando os ağas que maltrataram a Yasemin hatun. — Kassim mantinha seu olhar baixo. — E eles disseram quem ordenou que a predenssem.

— E quem foi? Diga.

Kassim aproximou-se do sultão, tinha medo do que dissesse, pois já havia entendido como Yasemin era demasiado importando para o sultão.

— A sultana Saliha.




___________¥Curiosidades¥___________

A sultana Nürbanu foi Haseki sultana do Império Otomano como a principal consorte do sultão Selim II, também Valide sultana como a mãe do sultão Murad III. Ela foi uma das figuras mais proeminentes durante o tempo do Sultanato das Mulheres . Teorias conflitantes atribuem a ela uma origem veneziana , judia ou grega. Seu nome de nascimento pode ter sido Cecilia Venier-Baffo, Rachel ou Kalē Kartanou. Existem apenas três mulheres na história otomana que se casaram legalmente com seus cônjuges, os sultões, depois que foram libertadas da escravidão. Sultana Hürrem, sultana Nurbanu e sultana Kösem conseguiram isso. Foi também, a primeira escrava a se tornar Valide sultana.
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