XXXIII

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Meses. Semanas. Dias... Tudo se passou tão rápido desde o desaparecimento de Murad, e tudo o que Kösem conseguia pensar era em como estava o menino, se aquela mulher maltrapilha estava lhe cuidando bem. Se ela não havia gastado todo o dinheiro e abandonado o menino em qualquer lugar, tudo o que podia fazer era rezar para que Alá o protegesse. Chegava a ser um pouco irônico o fato dela pedir para manter o menino a salvo, sendo a culpada por mandá-lo para londe do palácio, sua fome de poder era tanta que não tinha medo nem mesmo de condenar a um inocente? Já não era apenas uma disputa por poder, mas a sua e a sobrevivência de seus filhos, sempre que olhava para Mehmed e Osman lembrava-se de Selim, ele não era seu filho, ele não pouparia a vida de seus irmãos. Era a lei.

Oh, Alá, por que me condena desta forma? São apenas crianças. Por que condenar esses seres a viverem com medo? Por que permitiu que criassem esta lei mórbida? Por que condenar uma mãe a viver com medo por seus filhos? Diga-me, Alá, por que dá bênçãos junto a maldições? Meus filhos não merecem a morte. Não os leve, eu imploro, mude o destino deles. Não permita que a morte se aproxime deles.

Ouviu batidas na porta de seu quarto, saiu de seus devaneios por alguns instantes, quem poderia ser naquele momento? Respirou fundo, e ajeitou-se em seu divã, repousando as mãos sobre seu colo.

— Adiante. — disse alto o suficiente para que lhe escutassem. Sua expressão séria não mudou em momento nenhum quando viu a mulher atrevida entrar em seus aposentos. — O que quer, Mahfiruz? Deveria prestar mais atenção, está perto de dar a luz. Não é bom que fique perambulando pelo palácio.

A barriga de Mahfiruz havia crescido bastante nos últimos dias, e agora realmente dava sinais de haver uma criança ali. E a cada dia que se passava, quanto mais perto estava de dar a luz, Mahfiruz fazia questão de exibir sua barriga para todos e provocar a sultana de todos os modos possíveis, mas Kösem era mãe de dois şehzades, o que sempre frustrava os planos da hatun.

— Eu tive um sonho sultana, e neste sonho vi meu filho. Ele estava sentado no trono, e deu sua primeira ordem como sultão. Sabe qual era essa ordem? — Mahfiruz tinha um sorriso malicioso nos lábios, e Kösem apenas revirou os olhos. — Ele ordenou que matassem todos seus irmãos.

O semblante de Kösem mudou naquela mesma hora, a fúria em seu olhar era tanta que poderia ver o brilho das faíscas de ódio e desejo de morte. Cerrou os punhos, tinha que se controlar, qualquer coisa que fizesse poderia ser vista como uma agressão devido a sua gravidez. Kösem então gargalhou, aliviando sua tensão e deixando Mahfiruz um tanto confusa.

— Não sabia que contava piadas, Mahfiruz. Quem sabe, se contar algumas piadas como estas ao sultão, deixe de ser mulher de uma noite. — Kösem gargalhou, diante da expressão de injúria da concubina aborrecida.

Mahfiruz bufou e deixou os aposentos da sultana, que cessou a risada na mesma hora. Meleksima que estava seu lado o tempo inteiro notou o olhar assassino da sultana, e ouviu as palavras pelas quais temia:

Esta mujer debe morir lo antes posible. — era muito comum que falasse em espanhol quando estivesse furiosa, e apenas Meleksima compreendia o que ela falava.

Mais uma vez bateram na porta, e Nurhan entrou, ela parecia um tanto nervosa.

— Nurhan, o que aconteceu? — era notável a expressão aflita da sultana.

— Sultana, há chegado a sultana Safiye, uma das filhas da valide sultana Râbi'a.

O rosto de Kösem se petrificou. Não importava para onde olhasse, sempre haveria inimigos inesperados, já tinha ouvido falar de Safiye. Uma mulher muito bonita e muito gentil pelo que diziam, mas Kösem não acreditava que ela fosse gentil, era filha de Râbi'a e aquela mulher deve ter chamado a sultana por um único motivo: acabar com a ligação entre o sultão e Kösem. O elo de irmãos era algo muito forte, e a sultana sabia bem que Ahmet amava todas suas irmãs e sempre as escutava e lhes fazia agrados.

Um obstáculo inesperado.

A valide estava realmente jogando com todas as peças que tinha, mas não ia permitir que isso ficasse daquele modo. Kösem levantou-se e deixou seus aposentos com uma certa pressa. Assim que chegou no mezanino de mármore viu a bela sultana Safiye, e seus longos cabelos cor de ouro. Uma caractericas bem marcante da sultana de olhar tão sombrio quanto o seu, Kösem a olhou de cima por alguns instantes, até que finalmente virou-se para descer a área comum. Aproximou-se como se tudo estivesse perfeitamente bem, havia um enorme sorriso em seu rosto.

— Sultana. — Kösem disse, fazendo uma reverência para a mulher de cabelos dourados. — Seja bem-vinda de volta ao palácio. — disse com um sorriso largo no rosto.

Safiye também sorriu.

— Você deve ser, Kösem. Ouvi muitas coisas sobre você. — manteve o sorriso falso no rosto, assim como Kösem.

— Espero que tenham sido coisas boas. — deu uma leve risada, e Safiye também. — Afife hatun, os aposentos da sultana estão prontos? Espero que tenha escolhido os melhores.

Afife sorriu e assentiu.

— Sim, sultana. Está tudo organizado para  a sultana Safiye. — disse com um sorriso largo no rosto.

Kösem manteve o sorriso no rosto e as duas se olharam por algum tempo, até está virar-se para entrar na ala comum das mulheres, Haci ağa fez, questão de anunciar a sultana.

— Atenção, a sultana Safiye, está aqui!

Enquanto ela passava pelo corredor de meninas, Kösem olhava sua costas maquinando em sua mente maneiras de neutralizar a serpente antes que essa crescesse demais e não pudesse ser controlada.






___________¥Curiosidades¥___________

A sultana Kösem tinha um bom relacionamento com o povo e o exército, além de ser conhecida pelos seus trabalhos de caridade e libertar os seus escravos após três anos. Sua morte a fez ser conhecida como “Mãe Martirizada” e Constantinopla observou três dias de luto. Até hoje a sultana Kösem é considerada a mulher mais poderosa da história turco-otomana.
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