Capítulo 45- Parte 2

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— Eu e o Rogério vamos sair agora, temos um assunto pra resolver.— Marta diz, e eles se entreolham.—Mas voltamos para comer a torta.

— Sim.— Rogério pigarreia.— Logo voltamos. Tchau.— Eles vão, deixando nós quatro sozinhos.

— Acho que meu pai estava passando mal.— Comento com Otávio.

— É o que parece.— Ele diz.

— Bom... Vou bater um suco pra tomarmos enquanto esperamos.— Levanto da cadeira.

Faço o suco e nos sirvo. Volto a sentar com eles. Logo mamãe está de volta e se junta a nós.

Marta chega quase que no mesmo momento com Rogério.

— Conseguiram resolver?— Pergunto.

— Ah, sim... Nós... — Rogério diz.

— Nós estávamos resolvendo uma... uma coisa pra minha irmã. Nada demais.— Ela sorri.

— Ok então.— Balanço a cabeça. O forno apita.— Ouviram? O banquete está pronto.— Brinco.

Pego a torta.

— Vou pegar os pratos.— Otávio se prontifica, passando por mim e depositando um beijo em meus lábios.

Nos servimos.

— Vou chamar meu pai para comer.— Saio da cozinha.

Ando até a porta de seu quarto, que é ao lado do quarto de mamãe.

— Pai?— Bato na porta e espero alguns segundos. Nada. — Pai?— Insisto.

— O-oi.— Ouço-o responder, sem abrir a porta.

— O senhor não quer comer torta? Acabou de ficar pronta.

— Eu... Não. Preciso... Preciso dormir, não tô muito bem. Mas obrigado, filha. Me desculpa. Você... Você me desculpa?— Por um momento parece que sua voz embarga.

— Tudo bem, pai. Não precisa pedir desculpa por isso. Vou guardar um pedaço para o Senhor, tá bom? Eu vou
lá agora.— Viro-me para voltar para a cozinha.

— Espera.— Ele pede. Volto para onde estava. Ouço-o respirar fundo diversas vezes e espero-o dizer o que quer.— Tenho muito orgulho de você.— Ele soluça. Está chorando? Mas por quê?

— Pai... O senhor está chorando?

— Eu só preciso que você saiba que vocês sempre fizeram certo, sempre mereceram mais, eu que nunca tive a imensidão que precisavam para oferecer. Então eu errei diversas vezes. Se eu pudesse voltar no tempo, faria tudo diferente.

— Pai...— Tento dizer alguma coisa.

— Pode ir, minha filha... Não precisa me dizer nada.

— Pai, apesar de tudo, eu te amo. Eu te amo mesmo assim.— Sinto meus olhos marejarem e ouço um choro doído do outro lado.— Pai, por que o senhor tá chorando? Pode me falar?

—Por nada.— Ele responde depois de um tempo.— Vai lá comer. Eu estou bem, só precisava...— Respira fundo mais uma vez.—Te dizer...

— Tudo bem. Mas se precisar de qualquer coisa, me fala.

Ele não responde mais nada, então eu volto para a cozinha.

Sento-me à mesa mas não começo a comer. Meu pensamento está longe.

— O que foi?— Otávio pergunta.

— Meu pai. Ele tá estranho.— Respondo, fitando o nada.

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