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A relação entre Antonella e Catarina era o mais improvável que poderia acontecer, e ambas sabiam disso, embora não quisessem encarar os fatos.

Jorge Firmino começava agora a organizar os últimos detalhes para o resgate de sua pequena Antonella, ele era completamente louco por sua filha, sempre fez todas as vontades dela mesmo com toda sua rebeldia, e reconhecia que ela tinha muito o gênio de sua mãe, que se separou assim que descobriu em que ele era metido, diferentemente de Phelipe, Jorge não ostentava por aí que era um mafioso, ele simplesmente fazia o que precisava, sem holofotes, tinha a consciência de que quanto menos soubessem, menos riscos correriam.

Foram duas noites de completa ansiedade, tanto para Catarina, quanto para Antonella, elas não sabiam muito bem como andavam as negociações, mas tinham a consciência de que o sequestro finalmente estava chegando ao fim.

Quando Catarina acordou, Phelipe não estava, tinha saído para resolver algumas pendências, e ela sabia que provavelmente se tratava dos trâmites do resgate.

Antonella estava sentada no chão um pouco tensa, desejava loucamente ir para sua casa, mas não conseguia aceitar que ir, significava também deixar Catarina para trás.

Depois da conversa que tiveram, Catarina estava mais introspectiva, e muito reflexiva também, de certa forma sentia-se incomodada porque sabia que Antonella embora tivesse motivos para atacar Phelipe, tinha um pouco de razão. Lembrou-se de sua mãe Joana que sempre foi contra seu casamento com Phelipe, dizia que ele não era homem para ela, e que ele a faria sofrer. Intuição materna? Jamais saberia. Das vezes em que tentou aproximar-se novamente de sua família, foi impedida por Phelipe com a desculpa perfeita de que sua família não concordava com sua felicidade.

E se Antonella tivesse razão? E se Phelipe realmente quisesse prendê-la ali como sua prisioneira? Como poderia sair desse emaranhado de erros cometidos ao longo de aproximadamente dez anos? Todos esses questionamentos a preocupava.

Depois da conversa que Catarina teve com Antonella, ela começou a testar Phelipe em algumas oportunidades, questionou seu esposo a cerca de estudar, e obviamente ele se posicionou contra, pediu permissão para viajar ou para sair com os seguranças, mas nem assim conseguiu algum êxito, o que acabava confirmando as teorias de Antonella.

Catarina não conseguia admitir que uma garota que estava há tão pouco tempo em sua casa, soubesse mais sobre seu casamento do que ela mesma. Não conseguia, ou queria admitir que viveu dez anos de sua vida para servir sexualmente ao homem que imaginava ser completamente apaixonada desde que o conheceu em uma tarde ensolarada, aparentemente um rapaz comum como qualquer outro.

E como começa um relacionamento abusivo? Engana-se completamente quem acha que o relacionamento abusivo tem indícios desde o início. Phelipe era diferente de todos os homens que Catarina já se apaixonou, ele era inicialmente romântico, observador, lhe presenteava e a mimava quase todos os dias desde o primeiro beijo. Phelipe fazia questão de mostrar todos os dias o quanto Catarina era uma mulher linda, sexy, maravilhosa, porém no decorrer dos meses, tudo foi mudando sem que ela pudesse perceber.

Catarina era uma perfeita submissa, sentia prazer na dor, amava obedecer as ordens de Phelipe, e foi usando desse artifício que ele acabou tendo total controle sobre ela, física e emocionalmente. Claro que no início era tudo bem conversado, ele explicava seus motivos, e ela inocentemente não via maldade, cega de amor por ele, começou a se anular completamente em função de lhe servir, esquecendo quem era ela antes de se casar.

Catarina era meiga, carinhosa, tinha vários amigos, tinha o desejo de estudar, pensou em ser psicóloga, até cursou alguns semestres antes de se casar. Ela era o tipo de mulher que conquistava qualquer um com seu jeito doce, com o seu olhar para o outro, sempre procurando ajudar como podia, e foi assim que Phelipe acabou com todos os seus sonhos. Ela já tinha perdido boa parte de sua identidade, tinha comportamentos que foram desenvolvidos ao longo de todo esse tempo, e talvez, nem soubesse mais quem era de verdade.

Sobre-viverOnde histórias criam vida. Descubra agora