UM

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- Não, feio demais - julguei, rolando a foto para a esquerda

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- Não, feio demais - julguei, rolando a foto para a esquerda.

- Eu não achei - Aurora reclamou.

- Não me admira, seu gosto é péssimo.

Minha prima bufou, rolando para fora da cama.

- Fala isso porque tem inveja.

Me mandou um beijinho estalado.

Uma gargalhada deixou minha garganta, tão forte que me virei de barriga para cima, passando para o próximo carinha do Tinder. Ao rolar para a direita, o aplicativo alertou o match, não perdi tempo e mandei um emoji de fogo, voltando minha atenção para Aurora.

- Nem se eu ficasse careca, querida prima.

Enquanto Aurora se vestia, corri para o banho. Com a toalha enrolada na cabeça e outra envolta do corpo, voltei para o quarto.

- Ei, esse perfume é meu! - reclamei, vendo minha prima se esgueirando como um rato para o meu lado do guarda roupa e esguichando meu perfume caríssimo em si mesma.

Arranquei o frasco de sua mão sem brincadeiras. Teria que colocar um cadeado nas minhas coisas.

- Você sempre usa as minhas coisas! - acusou.

- Porque você sempre deixou, não significa que você pode pegar as minhas. - Ela virou as costas, bufando. - Passa um batom, sua boca está branca, parece um fantasma!

Vesti uma calça jeans clara e larga com um cinto de couro, uma blusa preta, que coloquei para dentro da calça, e uma jaqueta preta jeans. Calcei um salto alto também preto e fui até a minha penteadeira.

- Sabe o Fernando? - Aurora começou - Me pediu em namoro.

Gargalhei alto, quase borrando a bochecha inteira de rímel, e ela me acompanhou.

- O que você disse?

- Que ele era um amor, mas não rolava.

- Sempre amenizando a situação... - bufei.

- Eu tenho coração, Alê. - espetou e eu cerrei os olhos em sua direção.

- Não sabia que a função do coração era ter pena de gente carente.

Ela arfou, surpresa.

- Você sabe o que é o coração? - Levou a mão à boca. - Estou chocada.

Forcei uma risada enquanto passava meu batom vermelho, sem poder mexer muito os lábios.

- Minha tia deveria ter te levado para a Globo quando era mais nova.

Sem me responder, deixou o quarto, empurrando minha cabeça antes de sair. A xinguei baixinho, contendo a vontade de retirar meu salto e jogar nela.

Passei os dedos pelos cabelos cor de mel e os arrumei em um rabo de cavalo meio despojado, com alguns fios pendendo em meu rosto.

Respirei fundo olhando para o espelho. Mais um dia. Mais um expediente inteiro para eu amaldiçoar seja lá quem for o responsável para não me colocar em uma família rica. Mais um dia difícil para quem não nasceu herdeira.

Uma Caixa De Amor [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora