Ter uma babá me fez ter muito tempo livre. Assim que as meninas ameaçavam chorar, Crystal aparecia e acalmava elas de um jeito que me deixava surpresa.
Ela realmente tinha experiência com crianças. Mas, óbvio que tinha o lado ruim. Chegou um momento que eu não era mais necessária. Porque diferente da Suzana que aparecia de vez em quando, Crystal estava sempre lá.
- Viu a Crystal? - perguntei, depois de entrar na cozinha.
Ellie que estava preparando o almoço, sorriu na minha direção.
- Está no jardim com as meninas. O dia está lindo. - respondeu, e pegou uma colher de pau para mexer no arroz.
Me aproximando da janela, vi minhas filhas brincando enquanto a babá as observava.
- Quero que tire folga amanhã, Ellie. Eu que vou preparar o almoço. - avisei, ainda olhando minhas filhas.
- Não vai precisar de ajuda? - perguntou.
- Agradeço, mas não será necessário. - respondi voltando a olha-la. - O mercado é muito longe daqui?
- Meia hora da viagem. - disse, fechando a panela do arroz. - Pretende sair?
Assenti.
- Sim. Eu dei uma olhada ontem na dispensa e vi que não tinha o necessário para preparar o almoço de amanhã.
Eu queria fazer uma das minhas comidas favoritas, e para isso precisava ir ao mercado. Gostaria de voltar a assumir a cozinha pelo menos por um dia.
- Então já tem algo em mente? - Ellie perguntou, curiosa.
- Já ouviu falar da feijoada? - questionei, me aproximando do balcão.
Ela franziu o cenho.
- Já, mas nunca fiz.
- Deveria, é uma delícia. - falei, já sentindo água na boca.
E seria bom ver o Bruno comendo algo diferente. No restaurante que eu trabalhava no Brasil era o prato mais pedido nos dias de domingo.
Saindo da cozinha, fui até o jardim para saber como as meninas estavam.
- Estão dando muito trabalho? - perguntei, para Crystal quando me agachei atrás da Alexia.
Abraçando minha filha, dei um beijo no topo da sua cabeça. Sophie estava perto da babá enquanto segurava um ursinho. Elas estavam crescendo tão rápido que daqui a pouco estariam andando pela casa me dando dores de cabeça.
- Não. Elas estão bem calminhas. - a garota respondeu.
Depois de ficar um pouco mais com elas, avisei Crystal que eu pretendia sair e que qualquer coisa ela podia me ligar. Peguei meu celular, a chave do carro e sai de casa.
- Boa tarde, Simon. - exclamei, depois da ver o jardineiro perto da fonte.
- Boa tarde, Sr. Ferraz. - respondeu, sorrindo.
Depois de entrar no carro, joguei meu celular no banco do passageiro e coloquei o cinto.
A viagem até o mercado demorou mais que o planejado. Ellie tinha me dado o endereço para colocar no GPS, mas acabei me atrapalhando e, como consequência, me perdi. Felizmente no final acabou dando tudo certo.
Peguei o carrinho e com a lista do que eu ia comprar já pronta na minha cabeça, eu entrei no mercado. Fiquei tanto tempo indecisa sobre a marca dos produtos que quando finalmente sai com as sacolas nas mãos, vi que já era de noite.Estava colocando as compras no porta mala quando meu celular começou a tocar de dentro do carro. Fechando o porta mala, eu entrei no automóvel e atendi a ligação.
- Onde você está?
Era a voz do meu noivo e ele não parecia muito feliz.
- No estacionamento do mercado. - falei, colocando o cinto. - Quando eu disse que queria me mudar para longe não achei que fosse levar a sério.
Para chegar em qualquer lugar, como shopping, mercado e parques era quase uma hora de viagem.
- Você não estava atendendo minhas ligações. - disse, mais uma vez.
- Acabei deixando meu celular no carro. - respondi. - Não precisa ficar tão preocupado, eu sei me cuidar.
- Você disse isso das outras vezes.
Suspirei, encostando minhas costas no banco.
- Agora é diferente. Das outras vezes foram em outras circunstâncias. - exclamei. - Já estou indo para casa.
- Tudo bem, eu também já estou saindo da empresa.
- Falando em empresa, eu estava pensando que você podia ficar em casa comigo amanhã. - falei, lembrando da feijoada. - Eu já até pedi para Ellie tirar folga assim eu posso cozinhar.
- Não prefere sair para jantar? - perguntou.
- Não, eu mesmo quero cozinhar. - respondi, ansiosa. - Vai ficar?
- Então é o dia inteiro com você?
- Inteirinho. - falei.
- Mal posso esperar. - respondeu, me deixando satisfeita. - Você foi no médico?
Sabendo que ele estava falando das minhas suspeitas sobre uma gravidez, segurei uma careta. Estava tentando esquecer aquele assunto. Pelo menos por alguns dias.
- Marquei uma consulta para depois de amanhã. - contei. - Vou desligar agora, daqui a pouco a gente se encontra em casa.
- Eu te amo.
Sorrindo, eu respondi com uma sensação boa no peito.
- Eu também te amo, Bruno.
Depois de encerrar a ligação, liguei o carro querendo voltar logo para casa. Com o endereço no GPS, comecei a dirigir tentando não me perder de novo.
E, tudo teria corrido bem se eu não tivesse sentido uma tontura que acabou me fazendo afrouxar as mãos no volante.
A última vez que senti algo parecido foi no mercado alguns dias antes de descobrir que estava grávida das gêmeas.
Minha visão embaçou por segundos, mas foi o suficiente para não ver outro carro vindo na minha direção. Sem conseguir desviar, o automóvel bateu no meu.
E foi tão forte que minha cabeça foi arremessada contra alto que acabou me deixando inconsciente.
Mas, antes de apagar, as últimas palavras que o Bruno me disse ecoaram na minha cabeça.
Eu te amo.
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Para Sempre Te Amarei
Romance"História Em Andamento" Livro Dois Intrigas, confusões, dramas, mentiras... Helena Ferraz estava acostumada com aquilo, no entanto, ela não podia encarar ou resolver as coisas como uma adolescente, não mais. Porque agora, ela é adulta, e tinha que a...