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Vejo a pedra espelhada na floresta de Norfolk e alguém atravessa. A ruiva. Ada?

- Estou delirando...

Olho ao redor da praça e tiro a mão do peito. Suspiro e deixo os ombros caírem.

Ter esse pequeno delírio me faz lembrar de Raiden... Sorrio com amargura.

Tenho a imagem dele guardada na minha mente durante esses longos três anos. Suspiro. Devo ligar para Tessa e dizer a ela que preciso ver Gabriella. Parece que ela me acalma, não só por ser minha amiga, mas a cada vez que vejo ela, Chris e Téo, sei que não sonhei e que Raiden também existe. Estranhamente me apeguei a essa sensação.

Não é um delírio.

Ele é real.

Pra mim.

Afasto os pensamentos e noto que estou fazendo caretas no meio da rua. Pisco vezes seguidas e paro de fazer caras tão vergonhosas. Tenho que sempre me policiar ou acabo falando sozinha e fazendo caretas na rua, quem olha, certamente pensa que sou louca.

Me levanto e tento o possível para ignorar o aperto no peito. É como se eu soubesse que algo está fora de seu devido lugar. Suspiro. "Devo fazer terapia?"

Nunca senti que fosse necessário, mas às vezes, tenho esse aperto no peito e é como se eu sentisse a dor de estar perdendo alguém, mesmo que não esteja realmente perdendo alguém...

Difícil explicar.

Bem, enfim... "Vamos focar em ensaiar!"

Corro pelo caminho de volta a meu apartamento e subo as escadas correndo, paro em frente ao meu apartamento sentindo que meu pulmão foi sequestrado. Apoio as mãos nos joelhos e tento conter a respiração descompassada. "Não faço exercícios frequentemente, comecei a pouco tempo e meu Deus... Não nasci para isso!"

Apoio a mão na macaneta e abro a porta, entro e fecho ela. Caminho em direção a cozinha e tiro uma garrafa de água da geladeira, alcanço meu celular e desbloqueio. Disco o número de Tessa e apoio o celular entre o ombro e o rosto. Abro a garrafa e começo a tomar a água. Coloco ela no balcão.

- Alô? - sorrio.

- Oi Tessa... - digo sorrindo.

- Oi Joyce... Já imagino o motivo da ligação. - rio.

- Vai... - digo de forma arrastada. - Diga que quero ver Gabi. - peço.

- Ok, direi. - ela diz rindo. - Falarei com Ada e te ligo a noite, dizendo se ela pode vir amanhã. Ok? - assinto.

Sorrio.

- Obrigada. - digo e ela se despede e finaliza a ligação. Olho para o visor e vejo uma mensagem de Hugo.

Estou chegando na sua casa.

Deixo o celular no balcão e fecho a garrafa, volto a guardá-la na geladeira e caminho para a sala, ligo a TV e coloco no YouTube. Acesso a minha playlist de música alternativa e olho para o teto enquanto a música começa a tocar.

- " Sweet little words made for silence not talk, Young heart for love not heartache..." - acompanho eles enquanto cantam e deixo as batidas da música invadirem meu cérebro.

Hugo abre a porta do ap e entra fazendo uma cara dramática. Rio. Ele se senta ao meu lado e canta um pedaço da música.

- Bom dia Hugo. - ele me olha de relance e para de cantar a música.

- Me diz que está sentindo a depressão dessa casa? - rio.

- Minha casa não é depressiva! - argumento e ele me olha com uma carranca.

- Por que está ouvindo "While Your Lips Are Still Red"? - ele pergunta e dou de ombros.

- Hábito. - ele balança a cabeça e me belisca. Me contorço e encaro ele. - Ok... - reviro os olhos e coloco a mão no peito. - Estou angustiada. - digo e ele faz beicinho.

- Quer um abraço? - nego.

- Não... - digo e faço uma careta. - Não gosto de abraços. - ele revira os olhos.

- A boneca das trevas não quer um abraço, estou surpreso. - ele ironiza e imito ele. Solto um longo suspiro em seguida e aperto o botão de pause das músicas. Olho para ele.

- Estou aqui pensando em ir ver Gabriella amanhã... - ele abre um largo sorriso.

- Opa... - ele bate palmas. - Mande um abraço. - ele conclui e pisco.

- Imaginei. - digo e ele segura meu rosto com as mãos.

- Tão sexy. - ele diz e rio. - Se eu fosse alpha, te pegava amiga. - gargalho e tiro as mãos dele do meu rosto.

Essas ações de Hugo misturadas a beleza incontestável dele já me fizeram ter uma queda por ele, me julguem! Ter um amigo gay como ele é um pecado a parte.

- Nem vou enumerar os motivos para você não dizer isso. - ele limpa a garganta e sei que vai engrossar a voz.

- Já se apaixonou pelo Dom Ruan aqui baby? - rio e bato no braço dele.

- Já me animei praga! - digo e me coloco de pé. - Obrigada. - digo e ele assente.

- Ótimo. Quero te ver zombando das colegas e não com sua cara de enterro. - faço uma careta.

- Perversa. - afirmo e ele joga um beijo em direção ao ombro.

Passamos a manhã assistindo Netflix e faço nosso almoço, comemos e me despeço de Hugo. Ele tem um restaurante que funciona a noite do lado do Pub que eu toco, então, temos essa vantagem de viver próximo um ao outro.

Passo a tarde afundada em uma pequena sensação de angústia que não passa e acredito que ela não vai passar tão cedo, deve ser um daqueles momentos da vida que me sinto mal e não entendo o motivo.

Tomo meu banho e sigo para o Pub durante a noite. Escolho uma calça preta com vários rasgos, Alls'Stars e um espartilho preto com um imenso laço atrás. Pego minha guitarra e chamo um uber, até porque ainda não aprendi a dirigir, mesmo com VINTE E CINCO anos. Provavelmente serei uma barbeira ao tirar a carteira.

Sou desastrada.

Realmente desastrada.

O Show segue tranquilo e me surpreendo com o movimento, ao fim do show, saio de cima do palco e desço, caminho para perto do bar e lembro da noite que vi Raiden pela primeira vez. Coro. Se eu fosse da banda na época, certamente teria sua atenção, já que aquele dia, ele mantinha o olhar a maior parte do tempo em Téo e os outros componentes.

"Bestinha..." bato em meu rosto. Meu celular vibra e resgato ele do bolso. Tessa. Sorrio.

- Oi oi Tessa. - digo e tampo o ouvido contrário para ouvir ela melhor.

- Oi Joyce... - a voz dela parece soar preocupada.

- Tudo bem? - pergunto.

- Não pude falar com Ada... Desculpe. - ela diz e a voz soa trêmula.

- Tudo bem? - pergunto novamente.

- Eu só me preocupei, sem ela, não sei o que está acontecendo e é a primeira vez que ela não responde a um chamado meu. Fiquei preocupada. - franzo o cenho.

- Ó... - tento acalmar ela. - Ela estará bem. - penso em Ada e lembro do meu delírio de mais cedo.

"Ela está bem, certo?"

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Eu sou a Joyce na vida ksksksks
Não sei dirigir e nem sei se sou capaz kskskskks

RAIDEN - Saga "Pearl" - Livro VIIOnde histórias criam vida. Descubra agora