Todos nos viramos para a ponta da mesa onde Jonathan estava de pé, parecendo pronto para um discurso. Catarina que estava ao meu lado segurou minha mão e a apertou, estranhamente animada, ou seria ansiosa?
-Durante essas duas últimas semanas eu estive em várias reuniões com os administradores da AiresHotels, me mantendo a par do andamento dos negócios, e aparentemente, apesar de ser um completo impostor, meu irmão manteve tudo em ordem, o que me deixou bastante satisfeito e me fez ter a iniciativa de abrir uma nova filial para os negócios, o que era algo que eu já tinha em mente antes de precisar me afastar de tudo.
-Ah querido! isso é fantástico!
-Pelo menos para alguma coisa aquele louco tinha que servir... _Catarina murmurou ao meu lado.
-Fiz algumas pesquisas e como era de se esperar o local mais acertivo para um investimento como esse é São Paulo. Ontem mesmo um dos funcionários me mandou a documentação do local, então tudo já está encaminhado, já temos um prazo para a finalização das obras e com a ajuda de Deus daqui quatro meses a inauguraremos.
-O senhor não perde tempo mesmo, não é? _Tina disse, tão feliz com a notícia quanto todos na mesa.
-Perder tempo é para amadores, Tina! _Catarina respondeu sorridente e depois voltou-se ao pai. -E então, mais o que o senhor tem a dizer?
Jonathan sorriu para a filha, antes de voltar a falar.
-Mais umas coisinhas igualmente animadoras. Eu sei que já agradeci pelo menos umas vinte vezes a cada um de vocês por tudo que fizeram por Catarina e pelo legado da minha família... mas ainda assim acho pouco diante de todos os riscos que os fiz passar nesses últimos meses, principalmente você Miguel. _Ele disse, fazendo uma pausa e olhando diretamente para mim e Catarina. -Miguel, eu sei que toda essa confusão fez você perder uma ótima oportunidade de entrar na faculdade...
Encarei Catarina, irritado por ela ter contado aquilo ao pai, mas ela apenas piscou para mim e me fez voltar a atenção ao monólogo de Jonathan.
-Eu até tentei entrar em contato com a reitoria mas eles já tinham preenchido a sua vaga, mas obviamente eu não me dei por vencido, busquei mais alguns contatos e consegui uma nova bolsa para você cursar o ensino superior!
Fiquei sem palavras por alguns segundos, não sabia o que estava sentindo, estava pronto para negar a ajuda mas também pronto para agradecê-lo por se importar tanto com o meu futuro.
-Jonathan, eu agradeço do fundo do meu coração, mas não posso aceitar mais nada da sua família.
-E quem disse que isso não terá um preço? não é uma simples ajuda, Miguel, é uma troca de favores!
-Bom, até agora eu só ouvi o seu favor a mim, não sei o que posso oferecer a você.
-Pai, não tem isso de troca de favores, nós devemos isso a ele... _Catarina disse, parecendo desapontada com o pai.
-Vocês dois precisam controlar essa ansiedade! _Roberta disse, e depois sorriu para Jonathan, parecendo saber exatamente o que ele tinha em mente. -Continue, meu amor.
-Eu já sei dos planos que Catarina tem de deixar a cidade para ir estudar em São Paulo, mas sei também que ela relutou muito até tomar essa decisão, não será fácil deixar as pessoas que ela ama para trás, mas acredito que se ela tiver ao menos uma dessas pessoas ao seu lado tudo ficará mais fácil e mais seguro... convenhamos, essa menina não sabe controlar o seu temperamento impulsivo!
-Ah ótimo, então você vai mandar mais uma vez alguém atrás de mim?! _Catarina disse, não soube dizer se ela estava brincando ou chateada com a ideia.
-Não entendo o que isso tem a ver comigo, porque certamente você sabe que eu nunca mais me aventurarei como guarda costas da sua filha! _Falei, rindo.
-Ai meu Deus, vocês realmente não vão deixar ele continuar a falar, não é? _Roberta falou, revirando os olhos.
-Desculpe, continue papai.
-Eu não colocarei ninguém atrás de você, Catarina, e nem farei você de guarda costas, Miguel... mas acredito que ambos queiram começar essa nova fase universitária juntos, estou certo?
Eu e Catarina nos entreolhamos e concordamos, ainda sem saber onde ele queria chegar com aquele assunto.
-Foi o que pensei, e diante disso devo finalmente acrescentar que a bolsa que consegui para você, Miguel, é em uma faculdade de São Paulo.
-Pai! _Catarina falou, apertando minha mão outra vez e parecendo prestes a pular nos braços do pai.
-Jonathan... eu não sei nem mesmo o que dizer... _Falei, meu coração já pulava diante da ideia de não me separar de Catarina, a ideia dela ir para outro estado estava me assombrando desde o dia em que soube dessa possibilidade. Mas então olhei para a senhora a minha frente, tão dependente de mim, como eu escolheria entre minha vó e a garota que eu amava?
-Não precisa dizer nada agora. _Jonathan disse, após meus segundos de silêncio. -Como eu havia dito, será uma troca de favores, e com isso queria perguntar a você se aceita trabalhar na nova filial da AiresHotels?
Prendi todo ar. Era muita informação de uma só vez, muita coisa boa direcionada a mim, coisas que eu não conseguia enxergar um merecimento para tê-las.
-Jonathan, você deve imaginar como seria um sonho trabalhar em uma empresa como a sua, mas eu não posso aceitar, é demais pra mim!
-Escuta Miguel, se eu deixei parecer que era uma proposta, então esqueça, você me deve isso, eu consegui uma vaga na faculdade para você, e em troca você trabalhará para mim e fará da minha filha a garota mais feliz do mundo! _Jonathan falou, sua expressão estava séria, mas olhei de relance e Catarina sorria, na expectativa da minha resposta.
-Eu sei o que está tentando fazer, mais uma ajuda maquiada! _Falei, e dei risada da cara engraçada que ele fez, o que me lembrou muito Catarina, e parando para pensar eles tinham tanto em comum, me senti idiota por não ter desconfiado que ele fosse pai dela antes. -Mas diante de uma ordem vinda do meu sogro e futuro chefe, eu acho que fico sem opções além de aceitar. _Falei, e senti Catarina levantar da cadeira e jogar os braços ao redor do meu pescoço, enchendo meu rosto com beijos gordurosos de peru de natal.
-Nós vamos para São Paulo! _Catarina disse, dando palminhas animadas ao me soltar.
Eu ainda estava preocupado com a situação da minha vó, mas não ia estragar a animação de todos com as minhas hesitações naquele momento.
-Então, Feliz Natal! _Jonathan disse, estendendo sua taça.
Todos o acompanhamos e brindamos.
-Feliz Natal!
Ao final da ceia ficamos alguns minutos no jardim vendo os poucos fogos que ainda restavam e tiramos algumas fotos, após isso Roberta e Jonathan se despediram e subiram para o quarto, então o resto de nós ficou encarregado de guardar o que sobrou da ceia.
Catarina e Louise estavam guardando as comidas na geladeira, eu, vovó e Tina estávamos do outro lado da cozinha cuidando da louça. Enquanto esfregava um prato - com todo cuidado do mundo, já que aquilo parecia custar mais do que a mansão inteira - as preocupações com a minha vó ainda rodiavam a minha mente.
-Vó, o que a senhora achou sobre eu me mudar pra São Paulo por quatro anos?
-Achei incrível, eu nem acredito no quão boa essa família tem sido pra você! Mas você merece, eu sempre soube que um dia você seria recompensado por ter esse coração imenso.
Dei um meio sorriso, querendo abraçá-la naquele momento, mas minhas mãos estavam ocupadas demais segurando aquele prato como se minha vida dependesse daquilo.
-É, eu também mal posso acreditar em tudo que o senhor Jonathan tem feito, não só ele... mas eu não posso deixar de me preocupar com a senhora, como eu posso ir para outro estado e deixá-la sozinha? a senhora sabe que eu só poderei visitá-la no máximo uma vez no mês, e só depois que eu começar no novo emprego porque as passagens não devem ser baratas.
-Meu querido, precisa começar a pensar mais em você, eu vou ficar bem, tenho bons amigos na vila que podem ficar de olho em mim! _Ela disse, sorrindo para me tranquilizar.
-Desculpa me intrometer, mas não pude deixar de ouvir a conversa, só queria dizer Miguel, que Dona Marlene ganhou um lugar no coração de todos nós, o senhor Jonathan a trata como tratava a própria mãe, e eu mesma não deixarei de visitar sua vó pelo menos uma vez na semana, e nas minhas folgas podemos fazer aulas de culinária ou pilates, o que acham?
-Oh minha querida, com certeza faremos isso! _Minha vó tomou a mão de Tina, grata pela demonstração de carinho.
-Dona Marlene é como uma vó que eu e Catarina nunca tivemos, então se acostume a dividi-la com a gente, Miguel. _Agora foi a vez de Louise chegar na conversa. -E eu soube que ela é boa com cartas de tarô, eu vou adorar passar uns fins de semana em Vila Vitória aprendendo um pouquinho com ela.
-Veja só meu filho, eu ganhei netas, não ficarei sozinha!
-É, vou precisar controlar o meu ciúmes, mas espero que só faça bolo de cenoura quando eu estiver aqui!
Todos rimos, e continuamos conversando sobre o futuro de minha vó, e fiquei mais aliviado ao saber que todos estariam cuidando dela por mim. Terminamos de arrumar tudo vovó, Tina e Louise foram descansar, e essa foi a primeira oportunidade que tive de ficar sozinho com Catarina naquele dia.
-Enfim sós. _Disse, fechando a porta de seu quarto.
-Meu pai vai fazer um show se te ver aqui no meu quarto. _Ela disse, rindo baixinho, tirando a sandália e se jogando na cama.
-Bom, acho que ele vai precisar se acostumar, afinal, moraremos juntos em breve, certo? _Falei, tirando os sapatos e deitando ao lado dela.
-Tem noção disso? vamos morar juntos... em São Paulo! eu achei que meu pai estava brincando quando o ouvi dizer isso na mesa.
-Então você não sabia?
-Não! quer dizer, eu sabia sobre a sua faculdade, mas não que seria em São Paulo, não sabia do cargo que ele pretende dar a você na empresa e nem que poderíamos ficar juntos, eu já estava arrasada por ter que ir sem você...
-Eu também, se inconsciente por quase duas semanas eu já senti profundamente a sua falta, imagina se você fosse pra outro estado sem mim!
Ela sorriu, e então se aproximou, se apoiando nos cotovelos e beijando a ponta do meu nariz.
-Antes eu estava querendo prolongar ao máximo minha ida para São Paulo, cogitei até iniciar só no segundo semestre do ano que vem, mas agora eu mal posso esperar pra iniciar essa nova fase com você!
-Eu estou ansioso para buscar você na porta da faculdade usando meus tênis surrados e camisas de ponta de estoque!
-Pensando bem acho que não seria tão ruim assim se você ficasse por aqui mesmo, né?! _Ela disse, dando um tapinha na minha testa e me fazendo rir.
-Tem certeza que é isso que você quer? _Perguntei, passando meu braço em volta de sua cintura e trazendo-a para cima de mim.
-Isso é golpe baixo... _Sussurrou, colocando uma das mãos em cima da minha barriga. -Mas eu também sei jogar sujo.
-Só acredito vendo.
Catarina elevou uma das sobrancelhas, e então, aceitando o desafio, com um movimento ágil ela soltou os cabelos ruivos do coque, deixando-os cair sobre nós antes de passar a mão por baixo da minha nuca e me puxar para um beijo.
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Aquela jaqueta de couro
RomanceCatarina Aires mora em Blumenau desde que nasceu, é herdeira das empresas de sua família, escrava de uma posição que não quer ocupar e correndo um risco que desconhece, a jovem impetuosa será salva por um motoqueiro misterioso, o que ela não sabe é...