O canto dos pássaros pareciam anunciar a chegada de alguma coisa aquele lugar, Râbi'a sentia-se preocupada com o que poderia acontecer dali em diante, tentou livrar de Kösem, mas a maldita mulher continuava a caminhar pelo harém como se fosse a dona dele. Queria quebrar o pescoço dela a qualquer custo, mas tocar nela significava magoar a Ahmet, e seu filho agora era um bobo apaixonado.
Tinha que reconhecer que Kösem era astuta e inteligente, ao contrário do que a valide teria feito, guardou silêncio de todos e espalhou um boato diferente do ocorrido. Entretanto, não havia desistido de se desfazer de mais uma sultana que lhe incomodava, uma estava exilada, mas a outra era uma serpente maior e mais forte, só havia um jeito de afastá-la e era com a morte.
Mais uma morte para a consciência da valide sultana, porém, em tantos anos que viveu bem nenhum sangue derramado jamais lhe tirou uma noite de sono. Já havia perdido a conta de quantas cabeças haviam rolado ao longo de seus quarenta anos naquele palácio, e não permitiria que uma menina lhe tomasse o anel de seu dedo.
— Sultana, se vê muito pálida. Está doente? — Afife perguntou olhando para o rosto de Râbi'a, e esta apenas negou com um simples balançar de cabeça, retornou sua atenção para o livro das contas do harém.
Era dia de verificar os número e saber se alguma das contas não estava batendo, notou que havia pouco dinheiro, o que significava atrasar o pago das escravas. O tesouro do Egito ainda não havia chegado ao palácio, e o dia de dar o pagamento de todos estava quase chegando, precisava arranjar dinheiro de algum jeito.
— Afife, chama a senhora Raquel, vamos precisar da ajuda dela nesta situação.
A senhora Raquel já era bem conhecida por sempre fazer empréstimos, e a valide sultana sabia que podia confiar nela, pois está nunca falou com a sultana. Todavia tinha medo de que a quantia que necessitava fosse alta demais para ela conseguir em dois dias.
Nilüfer entrou com uma certa pressa nos aposentos da sultana, fez uma reverência e disse:
— Sultana, o şehzade Murad está muito doente.
— O que ele tem? — perguntou preocupada.
— Não sabemos, mas tem febre alta desde a noite passada. E não passou ainda. A sultana Kösem está com ele, tenta fazer com que sua febre passe.
A valide levantou-se com pressa, saiu de seus aposentos um tanto nervosa, estava quase correndo em direção ao berçário. Do corredor dava para ouvir os berros do príncipe, assim que entrou no quarto viu Kösem e uma médica do harém dando um banho com algumas ervas no jovem şehzade.
— O que meu neto tem? — perguntou aflita, observando o menino se esgoelar e ficando com o rosto vermelho por isso.
— Não sabemos sultana, o şehzade está assim desde a noite passada. Tentamos um banho com algumas ervas para tentar abaixar a temperatura em seu corpo. — a médica explicou.
Observou o menino ser lavado e esfregado com as ervas, e aos poucos ir parando de chorar, escutou o suspiro de alivio de Kösem e a encarou por alguns instantes. Desde que descobriu o que ela fez contra Selim, não confiava a saúde e segurança de seus netos perto dela, mas não iria dizer nada naquele momento.
Quando o menino foi envolvido em um manto, a valide não permitiu que Kösem continuasse a segurá-lo, as duas se olharam uma querendo estrangular a outra.
— Nilüfer. Afife. O şehzade Murad está sob meus cuidados de agora em diante, assim como Selim. A sultana Kösem está terminantemente proibida de chegar perto deles. É uma ordem. — disse entregando o bebê para Nilüfer. Ela aproximou-se de Kösem e sorriu. — Não permitirei que se torne a mãe do meu neto. Irei fazer com que eles te odeiem, e te destruam por dentro.
— Não pode fazer isso, o sultão disse...
— Eu sou a valide sultana, eu comando este harém e este meus netos ficarão comigo de agora em diante. — disse com seriedade e virou-se para ir.
Caminhava com tranquilidade, mas Kösem não estava nenhum pouco calma, seguiu a valide com a raiva lhe tomando por completo.
— O sultão ficará muito feliz em saber que a mãe dele é uma assassina.
A valide parou no corredor, e virou seu rosto lentamente na direção de Kösem. Afife hatun que escutou aquela acusação, se enfureceu e vociferou:
— Olha como fala menina, está acusando a mãe do sultão. Deve ter vergonha. Acusá-la dessa maneira é um insulto a dinastia.
— Quando nos conhecemos perguntei como suportava tanta maldade, mas a verdade é que não suporta. Seu corpo começa a vingar-se da sua alma, e irá ficar ainda pior sultana, está doença que carrega ficará ainda pior. — Kösem disse e suspirou, fez uma reverência encarando a sultana com ódio.
A valide observou Kösem ir-se, a jovem havia mudado muito desde que chegará, trilhava o caminho de uma verdadeira sultana e isso a tornava alguém que Râbi'a temia, pois quando mirava os olhos de Kösem via o mesmo fogo que a sultana Hürrem tinha para lidar com cada um de seus inimigos.
Ela abaixou o olhar por alguns instantes, e notou a preocupação no rosto de Afife, ninguém sabia de sua doença. E, a valide não estava a fim de discutir aquele assunto com a chefe do harém.
Foi até uma varanda do palácio que lhe dava uma boa visão do porto e dos jardins privados, apoiou suas mão no mármore frio, e mirou a varanda mais acima, lembrou das vezes em que esteve ali com seu amado sultão. Das vezes em que brigou com todo o harém, de quando sentiu-se tomada pela raiva e ciúmes, pois nenhuma mulher acostumava-se a ser trocada por outra.
Sentia-se afundando em um mar negro, enquanto todos aqueles a quem matou lhe puxavam cada vez mais para baixo. Sua lágrimas caíram no mármore, e ela se permitiu chorar pela primeira vez em anos, nunca ninguém havia lhe feito sentir daquela forma, já não era a mesma seu fogo vinha se apagando a muito tempo, e quem sabe estava quase na hora do sol sair para ela uma última vez.
Apertou os dedos contra a palma de sua mãos e suspirou, a guerra já tinha começado. Perdendo ou ganhando tinha plena consciência de que aquela seria sua última batalha, só queria poder ter a chance de ser redimir de todo sangue em suas mão.
___________¥Curiosidades¥___________
Entre as esposas oficiais, havia a "favorita", que era a segunda mulher mais poderosa do harém. Seu grande sonho era ver o filho assumir o trono quando o sultão morresse. Mas sempre havia o risco de o sultão indicar como herdeiro o filho de outra mulher.
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A Sultana
Historical FictionUm mundo perigoso, em um harém tudo que se respira é traição. Todas desejam a mesma coisa, ser a mãe de um príncipe e assim conseguir se estabelecer como uma sultana, mas ser apenas mãe dos filhos do sultão, não parecia ser o suficiente. Ela não qu...