Quando se tem corrente ao redor dos pulsos o primeiro que vem a mente é o fim de uma vida, mas qual a diferença entre correntes e pulseiras, não importa como sempre esteve presa agora só estava mais evidente sua posição é claro que sentia-se triste por estar ali, mas não iria abaixar sua cabeça, tinha o espirito livre embora seu corpo se mantivesse preso a terra. Ela e sua prima as únicas que sobreviveram ao ataque de sua caravana.
Tomadas como se fossem objetos ficaram dias nas ruas sendo observadas como mercadorias, Yasemin mantinha uma posição forte enquanto Yelena se agarrava a ela com medo do que estava por suceder. Yasemin tinha só dezessete anos, mas seus olhos era ferozes como de uma mulher madura que faria de tudo para proteger aos seus, era um tipo raro de jovem que não se encontra facilmente em qualquer lugar, enquanto Yelena era só uma menina de catorze anos que mal conseguia olhar para os estranhos sem chorar.
╾━━━━━ Fique quieta ou irei te deixar. ── Yasemin disse com uma voz firme, ela detestava a prima olhava para ela como se fosse a culpada pela morte de seus pais, já que se Yelena tivesse permanecido quieta os pais de Yasemin não teriam sido encontrados. ── Já basta tudo o que causas-te aos meus pais. Não quero ter que ficar olhando para sua cara de choro o tempo inteiro.
Yelena se encolheu, e tentou silenciar suas lágrimas.
Yasemin suspirou, e olhou para a palma de sua mão esquerda. As linhas indicavam um futuro brilhante, especialmente considerando a estrela com a qual nasceu em sua testa, mas não entendia o motivo de estar em uma situação como aquela. Engoliu em seco e olhou para Yelena, era só uma menina desafortunada, que havia perdido seus pais e tios, tinha mais dores que Yasemin não era surpreendente que fosse tão dependente de uma figura de força.
╾━━━━━ Me desculpe, não devia ter dito isso, venha aqui. ── Yasemin a acolheu entre seus braços e ficou acariciando os fios desgrenhados da prima. ── Tudo isso vai passar, ninguém mais vai te machucar, eu prometo.
Olhando por outro lado, Yelena era a única família que lhe restava e não deveria rechaçá-la só porque seu coração ainda doía com a perda.
Respirou fundo, e começou a cantarolar para ela. Yasemin ainda se lembrava das vezes em que sua mãe cantava e se sentia mais calma, tinha a esperança de que com Yelena isso funcionasse, mas surtiu um efeito inesperado ao atrair a atenção de um homem de olhos escuros.
Ele se parecia muito com a maioria dos homens que andavam por aquelas ruas, mas havia algo mais nele, não sabia o porquê, porém ao mirá-lo diretamente nos olhos sentiu como se o mundo inteiro tivesse parado. Aqueles olhos castanhos encontraram os seus de uma forma muito inesperada, dentre todas a meninas ali tinha sido ela que enfeitiçara o homem.
Na época não entendia, mas logo saberia que aquele homem muito bonito era seria a causa de muitas alegrias, assim como de sua tormenta. Ele se aproximou de Yasemin e a olhou com atenção por alguns instantes.
╾━━━━━ Qual é seu nome? ── perguntou com curiosidade e logo abaixou o olhar para a menina que chorava. ── E tu, por que choras? ── perguntou a Yelena, notando a tristeza nos olhos da menina.
Yasemin observou como aquele homem, mesmo vestido de modo simples tinha companhia, ela não era tola sabia reconhecer um homem importante quando via. Seu pai havia lhe ensinado isso, para uma menina cigana, era importante saber reconhecer aqueles com mais posses, para que assim pudesse tomar.
╾━━━━━ Está triste porque deseja ver seus pais. ── Yasemin respondeu e o homem voltou a mirá-la.
╾━━━━━ O que aconteceu? ── perguntou com um tom um pouco mais sério.
Yasemin abaixou o olhar, não precisava de muitas palavras para dizer o que havia acontecido, já que a maioria das jovens que estavam naquele mercado haviam perdido seus pais e se tornado apenas uma mercadoria.
Ele assentiu em silêncio e tocou a cabeça de Yelena e sorriu para ela.
╾━━━━━ Não chore, seus pais agora estão no paraíso, e Alá os cuidará muito bem. ── disse com uma voz caridosa, e logo olhou para Yasemin, fez um gesto breve com a cabeça despedindo-se e se foi com os homens que o acompanhavam.
Yasemin observou se distanciar pouco a pouco, mas ele não estava indo embora, pelo contrário estava conversando com outro homem que parecia feliz com algo. E então, logo depois ele se foi.
Algum tempo depois vieram pegá-la. Yasemin tentou lutar para ficar ao lado de Yelena, mas por mais que tentasse ela foi a única a ser levada enquanto sua prima gritava como nunca, já que estava sendo levada por outro homem para outro lado.
Ela foi levada através da noite para um lugar distante, um lugar que para alguns era o paraíso e para outro o próprio inferno. Suas roupas foram tiradas e uma mulher lhe tocou para saber se ainda era virgem, e depois a encaminhar para limpar-se.
Apesar de serem só jovens mulheres ali, Yasemin não podia deixar de sentir que estava cercadas por vários leões esfomeados que desejavam arrancar até o último pedaço de sua carne. Respirou fundo, não tinha por que se assustar com elas, já enfrentou coisas muito piores que um monte de garotas invejosas.
Sentou-se em um canto, um pouco mais afastada das outras sua mente como sempre não ficou parada, era sua maldição ter um espirito tão livre enquanto seu corpo se mantinha preso a terra. Esfregou suas mão uma na outra, até que as sentisse bem quente, logo depois olhou para a palma de suas mãos e tudo o que viu foram lágrimas, muitas lágrimas.
╾━━━━━ De onde é? ── uma jovem de cabelos loiros e olhos azuis se aproximou, ela tinha um sorriso no rosto, mas Yasemin conseguia enxergar a víbora por trás daquele rosto bonito ── É grega? Tem uma pele muito pálida, aposto que é grega.
Yasemin retribuiu o sorriso e negou.
╾━━━━━ Não, não sou grega. Nasci em Valência, mas passei toda minha vida viajando. ── disse com calma, repousando suas mãos sobre suas pernas. ── Que lugar é este?
A jovem riu, mas logo se deu conta de que Yasemin falava sério. Antes que pudesse dizer a Yasemin, uma segunda voz se fez presente ali.
╾━━━━━ Está no harém de sua majestade, sultão Ahmed-khan, o Magnífico. Ele é o governador do mundo. ── era uma mulher de cabelos escuros e olhos verdes, ela tinha uma voz autoritária e um rosto sério, mesmo sendo jovem. Ela era Nilüfer kalfa, uma das encarregadas do harém. ── Que fazem ai paradas? Vamos comecem a trabalhar.
___________¥Curiosidades¥___________
O Sultanato das Mulheres, foi um período do século XVI até parte do século XVII, onde o poder do Império Otomano estava, ainda que em parte, nas mãos das Valides Sultanas (mãe do sultão) e de suas Haseki Sultana (esposas oficiais).
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Espero que tenham gostado deste capítulo :)
No próximo iremos entrar mais nesse mundo misterioso do harém imperial, e das disputas de poder entre as mulheres.
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A Sultana
Historical FictionUm mundo perigoso, em um harém tudo que se respira é traição. Todas desejam a mesma coisa, ser a mãe de um príncipe e assim conseguir se estabelecer como uma sultana, mas ser apenas mãe dos filhos do sultão, não parecia ser o suficiente. Ela não qu...