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Flora está muda e me cura, vejo lágrimas retidas em seus olhos. Ela se afasta e sorri forçadamente.

- Pronto. - ela diz e recolhe as toalhas manchadas com sangue, acaba trombando em uma bacia de água e derramando tudo no chão, ela treme e pega as toalhas que restaram limpas e secas e começa a secar o chão. Olho para a porta e encaro Drake por segundos, ele me assusta, olho para Flora.

- Obrigada. - peço e ela assente e me olha.

- Por nada. - ela diz e saio da maca vestindo um vestido emprestado. Olho para Drake.

- Me leve até Raiden. - peço. Drake nega.

- Ele te marcou, não pode te ver mais... Ele te violentou... - nego.

- Eu acabei convencendo ele disso. - Drake dá de ombros.

- Não é da minha conta. - olho para ele chocada, ele não parece sentir um pingo de empatia por Raiden, mesmo que eu repita que não era para ter acontecido. Meu peito aperta e levo a mão a ele.

- Não vão realmente matar ele, certo? - ele assente.

- Não há perdão para isso. - ele diz.

- Ele ainda está vivo? - pergunto com a voz trêmula e tento sair da sala, Drake não permite e começo a suar, me sinto quente. Ofego. Drake ergue uma sobrancelha.

- Ó não... Você o ama? - pisco as lágrimas em meus olhos e levo a mão ao peito, a dor aumenta. Drake parece horrorizado. - Ele te machucou! Céus Joyce! Não deve ter empatia por um alado defeituoso. - a raiva bate em mim.

- Defeituoso!? - grito e caio de joelhos. Se Téo matou ele aquela hora, então não tenho mais como tentar convencer ninguém de lhe dar uma segunda oportunidade, apenas quero ele vivo, nem que isso signifique que não posso mais vê-lo.

- Não pode fazer nada por ele alada estúpida! Mesmo que tenha o convencido, outro alado seria racional e não se arriscaria! Ele simplesmente realiza os desejos que tem quando quer e isso acabou te ferindo. Sim! Defeituoso. - "Alada!?" sequer tenho asas, se eu fosse uma alada não teria chegado a esse ponto e estaríamos bem.

Vejo Gabi aparecer na porta com Chris nos braços. Ela passa por Drake empurrando ele e se abaixa na minha frente. Chris pula de seu colo e me abraça.

- Tia Joyce! - ele parece super feliz, mas a dor só aumenta. Solto um grunhido.

- Onde dói Joyce? Céus... Jamais deveria permitir que Raiden te toque... Falhei com Ada. - ela diz e olho para ela, seus olhos marejam. - Desculpe amiga. - cerro os dentes. Me levanto e passo por ela e Chris. Empurro Drake e caminho para fora do curandeiro, sou erguida pela cintura e e me debato.

- Me solta Drake! - ordeno. Cravo as unhas em seu braço e ele não me solta, a dor aumenta e paro de lutar, estremeço e Drake me equilibra no chão.

- Ok... Te levo até ele. Está queimando. - ele diz e olha para trás. - Sinto muito Gabi, tenho que deixar ela ver ele agora ou ela vai acabar morrendo. - Ele diz e voa.

A dor aumenta e sinto calafrios enquanto meu corpo parece ser dilacerado, a dor no peito é tanta que me sinto fraca demais para pensar.

Olho de relance para o céu que parece cada vez mais escuro, como se gradualmente ele fosse perdendo a capacidade de se tornar um amanhecer.

Sou levada para dentro e me dou conta de celas ao meu redor segundos depois. Sou colocada no chão com apoio e olho para Raiden, ouço os gemidos de dor dele e a violência que presencio me atormenta. Yven, Téo e Aigon batem nele de verdade. Soluço.

- PAREM! grito e sou ignorada. Drake sussurra no meu ouvido.

- Raiden pediu para ser executado, sequer usou força para resistir enquanto era imobilizado, mas ao ver você, tentou ir atrás, deveria estar feliz por nunca mais ter que receber o toque de quem te feriu. - é cruel ouvir isso e fecho os olhos. Raiva me domina e não quero que o matem. Abro os olhos e me desvencilho de Drake, ele volta a me segurar e me debato.

- Parem de machucar ele. - peço aos prantos e Raiden olha em minha direção. Colocaram uma mordaça de ferro ao redor de seus lábios e não consigo acreditar que eles estejam punindo Raiden mesmo vendo o arrependimento escrito em seu olhar.

Tento ir até ele novamente e Drake me impede. Raiden tenta permanecer com os olhos em mim e Aigon chuta a mordaça de ferro, ele vira o rosto com tudo e rosna de dor.

- Por favor chega... - sussurro e paro de me debater, sinto a dor no coração passando. - Chega. - peço com a voz trêmula e vejo a cena em câmera lenta enquanto eles inflingem dor a Raiden.

Flashs de Ada se misturam a cena que vejo de Raiden.

Ela em uma cela andando de um lado a outro, tendo um dos braços enfaixados.

Sinto meu sangue correndo mais depressa nas veias e olho para Raiden, Yven está sobre uma das asas dele e não para de deferir golpes contra suas costas. Olho para os rapazes sentindo meu sangue verter em raiva pura com a cena.

Vejo Ada tentar se soltar de uma mesa metálica, onde tem braços e pernas presos, as tentativas ferem seus pulsos e tornozelos.

A raiva em mim dobra. Vontade punir quem machuca os meus.

Vontade machucar quem fere inocentes e sei de repente que Raiden não é inocente, mas mesmo assim, a vontade proteger ele cresce de uma forma que não compreendo, sinto meu coração apertar só de saber que ele está sendo ferido por minha causa e por minha fraqueza.

Vejo o rosto da alada que me atravessou quando pequena e vejo minha mãe de verdade. Ela sorri.

- Quando despertar, estarei te observando do jardim de almas... Estou orgulhosa por ter escolhido ele, não se preocupe, ele é intenso o suficiente para dar a própria vida no lugar da sua se necessário for.

- Quem mamãe? - ela beija minha testa.

- O alado prateado.

Giro nos calcanhares e bato com a mão aberta no peito de Drake. Ele voa e bate contra a parede do calabouço. Sei que meus olhos estão queimando em raiva, sinto a cor castanha mais presente e me curvo no chão cerrando os dentes, sinto a extensão de minhas asas e elas tocam ambas celas de cada lado do calabouço, tem penas na colocação café como as de mamãe e penas acastanhadas. Drake me encara e sorri amplamente. Ouço Raiden tossir e me levanto do chão, me viro para os três na cela e estendo a mão aberta. Eles se curvam no chão e começam a gemer de dor.

- Como é sentir a dor que Raiden sentiu enquanto batiam nele?

RAIDEN - Saga "Pearl" - Livro VIIOnde histórias criam vida. Descubra agora