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Voo alguns minutos a mais e volto a baixar. Bufo. Olho para o céu. Nuvens escuras estão presentes e neva. Faço uma careta. Fazia um tempo que eu não via o tempo assim, não sinto ânimo de permanecer no céu nessa noite escura.

Bato as botas no chão novamente e olho pelo caminho. Por causa da neve, alguns duendes, ninfas e comerciantes da trilha de pérolas negras, ainda não deixaram o caminho, permanecem cuidando dos pomares e plantas.

Faço uma careta. Eles não vão sair daqui até a neve parar, será como antigamente, trabalhos durante dia e noite, para manter o caminho de pérolas negras vivo. Olho para um dos duendes e e ele treme, me abaixo.

- Tem que ir para casa, ele vai resistir até amanhã, busque algo quente. - peço e olho ao redor.

Outros alados do batalhão tentam convercer os comerciantes a irem para casa por essa noite. O duente me encara e nega.

- Juju não pode deixar o pomar de Juju sozinho! As frutas de Juju podem morrer. - suspiro e passo a mão no topo de sua cabeça.

- Confia em mim? - ele me olha por alguns segundos e assente.

- Juju confia em alados, alados são bons e protegem Juju dos gigantes. - sorrio.

- Então vá para casa essa noite... Volte agasalhado e com o que é necessário para permanecer aqui dia e noite. - ele suspira e seus olhos marejam.

- Teremos outra era de fome e medo? - ele pergunta. - Onde está a Guardiã? - meu coração aperta.

Ada sumiu essa manhã, desde então, Faruk se trancou no castelo, não permite a entrada de quase ninguém dentro de seu quarto e apenas as crianças conseguem falar com ele, não sabemos para onde Ada foi, mas o batalhão inteiro de Drake está vasculhando os arredores. O batalhão de Aigon está no vilarejo tentando conter o medo que está começando a surgir mansamente. Olho para Juju sem uma resposta montada.

- Não posso afirmar nada, mas se retornar, saberemos lidar, certo? - ele assente e sorrio. - Vamos estar preparados amanhã, por isso, vá para casa hoje. - respiro fundo. - E não se preocupe, vamos achar nossa guardiã. - ele assente.

- Se a alada protetora estivesse aqui, jamais estariamos correndo o risco de entrar na era das sombras novamente. - suspiro e aperto a boca em uma linha fina. Téo pousa ao meu lado e se abaixa perto do duende.

- Raiden te convenceu a ir? - ele assente.

- Juju já vai. - ele diz e sorri gentilmente para mim. - Confiamos em vocês alados. - ele diz e assinto.

- Não se preocupe. - digo e ele caminha com as pernas curtas para fora da trilha. Me levanto e Téo também, ele me encara e passa a mão nos cabelos.

- Tenho algo a pedir. - assinto.

- Sei o que é. - ele suspira.

Alados com família não trabalhavam ativamente em batalhões quando Faruk coordenava sozinho, pois era arriscado para as famílias, infelizmente esse privilégio só era para alados, todos os seres místicos tinham que continuar trabalhando sem opções, porque eram escravizados de certa forma, mas agora, todos os seres místicos que tem família e quiserem ficar em casa, podem.

- Tenho medo de deixar Gabriella sozinha... - assinto.

- Relaxa, vou cuidar de tudo. - ele me agradece com o olhar.

- De qualquer forma, já é noite e tenho que ir para casa. - ele diz e assinto.

- Téo... - ele me encara. - Pensa em levar Gabriella para o lado humano até que as coisas se ajeitem? Humanas nunca viveram aqui na época das sombras. - ele nega.

- Vou proteger ela e meu filho, eles não precisarão ir. - ele diz firmemente.

- Ok... - ele alça voo e se afasta. Olho ao redor da trilha e receio que dormir não será uma opção fácil, já que preciso conseguir que todos saiam antes do amanhecer.

Época das sombras era chamada aos meses que o sol não brilhava em Pearl, já que nuvens densas cobriam o céu, por causa disso, assassinatos, roubos e sequestros aumentavam nessa época. Caos. Desde que me entendo por gente, tinhamos dois meses de sombras. Um deles na época do aniversário da mãe de Faruk e um perto do dia que Khalifa tinha fugido.

Bastava esses meses para que Pearl fosse virada de cabeça para baixo, era como se as sombras governassem sobre Pearl.

No ano que Ada veio a Pearl, não tivemos mais... Simplesmente sumiu, mesmo com as tempestades, não existiu época de sombras. Ela curou Pearl... Curou Faruk.

Acho que vamos experimentar essa época novamente, então agora minha prioridade é garantir que a trilha não seja assaltada, nenhuma ninfa sequestrada e nenhum comerciante morto ou comido pelos seres que saem da floresta enganosa.

Como fazer isso? Trabalhar como louco e ir para casa apenas para tomar banho, voltar e proteger, comer dos pomares e pedir aos céus que os danos sejam mínimos e as coisas voltem ao normal, mas principalmente, impedir que seres da floresta enganosa atravessem para a floresta verde e criem problemas.

Minha menor preocupação é os gigantes, já que eles não vão querer se aproximar do castelo, Faruk mesmo aparecia para matá-los apenas para poder sentir o sangue quente envolvendo o corpo dele, claro! Se ele estiver acordado para isso.

Voo novamente e baixo perto de outro pomar.

Volto a conversar com um duende e faço isso o caminho inteiro. O tempo passa e me sinto exausto. Convenço a maior parte dos que estão no caminho, e noite adentro, esvaziamos o caminho de pérolas negras.

Me sinto aliviado ao olhar a extensão do caminho vazio depois de horas seguidas.

Me sento no chão e Maiana pousa.

- O dia vai nascer em menos de duas horas, deveria ir para casa e tomar um banho, precisamos estar aqui antes dos comerciantes. - ela diz e assinto.

- Espero que isso acabe logo, para que eu durma em paz. - ela sorri.

- Durma escorado em uma das árvores quando retornar. - faço uma careta.

- Dormir em paz não envolvia isso. - ela suspira e estende a mão, pegando flocos de neve.

- Téo foi para casa? - assinto e me levanto.

- Foi. - ela assente e me olha com altivez.

- Será uma honra trabalhar ao seu lado então Raiden. - assinto e abro as asas preparando voo.

- Te vejo em breve. - digo e alço voo.

RAIDEN - Saga "Pearl" - Livro VIIOnde histórias criam vida. Descubra agora