Aquele era o meu primeiro dia naquele colégio de riquinhos, apesar do meu foco não ser os estudos eu estava feliz em poder retomá-los, já que tinha sido obrigado a largar a escola no último ano para trabalhar e cuidar da minha vó e tinha o sonho de fazer uma faculdade.
Ainda achava loucura ter aceitado a proposta que o tal homem misterioso tinha me proposto há uma semana atrás, mas eu só precisava ficar de olho em uma patricinha, e em troca ele pagaria meu supletivo e os remédios da minha vó por quanto tempo fosse necessário. Eu tinha uma foto da garota que o homem tinha me dado, mas era só essa a informação que tive dela, por isso precisei passar a manhã toda indo de sala em sala a procura daquele rosto na foto. Passei em frente a uma sala e pensei ter visto uma garota bem parecida com a da foto, talvez um pouco mais velha, mas não tive como observar melhor já que ela estava olhando em minha direção. Decidi tirar a prova real esperando nos armários, já que todos os alunos tinham que passar por ali mais cedo ou mais tarde. Foi então que finalmente a vi saindo da sala de braço dado com uma outra garota, as duas pararam não muito longe e conversavam distraidamente quando notei a garota de cabelo lilás olhar diretamente para mim e voltar a cochichar com a ruiva, a razão da minha renda extra. Imediatamente tive que me apressar em sair dali, não podia dar bandeira no meu primeiro dia como stalker, vigia, segurança, perseguidor, seja lá o que eu fosse. Parei no banco próximo ao portão de saída, precisava sondar quais eram os passos que ela costumava seguir no dia a dia, assim minha vida ficaria mais fácil e eu saberia as horas certas que precisaria estar disponível para vigiá-la. A ruiva veio caminhando pelo jardim, parecia tão absorta em seus pensamentos, talvez em qual sapato fosse usar no dia seguinte, ou para qual país viajaria nas férias, não importava, o importante é que ela estava distraída o suficiente para não me notar sentado ali, a observando. Quando ela saiu do colégio, voltei a acompanhá-la de longe, um carro preto estava estacionado do outro lado da rua e ela entrou nele. É claro que a princesinha tinha uma choffer. Me apressei em ir até a minha humilde bicicleta que estava estacionada em uma árvore, e precisei de muito fôlego para acompanhar o carro da madame. Fiquei de longe observando o carro entrar por um portão grande de grade e assim que ele se fechou, me permiti chegar um pouco mais perto, ficando encostado na árvore do outro lado da rua da casa dela. A garota morava em uma mansão, quando o cara que me contratou disse que ela era rica eu não pensei que fosse tanto.
Fiquei mais algumas horas ali sentado na calçada apenas observando quem entrava e quem saía da casa, precisava saber se ela tinha compromissos diários durante a tarde, mas aparentemente na segunda-feira a patricinha só estudava mesmo.
Quando cheguei em casa o sol já estava se pondo, e minha vó estava enlouquecida atrás de mim.
-Desculpa vó, eu esqueci de avisar que agora minha rotina vai dar uma mudada.
-Como assim? e o seu emprego? _Ela indagou, preocupada.
-Eu só vou trabalhar no clube nas manhãs de sábado...
-Mas por que? então seu salário vai diminuir? _Interrompeu ela.
-Calma Dona Marlene, eu precisei mudar e diminuir meus horários no clube porque recebi outra proposta de emprego.
-É mesmo? que emprego?
-Um empresário me contratou para vigiar uma adolescente rica, em troca do serviço ele vai pagar todos os seus remédios e tratamento por quanto tempo for necessário e ainda está pagando meu supletivo, comecei hoje no colégio.
-Miguel Ferráz como você não me disse isso antes? como assim você está vigiando uma garota em troca de favores?
-Falando assim parece uma má ideia, mas pensa comigo vozinha... eu só preciso vigiá-la, protegê-la, seja lá o que for, por alguns meses e todos os gastos do seu tratamento estarão longe dos nossos ombros e ainda vou terminar a escola e poder quem sabe fazer uma faculdade.
Minha vó começou a andar pela sala, balançando a cabeça em negação.
-Eu não quero que se meta em problemas de gente rica!
-Sei me cuidar, e acho que o cara só quer que eu fique de olho se a garota vai gastar mais do que deve, ou se ninguém vai se aproveitar dela para ter algum dinheiro, essas coisas idiotas de quem não tem problemas de verdade para se preocupar.
-Eu espero que sim, Miguel... nós já temos nossos problemas, não precisamos dos problemas dos outros.
-Confia em mim.
Depois de acalmar minha vó, eu fui para o meu quarto, o dia tinha sido longo, ficar espiando a garota era mais cansativo e entediante do que pensei. Tirei a calça e peguei a foto dela no meu bolso, dei uma rápida olhada naquela garota e por um momento vi os olhos de uma pessoa infeliz ali, mas talvez ela só estivesse em um dia ruim, com certeza tinham se esgotado as bolsas de grife.No dia seguinte, cheguei no colégio em cima da hora, nem pude dar uma olhada na madame antes de começar a primeira aula. Na hora do intervalo vi algumas garotas distribuindo folhetos e como o curioso que sou me aproximei para ver sobre o que se tratava.
-Novato do supletivo, está convidado para a primeira festa de formatura do terceiro ano, é uma festa de halloween, vai ser na boate do meu pai, espero ver você por lá e... Catarina! _A garota loira e muito produzida para às 9:00 da manhã mudou completamente de foco, me ignorando e chamando alguém atrás de mim.
Catarina. Era o nome da patricinha. E ela estava bem atrás de mim. Eu estava perto demais para alguém que deveria manter distância e passar despercebido.
-Heloísa... _A patrici- digo, Catarina, disse sem muita animação.
-Aqui o convite da festa que vai ter na minha boate, é sexta a noite, você precisa ir!
Me afastei um pouco e antes que ela virasse o rosto na minha direção, eu virei de costas e fingi estar lendo o quadro de avisos. Esperei que ela tivesse alguma reação a isso, mas eu acho que sou sem graça o bastante para não prender a atenção dela por muito tempo, já que logo ela voltou a focar na loira tagarela.
-Obrigada pelo convite, mas não sei se vou...
-O quê? mas você é sempre a convidada que todos esperam, imagina se você não aparece na festa... vão achar que eu não a convidei e vai ser um fiasco...
Notei Catarina dando um leve suspiro diante do drama da garota.
-Okay, Helo, se é tão importante assim... eu vou. _Ela forçou um sorriso ao ser inesperadamente abraçada pela loira.
Qual era o problema com aquela patricinha? Digo, patricinhas gostam de festas e de serem o centro das atenções, o que claramente ela era, também, como poderia não ser? mas o fato é que ela parecia pouco animada com o convite e com toda aquela babação de ovo. Quando ignorei meus pensamentos e voltei a minha atenção às meninas, vi quando a garota de cabelo lilás apareceu e pegou o convite da festa claramente mais animada que Catarina. Me apressei em sair dali antes que as duas me vissem espiando, a amiga de Catarina já tinha marcado meu rosto no dia anterior.
Após todas as aulas terminarem, corri para a mansão já que a madame já tinha ido embora da escola, aparentemente todos naquele colégio tinham aulas e mais aulas extra curriculares mas Catarina não fazia nenhuma delas, o que era mais uma surpresa para mim, mas talvez ela apenas não precisasse delas.
Voltei para casa antes que escurecesse e usei meu caderno da escola para anotar algumas informações importantes sobre o que já sabia sobre a semana da minha protegida, e coloquei o pedaço da folha no meu quadro de avisos.Segunda: Aulas até a hora do almoço e direto para casa, não faz mais nada além de algo parecido com alongamentos no jardim de casa.
Terça: Aulas até a hora do almoço e vai para a academia às 15:00, chega em casa às 17:30 e depois estou livre do meu fardo, já que ela fica em casa devidamente protegida o resto do dia.
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Aquela jaqueta de couro
RomanceCatarina Aires mora em Blumenau desde que nasceu, é herdeira das empresas de sua família, escrava de uma posição que não quer ocupar e correndo um risco que desconhece, a jovem impetuosa será salva por um motoqueiro misterioso, o que ela não sabe é...