14°

1.4K 178 42
                                    

— EM casa nós conversamos — digo por fim. Max está querendo protestar, mas um carro para próximo a nós e a diretora abaixa o vidro.

— Irmãos Price. Blackwood. Tem algo errado? — Sua sobrancelha arqueada sugere que é bom nós dizermos que não.

— Está tudo bem, diretora Julie. — Forço um sorriso. Não quero me meter em encrenca por causa desses dois.

Ela anue, olha para os dois garotos comigo e depois da partida. Suspiro de alívio e encaro Max com raiva.

— Se você já acabou com seu teatrinho, eu sugiro que vá para aula. — Eu deveria fazer o mesmo, mas...

— Não, você vai me explicar...

— Eu vou explicar quando eu quiser explicar, Maximilian — minha voz é firme o bastante para ele não retrucar. — Então pare com seu drama idiota e superproteção. Nos vemos em casa.

Lhe dou as costas, sem fazer a mínima ideia para onde ir, apenas que preciso sair de perto do meu irmão e de todas as lembranças que seu olhar carrega. As palavras que com certeza devem estar entaladas em sua garganta. O motivo por ele ser assim, por quase matar Sebastian com a simples menção de que ele fez algo.

— Ei! — Viro a cabeça e vejo justamente Sebastian caminhando ao meu lado. Olho por cima do ombro e vejo meu irmão ainda parado de braços cruzados, encarando nós dois com desconfiança. Deve estar debatendo se deve vir atrás de nós, depois de toda essa confusão que ele arrumou.

— Quer caminhar? — pergunto a Sebastian por fim. Ele assente, obviamente já caminhando ao meu lado.

— Você não é de matar aula. — Sebastian mantém as mãos dentro dos bolsos. Muito despreocupado considerando que meu irmão pode atirar uma faca em suas costas.

— Não, não sou. Mas a situação exige. — Cruzo os braços e suspiro. Se já não me sentia bem quando acordei, agora me sinto infinitamente pior.

Sebastian e eu paramos no ponto de ônibus. Não sei para onde vamos.

— Desculpe por aquilo — digo a ele, percebendo que ainda não tinha me desculpado.

— O que disse a ele? — Ainda não encarei seus olhos e sinto a atenção deles sobre mim enquanto balanço os pés no banco e encaro o chão.

— Nada. Ele não me deixou falar. Quando eu disse seu nome, ele simplesmente pegou o carro e fez ameaças sobre acabar com você.

— Presumo que tenha um motivo para ele ser assim. Quer dizer, eu mataria qualquer um que fizesse mal a Safira, mas eu não fiz mal a você para ele querer me matar... Ou fiz... Se foi por ontem...

— Não, não! — eu o interrompo. — Ontem... O que aconteceu... Eu quis aquilo.

Olho para Sebastian a tempo de ver um sorriso malicioso em seus lábios. Coro na mesma hora.

— Não... Não me olhe assim! — Tapo meu rosto com as mãos.

— Desculpe... Mas se quer saber, eu também quis muito e aliás... Você beija muito bem...

— Sebastian! — Afasto as mãos do rosto e lhe dou um tapa no braço. Ele ri.

— Não fique com vergonha! Você beija bem, isso é bom.

Estou prestes a virar um pimentão se ele continuar a dizer essas coisas.

— Olha, Madelaine — deve ser a primeira vez que diz meu nome, então olho para ele. — Provavelmente deve estar se sentindo mal por ter me beijado, sendo que tem um encontro com Hendriks em uma semana, mas vocês não estão namorando. Então não veja o nosso beijo como uma traição.

— É só que... — Suspiro. Tudo fica mais confuso a cada dia.

— Não vou contar se você não o fizer. — Acredito nele. É estranho isso, pensar que posso acreditar e confiar em Sebastian.

— Não temos muito o que fazer agora, então... Quer me ajudar com uma coisa?

~•~

— Não era isso que eu estava imaginando — Sebastian resmunga e dou um risinho.

Horas atrás eu o chamei para me ajudar com os livros em uma biblioteca da cidade. Eles fizeram uma reforma e a maioria dos livros está cheio de poeira, fora a desorganização. Vi um dos trabalhadores daqui conversando com uma mulher a respeito disso e dizendo que se ela conhecesse alguém que pudesse ajudar, que viesse aqui. Então aqui estou eu. E Sebastian.

— O que você estava pensando? Que iríamos treinar minha habilidade de beijar de forma ardente? — Arqueio a sobrancelha mesmo quando sinto meu rosto esquentar.

Sebastian resmunga algo que não consigo ouvir e voltamos para os livros. Já limpamos boa parte deles e estamos separando em caixas de acordo com o gênero, então depois alguém deve separar de acordo com com o ano.

Estamos no fundo da biblioteca, assim não incomodamos ninguém e podemos conversar em tom normal, sem precisar sussurrar.

— Posso te perguntar uma coisa? — Sebastian diz ao meu lado. Anuo. — Você já namorou alguém além do Hendriks?

— Não. — Como ele pode achar que já namorei alguém além de Theo antes?

— Seu irmão não parece odiar o Hendriks... — Sebastian parece refletir. Eu o encaro, querendo saber onde quer chegar.

— E?

— Então, ou você está mentindo ou seu irmão tem sérios problemas. — Ele dá de ombros, como se isso explicasse alguma coisa.

— Sobre o quê eu estou mentindo, exatamente?

— Não acho que o comportamento de Max seja atoa. E se ele não tem essa proteção toda por causa do Hendriks... — Sebastian olha em meus olhos, os seus semicerrados. — Alguma coisa aconteceu, não foi?

— Nada aconteceu. — Viro o rosto, concentrada em limpar os livros.

— Olha, eu sou seu amigo, ok? Pode confiar em mim.

Mesmo assim, não viro para ele ou falo nada nas duas horas que passam depois disso.

~•~

Sebastian não forçou a barra. Quando viu que eu não falaria, apenas se concentrou nos livros e na limpeza. Agradeci silenciosamente a ele por isso.

Nos despedimos com sorrisos hesitantes quando terminamos tudo e segui para o escritório do meu pai. Servir café e fazer cópias podem ajudar a clarear minha mente.

— Boa tarde, Sr Price. — Entro na sala do meu pai depois de bater. Ele está sentado na sua habitual cadeira de couro com uma pilha de papéis espalhados pela mesa.

— Boa tarde, Srta Price. No que posso ajudar? — Meu pai sorri e se levanta para beijar meu rosto, então se senta novamente. Ocupo a cadeira à sua frente. — Chegou mais cedo hoje. Tudo bem?

— Vai ficar. — Suspiro dramaticamente. Não pretendo contar ao meu pai sobre todo o desentendimento com meu irmão, mas não dá para esconder minha cara.

— Quer conversar sobre isso? — seus olhos castanhos são cautelosos em relação a mim. Meus pais e eu temos um acordo de não forçar a barra e respeitar o espaço. Não conto tudo a eles, mas também não minto sobre nada e eles vão estar sempre aqui para mim. Se estiver muito mal, com notas baixas, sem comer e me drogando, então eles tem total permissão para forçarem a barra.

— Hoje não, pai — deixo que ele entenda que essa é uma das coisas que preciso resolver sozinha.

— Certo... Mas saiba que seu pai está sempre aqui para os momentos bons e ruins.

— Obrigada, pai.

Pelo menos uma coisa permanece a mesma: mesmo tudo desmoronando, eu ainda vou ter a minha família.

~•~

Votem 
Comentem
Compartilhem
E me sigam aqui e no Instagram
Meu perfil: autora.stella
2bjs, môres♥

Gᴀʀᴏᴛᴀ Mɪᴍᴀᴅᴀ-Sᴀɴ Fʀᴀɴᴄɪsᴄᴏ||Vᴏʟ2 Dᴀ Tʀɪʟᴏɢɪᴀ Gᴀʀᴏᴛᴀ MɪᴍᴀᴅᴀOnde histórias criam vida. Descubra agora