XVIII

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Desde que o ancião havia cruzado seu caminho, Ahmet não conseguia ter um momento que fosse de paz, passava as noites em claro pensando nas palavras do homem, e ainda sim, tentava fazer com que suas emoções não afetassem suas decisões a respeito do império. Naquele dia estava decidido a visitar o mercado, então se disfarçou de um homem comum, usando roupas poidas e uma capa de tecido grosseiro. Já havia feito aquilo antes muitas vezes, era um hábito saber o que pensava o povo, mas não era só isso que buscava aquele dia.

Caminhou entre as pessoas buscando uma em especial, seu velho amigo, Orhan efendi. Ele aparentava ser um simples joalheiro, mas aqueles que o conheciam bem sabiam de seu dom para interpretar sonhos e consultar as estrelas. Era alguém que Ahmet respeitava demais, ele havia sido um governador de uma província, mas devido algumas tragédias implorou ao pai de Ahmet que o deixasse viver longe do palácio. E assim o fez. Contudo, Ahmet havia tido a Orhan como uma figura paterna e professor, e jamais conseguiu deixá-lo realmente longe de alguns assuntos do palácio.

Entrou no estabelecimento e viu o homem de barba branca, trabalhando em algum tipo especial de joia. As criações de Orhan sempre foram admiradas, a quem diga que ele aprendeu com o próprio avô de Ahmet, o grande sultão Süleyman, o Sábio. Suas mãos enrugadas não paravam de continuar criando, era um homem solitário que gastava todo seu tempo fazendo peças tão apreciadas.

— Orhan efendi. — chamou, e o homem desviou o olhar para o sultão, ele reconheceu o rosto de seu antigo discípulo na mesma hora e antes que pudesse levantar-se, Ahmet fez um sinal para que continuasse onde estava. — Não há necessidade de se incomodar, eu serei rápido Orhan efendi.

Orhan franziu o cenho e assentiu em silêncio. Observou os homens que o acompanhavam saírem e fecharem a porta. Ficou um tanto preocupado com que tipo de assunto merecesse tanto sigilo.

— Orhan, preciso de conselhos. Há uns dias quando regressava de uma campanha, tinha sonhos estranhos e inclusive, antes de chegar em Istambul, encontrei um ancião. Ele me disse que o dragão iria queimar com as próprias chamas, e nada poderia pagar este fogo. Não sei o porquê, mas veio me incomodando durante estes dias...

— Conte-me o seu sonho.

— Estou caminhando por um campo de vejo uma pomba com uma asa quebrada, tento ajudá-la, mas quando chego perto dela vejo uma mulher ela usa um vestido branco manchado de sangue e em seu dedo vejo o anel de minha mãe, o anel que minha avô lhe deu antes de morrer. Tento olhar o rosto da mulher, mas uma luz me impede de fazer isso. Ela começa a caminhar e eu a sigo até um trono do alto de um penhasco de frente ao mar, e sentado no trono vejo um falcão. E este logo voa em direção ao horizonte.

O rosto de Orhan se estremeceu um pouco.

— É um sonho bastante complexo sua majestade, mas pelo que me disse a morte está rondando seu palácio, e em algum momento ela irá levar alguém muito próximo... contudo não tenho certeza, majestade, quem sabe se me der mais tempo eu possa consultar as estrelas sobre seu futuro.

Ahmet assentiu em silêncio.

Estava um tanto cabisbaixo, e pensativo, ficou horas sentado no divã da varanda tentando acalmar sua mente, Kassim parou ao seu lado e fez uma reverência.

— Majestade, mandou me chamar?

— Sim, preciso de um amigo neste momento. — disse suspirando e olhando para o céu que ia escurecendo aos poucos.











___________¥Curiosidades¥___________

Só uma mulher poderia ocupar a cama do sultão a cada noite. Isso era tanto por questões religiosas, quanto por questões práticas. Como a função principal delas era gerar um herdeiro, ficaria difícil demais monitorar as possíveis grávidas se mais de uma dormisse com o sultão numa mesma noite, por várias noites seguidas. Existia uma cronograma organizado de festas e encontros íntimos. Nas festas, as odaliscas entretinham o sultão com música, poemas e coreografias em conjunto, mas na hora de ir pra cama ele escolhia uma.

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