CATARINA

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  Observei meu jardim já cheio de convidados, acho que já era a hora de descer e fazer minha entrada como anfitriã da festa. Me olhei uma última vez no espelho e fortaleci o batom vermelho que combinava com todo o resto do meu look. Eu estava com um vestido vermelho que eu mesma havia desenhado, aquele era o primeiro modelo que eu desenhei que saiu da folha de papel, estava feliz e orgulhosa do vestido incrível que eu tinha criado, pena não poder mostrar ao mundo mais do meu talento. Quando eu desci até a sala encontrei Roberta dando instruções aos garçons, até ela me ver e se voltar para mim com uma fisionomia de encantamento no rosto, o que me deixou bastante satisfeita, não era fácil superar as expectativas de Roberta.
-Catarina, você está incrível! esse vestido é de tirar o fôlego, quero que crie um para mim! _Ela disse, colocando a mão no coração, sendo dramática como sempre.
-Obrigada! e como está a festa? todos bem servidos? _Perguntei, olhando o jardim pela janela.
-Eu e Tina estamos comandando tudo, não se preocupe, apenas aproveite a sua festa. _Disse, me abraçando de repente. -Seu pai adoraria estar aqui.
Engoli as lágrimas, suspirando, não ia chorar e estragar toda a minha maquiagem.
-Gostaria de descobrir porque ele não está. _Rebati, me afastando e me recompondo depressa.
Roberta apenas me encarou, e suspirou, tão afetada quanto eu.
-Vá, seus amigos estão te esperando! _Falou, desfazendo aquele momento tenso.
Amigos... que amigos? - pensei enquanto olhava a festa de longe mais uma vez. De todos aqueles rostos ali, não tem um que eu saiba mais do que o nome, não conhecia aquelas pessoas de verdade.
Respirei fundo, ajeitei a postura e sai de dentro da casa. Sorri ao ver os celulares apontados para mim, e fiz algumas poses no topo da escada para o fotógrafo da festa antes de descer até o jardim.
Ouvi uma enxurrada de felicitações, e apenas sai repetindo um "obrigada" até conseguir me afastar e alcançar Louise, que estava na mesa de bebidas.
-Finalmente te encontrei! _Disse, pegando o copo que ela segurava e bebendo seja lá o que aquilo fosse.
-Você está linda, Cat! _Ela gritou, me segurando e me fazendo dar uma voltinha.
-Essa belezinha aqui quer dançar! _Eu disse alto, a puxando para a pista de dança que tinha sido montada no centro do jardim.
Dançamos várias e várias músicas sem parar, até mesmo Roberta desceu para pista e curtiu com a gente, mas então ela recebeu uma mensagem e pela cara dela era assunto importante, já que entrou em casa e não voltou mais para a festa.
Quando meus pés cansaram e eu precisei de uma bebida, sai do meio da pista, e assim que me sentei em um dos bancos e acenei para que um dos garçons me servissem algo, congelei em reação a visão que tive. Miguel estava perto da mesa do dj, ele estava com as mãos nos bolsos e passava os olhos por todo o jardim. Peguei o copo de suco da mão do garçom e segui até Miguel como um raio. Assim que notou que eu estava indo em direção a ele, pensei ter visto seus olhos brilharem e um ensaio de sorriso nos lábios dele, o que quase dissipou a minha fúria por vê-lo ali. Quase.
-O que diabos você está fazendo aqui? _Quase gritei, ao me aproximar.
-Primeiramente, você está deslumbrante essa noite! _Falou, passando os olhos por mim e eu quase senti-los queimar na minha pele. -Segundo, feliz aniversário! _Ele disse, me estendendo uma sacola de supermercado.
-Que merda é essa? _Indaguei, sem pegar a sacola.
-Sorvete, é o seu reparo para coração partido, não é?
Droga de garoto. Ele se lembrou de que eu tomava sorvete quando partiam meu coração. Tive que usar todo meu auto controle para não abaixar minha guarda
-Pois meu coração já está mais que curado, se quer saber!
-Tudo bem, então acho que quem vai precisar do sorvete sou eu... _Murmurou, abaixando a sacola.
-Miguel, você não é bem vindo aqui, gostaria que não estragasse até o meu aniversário também!
-Você nem é amiga da maioria dessas pessoas, eu me importo mais com você do que todas elas juntas... _Falou, sem desviar os olhos dos meus.
-Olha que engraçado, eles podem não se importar comigo, mas pelo menos não dizem que sim e depois mentem para mim!
-Catarina, eu não sei mais o que fazer para ter sua confiança de volta, eu sinto sua falta, droga!
-Pois vai continuar sentindo, e se não sair daqui agora eu vou chamar os seguranças!
-Me escuta, eu pre...
-Já escutei o bastante, agora sai daqui! _Falei, jogando todo o suco bem na cara dele.
Miguel me encarou surpreso e depois arfou, secando o rosto com a camisa.
-Que droga, Catarina! ficou louca?
-Fiquei, e posso fazer pior, vai sair por bem ou por mal? _Tentei soar o mais incisiva possível.
Era como se quanto mais eu ficasse perto dele, mais fraca e sem controle eu ficasse, ele era a minha criptonita, mas eu não ia ceder.
-Eu não vou me humilhar mais do que já fiz, fique com suas amizades vazias e sua festa patética! _Disse, nitidamente irritado e talvez frustrado.
Engoli em seco as palavras dele, era mais difícil do que eu pensava ver Miguel agir daquela forma comigo, mas sabia que era exatamente como eu vinha agindo com ele nos últimos dias. Mas eu tinha motivos muito maiores do que um banho de suco.
-Some daqui! _Gritei, vendo ele se afastar e levar meu sorvete com ele, e por alguns instantes pensei que eles até me seriam necessários.
-Até mais tarde! _Ele gritou de volta, e então virou as costas e atravessou o portão.
Até mais tarde? o que ele queria dizer com aquilo?
Meus questionamentos foram interrompidos por um puxão no meu braço e o grito de Louise.
-A oficina de tatuagem chegou! vamos fazer nossa primeira tattoo!
Ela colocou um copo de gin na minha mão e me arrastou até o chafariz, onde Nando, o tatuador que eu tinha contratado, estava passando plástico filme numa cadeira.
-Catarina, meus parabéns! fiquei animado quando recebi sua ligação me contratando pra hoje, é uma honra!
-Ela vai ser a primeira! _Louise disse, quase me jogando na cadeira.
Bebi todo o líquido do copo em uma só golada, e então me sentei na cadeira.
-Vai tatuar o quê? _Nando perguntou, se sentando e ajeitando as coisas para começar.
-Roberta vai surtar se souber disso, Catarina! _Louise disse, rindo.
-Que se dane! _Gritei.
Nando continuava me olhando esperando pela minha resposta.
-Que se dane! é isso que vou tatuar, e então sempre que quiserem controlar a minha vida, eu vou olhar e pensar... que-se-dane! _Falei, quase podendo sentir o álcool correndo nas minhas veias.
-Tem certeza, Catarina? não me responsabilizo por arrependimentos! _O tatuador disse, rindo.
-Eu nunca me arrependo de nada! _Falei, deitando e levantando meu vestido até a cintura. -Quero bem aqui no quadril, eu não me arrependo mas também não quero que minha linda madrasta veja!
-Ainda bem que você é rica, porque pra tirar essa tatuagem não vai ser barato! _Louise murmurou, pegando outro drink quem eu não sei de onde ela tirou.
-Você vai tatuar meu nome! _Eu disse, e ri quando ela se engasgou com a bebida. -Catarina magnífica Air... cacete! _Xinguei, ao sentir a agulha na minha pele.
-Não se mexe! _Nando falou, e vi quando ele começou a escrever o "Que".
-Louise, isso realmente está acon... Louise! _Gritei, ao notar que ela estava se afastando com o nerd de estimação dela. -Vaca! _Murmurei, mas estava sentindo muita dor para me preocupar com a escapada dela.
Quando Nando disse que tinha acabado, eu já estava na minha terceira dose de gin, e nem me dei ao trabalho de olhar a tatuagem, apenas abaixei o vestido e sai correndo para a pista de dança, aquela era a hora da festa em que se tocavam as músicas para se rebolar até as pernas não aguentarem mais.
Não sei por quanto tempo fiquei ali dançando, mas quando ouvi a voz de Roberta me chamando, estava sentada na escada e aparentemente a festa já tinha terminado.
-Catarina, vamos, já deu de festa por hoje! _Ela disse, me ajudando a levantar.
-Que horas são? já acabou?
-São três da madrugada, é melhor você tomar um banho e ir dormir, mais tarde... terá um dia cheio. _Falou, suspirando profundamente, como se estivesse preocupada com alguma coisa. Eu deveria estar, não ela.
Me deixei ser conduzida até o quarto, estava exausta demais depois de nove horas de festa, fora o estresse com Miguel. Entrei no chuveiro e senti a água quente escorrer pelo meu corpo, se eu não estivesse doida para cair na minha cama, ficaria ali por horas.
Quando sai do chuveiro, vesti minha camisola e voltei para o quarto, onde Roberta estava com um copo de água e um comprimido na mão.
-Pra que isso?
-Para que você descanse bem e não tenha uma ressaca maior quando acordar!
Não protestei, só queria me enrolar no edredom e dormir, então tomei o remédio e me deitei, antes de dormir senti um beijo rápido na minha testa, e me perguntei se realmente era Roberta quem estava ali comigo, mas antes que eu perguntasse o que tinha acontecido com ela para demonstrar um afeto repentino, tudo escureceu e eu adormeci.

Aquela jaqueta de couroOnde histórias criam vida. Descubra agora