-O que nós estamos fazendo? _Gritei, rindo, sem soltar a mão dele que ainda me arrastava pelo quintal.
Ele ignorou a minha pergunta, é claro, então apenas continuamos correndo pelo gramado até a entrada da área mais arborizada do lugar. O som da cachoeira estava alto, e assim que passamos por um plaquinha onde indicava o caminho, eu já sabia exatamente o que Miguel pretendia, na verdade estava demorando para que ele nos arrastasse até ali. Parei imediatamente e o puxei, fazendo ele parar.
-Aqui tem cobras, e aranhas e sabe se lá Deus mais o quê! _Falei, olhando aflita para o chão de terra e para os caules das árvores próximas a procura de animais peçonhentos que eu tinha certeza que viviam por ali.
-Seja o que for, com certeza tem mais medo de você do que você deles, vamos logo, eu preciso dessa cachoeira depois desses dias malucos.
-Você vai, eu fico na jacuz... Miguel! _Gritei assim que ele passou os braços em volta da minhas pernas e me jogou em seu ombro como um saco de batatas. -Me põe no chão!
-Aqui em cima as cobras e as aranhas não te alcançam.
Mesmo com a minha evidente relutância, ele continuou seguindo pela pequena trilha comigo no colo e logo demos de cara com a cachoeira. Tinha muitas árvores e mato em volta, uma pedra que quase parecia brilhar devido a água que escorria sobre ela, eu devia admitir que apesar de duvidoso para mim, o lugar era lindo e muito convidativo.
-Esse lugar é incrível, Catarina! _Disse, infinitamente mais encantado com o lugar do que eu.
-Realmente! acho que em todo esse tempo que temos essa casa eu só vim até aqui uma vez, e provavelmente eu estava com um celular idiota na mão e não parei para observar como era bonito. _Conclui.
-A água deve estar ótima, vamos!
-Ótima para nos causar hipotermia, se é isso que quer dizer.
Miguel nos levou até uma pedra e me colocou no chão, assim que tirei os chinelos estremeci um pouco ao sentir minha pele em contato com a pedra gelada e porosa.
-Será que nunca daremos um mergulho com roupas apropriadas?! _Indaguei, tirando minha blusa e ficando apenas de sutiã, já que mais uma vez não estava preparada para cair na água.
Miguel deixou suas roupas em cima da pedra e desceu até a água com cuidado, observei ansiosa enquanto ele nadava para se certificar da profundidade, em seguida voltou para me buscar.
-Com cuidado, pise mais para a esquerda, isso... aqui não é fundo. _Ele dizia enquanto segurava minhas mãos, me conduzindo.
-Talvez não seja fundo para alguém com mais de 1,70, mas para mim com certeza é! _Resmunguei, sentindo a água fria molhar minha lingerie novinha.
Passei meus braços em volta do pescoço dele e instantaneamente me senti segura, era como se nada pudesse me atingir enquanto Miguel estivesse ali, comigo, sempre por perto.
-Não vou te soltar. _Ele disse, enquanto nadava para mais fundo.
-Eu sei que não.
Miguel nos afundou e senti a água me cobrir por inteira, mesmo debaixo d'água seu braços ainda estavam segurando minha cintura e de repente eu já nem sentia mais frio, pelo contrário, eu sentia o calor dele ocupar cada parte do meu corpo.
Quando retornamos à superfície o som dos pássaros e da água corrente da cachoeira era como sinfonia, fazendo de toda aquela situação ainda mais mágica. Senti os dedos de Miguel trilharem levemente uma linha pela minha clavícula, me fazendo estremecer, seu rosto estava cada vez mais perto do meu e eu estava fascinada por aqueles olhos verdes e intensos.
Deus, eu estava em um sonho.
Antes que eu pudesse terminar de contemplá-lo, os lábios dele já estavam nos meus, me beijando com tamanha paixão e devoção que eu quis chorar. Nunca tinha me sentido tão desejada como naquele momento.
-Eu amo você. _As palavras urgentes deixaram a minha boca.
Ele se afastou por milímetros, e seus olhos acompanharam o meu rosto, tinha tantas emoções ali que eu não pude definir apenas uma.
-Também amo você, mais do que imaginei ser possível. _Declarou, arquejante.
Meu sorriso se alargou e senti ele me puxar para mais perto, acabando com qualquer espaço entre nossos corpos.
Após sairmos da água, vesti a blusa dele que era mais quente, mas mesmo com o frio, decidimos ficar um pouco mais. Deitamos na pedra, apoiei minha cabeça em seu peito, e contemplamos aquele momento por alguns minutos em silêncio. Na minha cabeça alguns questionamentos sobre o futuro começavam a surgir, eu o amava, não tinha dúvidas disso, e nem dos sentimentos dele por mim, mas e depois que as coisas voltassem a ser como antes? elas voltariam a ser? eu não sabia o que esperar da minha vida depois que voltasse pra casa.
-Como você acha que vai ser depois que voltarmos pra vida real? _Ele perguntou, como se lesse meus pensamentos.
-Estava me perguntando a mesma coisa... é tão ruim ficar sem saber do que está acontecendo por lá enquanto estamos aqui seguros.
-Concordo, mas me refiria a nós dois, você sabe... a escola terminou, eu provavelmente vou arrumar um novo emprego, e você não vai precisar mais das minhas aulas, afinal, o seu pai está de volta...
Aquelas palavras clarearam a minha mente instantaneamente. Se meu pai estava vivo, isso poderia significar que talvez eu não precisasse mais ocupar a presidência! como eu não tinha me dado conta disso antes?
-Acha que meu pai vai querer a presidência de volta? será que ele me livraria desse fardo? _Perguntei, esperançosa, mesmo sabendo que Miguel não teria uma resposta.
Enquanto acariciava meu braço com uma das mãos, observei enquanto ele ponderava por alguns segundos antes de responder.
-Não quero te dar falsas esperanças, mas ele parece gostar muito de comandar a empresa, e mesmo antes de saber que ele era seu pai, pelas coisas que ele dizia eu via como se importava com você, e não só com a sua segurança, mas com a sua felicidade também, então acredito que ele não vá insistir para que ocupe a presidência se é algo que não te deixa feliz.
-Ai meu Deus... eu nem tenho roupa para esse momento! _Brinquei, animada e ansiosa para voltar para casa de repente.
-Caso não se torne a presidente, espero que tenha pensado em um plano B para o seu futuro.
-Está brincando comigo? eu só pensava no plano B, eu queria que o plano A fosse para o inferno! _Falei, me sentando e vendo ele rir da minha reação.
-E com certeza esse plano tem a ver com moda, certo?
-Mais do que certo! São Paulo aí vou eu!
-São Paulo?
-É, a melhor faculdade de moda no país fica lá, a ideia inicial era ir estudar em Nova York, mas agora que meu pai está de volta e que... encontrei você, sinceramente estudar o que eu sempre sonhei e ainda poder visitar com frequência as pessoas que eu amo continuando no meu país é mais do que eu poderia querer.
-Mas ainda assim São Paulo é longe, nos veríamos bem pouco...
-Talvez você possa tentar uma faculdade pública lá ou uma bolsa! _Disse, assim como ele eu odiaria ter que vê-lo só aos feriados.
-Não é assim, eu tenho a minha vó para cuidar, e não tenho dinheiro pra me manter em outro estado.
-Tinha esquecido da sua vó... _Murmurei, desanimada. -Eu realmente não quero ficar longe, ainda mais agora, mas não sei quais são as nossas opções...
-Não vamos nos preocupar com isso agora, um passo de cada vez, mas de antemão já te digo que apoio totalmente que vá realizar seu sonho em São Paulo.
-Mas e a gente? _Perguntei, sentindo meu peito apertar só de pensar na possibilidade de termos que dar um tempo ou terminar algo que nem mesmo tinha começado.
-Bom, independente da distância eu estarei sempre à sua espera.
Sorri ao ouvi-lo dizer aquilo com tanta convicção.
-Gostei de ouvir isso. _Falei baixinho, me aproximando e o beijando.
-Deveríamos tentar encontrar sinal para ver se seu pai fez algum contato, antes que anoiteça. _Ele disse quando nos afastamos.
-Tem razão, acho que os celulares ficaram na mesa lá no quintal, vamos.
Levantamos e seguimos a pequena trilha de volta para o quintal do chalé, me sentia tão leve e feliz que nem mesmo me importei com os possíveis animais pelo caminho. Nossas mãos estavam entrelaçadas, e aquele era o primeiro momento em que agíamos como um casal depois de tudo que rolou. Eu ainda não sabia se estávamos namorando, o pedido não tinha sido feito, mas aquele entrelaçar de mãos era o contato mais íntimo e genuíno que tivemos desde que nos conhecemos.
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Aquela jaqueta de couro
RomanceCatarina Aires mora em Blumenau desde que nasceu, é herdeira das empresas de sua família, escrava de uma posição que não quer ocupar e correndo um risco que desconhece, a jovem impetuosa será salva por um motoqueiro misterioso, o que ela não sabe é...