Prólogo

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Onze anos antes

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Onze anos antes....

- Você trouxe, papai? - perguntei me aproximando do homem grande.

- Trouxe, estrelinha. - confirmou me estendendo uma caixinha.

Abri a pequena embalagem e sorri ao ver um colar delicado. A corrente fininha prata acompanhada por um pingente brilhoso de estrela. Era a coisa mais linda que eu já tinha visto.

- Coloca em mim? - pedi já me virando.

Meu pai sorriu, parecendo satisfeito e fez o que eu pedi. Vi a pequena estrelinha descansando em meu colo e sabia que levaria aquilo comigo para sempre.

- Matheus? - mamãe gritou da sala - O jantar está pronto, querido.

- Vamos encher essa pança, minha estrelinha! - papai brincou me pegando no colo e me virando de cabeça para baixo enquanto andava até a sala.

- Solte-a! Vai fazê-la passar mal! - mamãe brigou assim que nos viu.

Eu não estava passando mal. Minhas gargalhadas eram mais do que prova suficiente. Ainda assim, papai me ajeitou e me colocou sentada em uma cadeira.

- Vamos ao jogo amanhã? - perguntei enquanto minha mãe colocava minha comida no prato.

- E desde quando você gosta de futebol, mocinha? - mamãe perguntou se virando para mim.

- Papai disse que o nosso time tem que ser nosso orgulho. - pisquei para o homem grande que ria e ele só fez rir mais.

Mamãe lançou um olhar ao meu pai e o vi tentar segurar o riso.

Minha família era boa. Não era grande, não era chique e nem pomposa, mas era boa. Éramos felizes.

- Durma com Deus, estrelinha. Não se esqueça nunca do seu brilho e saiba que você tem capacidade para iluminar o país todo. Você é a estrela da casa, querida! - papai disse ao me arrumar em minha cama e beijou minha testa.

- Eu vou ser famosa, papai?

- Você será tudo o que quiser, meu bem.

[...]

Estávamos voltando do jogo, eu e meu pai, depois de uma vitoria linda do nosso time. Papai colocou uma música alta no rádio e cantávamos em meio a escuridão da noite.

Seu sorriso me contagiava e mesmo sem saber toda a letra, eu fazia o possível para acompanha-lo.

Ele estendeu uma mão para arrumar o chapéu que eu usava e eu sorri para o mesmo.

Aqueles segundos. Aquele míseros segundos foram o suficiente para ele perder o controle do carro.
De repente estávamos girando, girando e girando. Eu não saí do banco, graças ao cinto que meu pai fez questão de colocar em mim. Mas em meio ao meu desespero, eu vi seu corpo sendo arremessado de um lado para o outro.

Quando paramos, eu não sabia como, mas ele ainda estava consciente. E a única coisa que fez foi usar suas forças para abrir o fecho do cinto e indicar a porta com os dedos.

Ele não parecia sentir dor, embora eu desconfiasse que sentia por todas as pancadas que levou. Meu pai sorriu para mim.

Eu saí do carro correndo até o outro lado para tentar tira-lo, seus olhos me acompanharam e eu vi que estavam querendo se fechar. Papai, sem emitir som, mexeu a boca em minha direção.

"Corre, estrelinha"

Eu não sabia o motivo de me mandar correr. Mas vi seus olhos se fecharem e decidi que tinha que procurar ajuda. Corri até a estrada tentando achar algum carro para ajudar, mas a rua estava deserta.

Com nove anos, meu coração parou.
Com nove anos, eu entendi que tinha perdido meu pai.

Entendi que o tinha perdido quando ouvi uma explosão alta e vi o fogo em nosso carro.

[...]

Minha mãe estava destruída. Chorava e chorava. Eu estava acabada também. Só passava pela minha cabeça que era minha culpa. Se ele não olhasse para mim, não teria perdido o controle.

No velório, não consegui chegar perto do caixão. Não consegui ve-lo sem vida. Sem seu sorriso.

Alguns dias depois, minha mãe estava fazendo nossas malas. Eu não entendi direito para onde iríamos, mas vendo seu estado, preferi ficar quieta.

Chegamos a um prédio branco grande bem na Tijuca e depois de mamãe falar algo com o porteiro, subimos. Ela bateu em uma das muitas portas de um corredor e uma mulher ruiva atendeu.

Minha tia. Irmã do meu pai. Leandra Santos.

A ruiva sorriu para mim, com um sorriso idêntico ao de Meu pai e me pegou no colo.

- Não faça isso. - falou para minha mãe.

- Está decidido. Obrigada por ficar com ela.

- Faria qualquer coisa pelo meu irmão. - minha tia respondeu e eu, instintivamente, apertei o pingente que ele tinha me dado de presente.

- Tchau, querida. - mamãe disse dando um beijo em minha testa.

- Onde você vai? - perguntei.

- Fazer o que devia ter feito há muito tempo.

-  Mamãe... - Não adiantou chama-la.

Minha mãe já tinha virado as costas, me deixando ali com minhas malas na porta da minha tia.

Ela não voltou.

Em menos de uma semana eu tinha perdido as duas pessoas mais importantes da minha vida.

- Não fique triste. Vai gostar de conhecer Aurora, vamos te tratar muito bem, estrelinha.

Uma Caixa De Amor [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora