No primeiro dia, me levantei no automático. Não fui ao estúdio ensaiar, não fiz nada a não ser ficar sentada me entupindo de um sorvete que eu nem estava com vontade. Só queria que ele congelasse o meu cérebro para que parasse de lembrar do quão eu era uma pessoa terrível e das duras palavras de Ian.
Mas ele estava certo. Em cada palavra. Em cada letra. Eu sabia que estava. Mas era difícil para mim escutar aquilo vindo dele. Foi muito difícil.
No segundo dia, nada mudou. Meus olhos ainda estavam inchados de tanto chorar a noite e podia jurar ter ouvido Aurora rir de madrugada junto aos meus soluços baixinhos. O nível em que ela estava chegando me assustava.
A tarde, enquanto eu estava deitada no sofá vendo um filme qualquer, Estrela pulou no sofá e se deitou em cima do meu braço, me encarando com os olhinhos brilhantes. Voltei a chorar sem conseguir segurar. Ela me lembrava dele. Do quanto eu tinha odiado recebe-la. Me lembrava do momento em que ele lembrou de mim mesmo sem estar comigo.
Será que ainda lembrava?
Mas não podia fazer nada. Ele não acreditava em mim. Tinha implorado - várias vezes - e ele ignorou. Eu não o culpava, também não perdoaria. Mas o que eu podia fazer? O que me restava era sentar e esperar que o sentimento agonizante me deixasse em paz.
- Alessandra, até quando vai ficar sentada nesse sofá se lamentando? - minha tia questionou se sentando ao meu lado - Em nada parece a menina destemida que eu conheço.
- Ótimo. Agora além de vagabunda, sou chorona. Uma vagabunda chorona! - resmunguei e coloquei mais uma colher de sorvete na boca.
- Por Deus! Pare de ficar se remoendo, garota. O erro foi seu. Assuma!
- Eu assumo. Estou assumindo. - falei de boca cheia, sentindo meus dentes congelarem.
- Está é se vitimizando e deixando a sua vida passar. Logo você, que sempre teve o controle de tudo.
- Eu não tenho o controle de nada.
- Então pegue! Está se sentindo uma pessoa horrível? Mude. O ama? Vá atrás. Só não deixe o tempo passar diante de seus olhos sem fazer nada.
- Não exagere, tia. Só fazem dois dias. Todos têm um período de luto.
- Ninguém morreu, Alessandra! - resmunguei e comi mais sorvete - Não acabe com o meu sorvete, ele é caro!
- Tia! - reclamei.
Ela tomou o pote da minha mão e se levantou, o colocando no balcão da cozinha. Se virou para mim parecendo brava e colocou as mãos na cintura.
- Já chega! Você vai levantar e dar um rumo ara sua vida. Se quiser, o procure. Ou vá trabalhar. Não sei. Mas faça alguma coisa! - ela puxou minha coberta e jogou longe - Nem está frio para ficar coberta. Ande! Vá tomar um banho e se organizar!
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Uma Caixa De Amor [CONCLUÍDO]
Любовные романыEi, não crie expectativas! Ela está longe de ser a mocinha dos livros de romance. Não. Alessandra Oliveira nunca foi a mocinha inocente que todos esperavam. Sempre foi muito ambiciosa e vaidosa. Por outro ponto de vista, poderia até ser a vilã desse...