Capítulo 2 - Memórias avassaladoras

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Acordo subitamente devido ao sonho que estava tendo. Novamente sonhei com ele. Dessa vez o sonho iniciou-se doce e inocente e em seguida, se transformou no pior pesadelo. No sonho, ele e eu estávamos juntos e, como sempre, desfrutando da companhia um do outro enquanto tomávamos café da manhã. Nós ríamos sem parar e eu estava muito feliz por estar vendo-o, depois de tanto tempo. Até que, de repente, o sorriso desapareceu de seu rosto, dando espaço para uma expressão de pavor. Sua imagem começou a se ofuscar e ele olhava para o seu corpo que aos poucos estava se desintegrando e desaparecendo diante dos meus olhos. Eu tentava me mover para socorrê-lo, porém, eu não conseguia me mexer, então eu gritava, chorava e chamava o nome dele e nada acontecia, até que ele desapareceu completamente e eu acordei ofegante. 

Sonhar com ele faz com que lembranças daquele terrível dia invadam a minha mente sem piedade: era uma manhã gélida e ele e eu estávamos tomando café da manhã. Para nós, aquilo era sagrado, pois sempre fazíamos a primeira refeição do dia juntos. Naquele dia, ele me contava sobre ela. Seus olhos brilhavam e ele estava feliz. Ele me relatava mais uma vez como havia conhecido aquela mulher e sobre seus planos para o futuro. Quando, de repente, um homem entra na sala com uma arma na mão e antes que nós pudéssemos reagir, eu ouço o som de um disparo e eu vejo o peito dele sangrar. Eu vou correndo até ele desesperada e fico numa tentativa fracassada de reanima-lo, então eu o vejo agonizar em meus braços e em questão de segundos, ele dá seu último suspiro. 

Já faz 10 anos que a vida dele não foi poupada e que ele foi arrancado de mim. Faz 10 anos que metade de mim morreu juntamente com ele naquela manhã. 

A possibilidades de ser morto a qualquer momento é uma das consequências de nascer em uma família de mafiosos. Por isso, desde que eu era criança, meus pais diariamente se dedicaram e me ensinaram tudo sobre esse mundo, desde como funcionavam nossos serviços, até defesa pessoal e ataque.

Fui criada para pelo menos administrar os negócios, já que eu era uma garota sensível e que tinha certa resistência em, caso fosse necessário, machucar alguém. Entretanto, depois daquele dia em que eu vi uma das pessoas mais importantes da minha vida ser morta, tudo mudou. Aquela menina frágil e piedosa não existia mais. Isso se intensificou e ganhou ainda mais força dois anos depois, quando outra pessoa que eu amava foi brutalmente assassinada e eu fui espancada. Carrego uma cicatriz em minhas costas em decorrência daquele dia, o que contribui para que constantemente eu me lembre de tudo o que aconteceu. Eu só tenho certeza que foi naquele dia que minha outra metade morreu e desde lá eu deixei de ter um coração. 

As únicas pessoas que sabem dessas duas grandes perdas que eu tive são os meus pais e meus três tios, que também são mafiosos confiáveis. Depois desses ocorridos, nenhum de nós ousou tocar no assunto e eu prefiro que seja assim. Jamais contei para alguém, nem pretendo fazer isso e eu sinto raiva quando alguém me questiona sobre o meu passado.

Agora, como já está amanhecendo, levanto da cama para tentar afastar todas essas lembranças do meu passado da minha mente. Escolho uma roupa luxuosa, mas confortável para vestir, já que em breve irei viajar. Vou ao banheiro e em seguida saio da minha suíte, desço para o segundo andar e me direciono até a cozinha, onde encontro Mattia comendo um croissant. 

- Chame o motorista. Daqui 10 minutos vamos para o aeroporto. 

Ele consente e pega seu celular e eu bebo um copo de água. 

- Aconteceu alguma coisa? – Ele questiona e me olha. 

- Nós vamos voltar para a Itália, pois eu tenho uma reunião. Você já se esqueceu?

- Não. Eu estava me referindo a você. 

- A mim? Não aconteceu nada comigo.

- Tem certeza? – Ele questiona olhando profundamente em meus olhos. 

- Tenho. Por quê?

- Esse seu olhar... Eu já o vi antes. Raras vezes, mas vi. 

- Não é nada.

- Sei que não é verdade, pois eles parecem vazios... Como se necessitassem de algo.

Eu hesito por alguns segundos, mas então apenas respondo:

- Eu apenas tive um sonho e não quero conversar sobre isso. 

- Tudo bem. Eu lhe respeito e eu sei que você é a minha chefe, mas se um dia quiser conversar, você sabe que eu estarei disponível para te ouvir. 

- Que tal agora nós irmos para não nos atrasarmos? 

Mattia se levanta e vem em meu encontro. 

- É claro, vamos.

Nós saímos da mansão em silêncio e eu vejo o último carro que eu comprei estacionado em frente à entrada principal: uma Lamborghini vermelha. 

- Finalmente vamos estrear essa maravilha de carro. – Eu abro um sorriso e entro no mesmo e Mattia me acompanha.

Instantes depois chegamos ao aeroporto e quando algumas horas se passaram, nós chegamos na Itália. O voo foi tranquilo e Mattia e eu passamos boa parte do tempo conversando sobre os negócios. Dessa vez, quem nos aguardava no aeroporto era um dos motoristas do Mattia com um Bugatti preto. 

- Quanto que você gastou para comprar esse carro, Mattia? 

- Uns 47 milhões, afinal, ele é o carro mais caro do mundo. Resolvi me dar de presente – Ele me responde sorrindo enquanto o motorista abre a porta para nós entrarmos.

- Irônico pensar que o carro mais valioso do mundo e barato para nós. – Eu comento enquanto me acomodo no carro, então me direciono ao motorista. – Me leve até o local da reunião, por favor. 

Ele consente com a cabeça e dá a partida no carro. Durante o percurso, decido pegar meu celular e vejo algo incomum. 

- Uma pessoa que não está na minha lista de contatos acabou de me enviar uma mensagem. – Eu me direciono para o Mattia e o olho com estranhamento e ele me encara e eu continuo:

- Olha só. – Mostro a tela do meu IPhone Prince Plus para ele. – Uma solicitação de bate papo de Thomas. 

- Isso realmente é estranho, já que pouquíssimas pessoas tem o número do seu celular particular. – Comenta Mattia pensativo.


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