Cheguei no colégio e fui direto para aula, assim que ela acabou eu olhei o relógio que marcava 9:00, eu tinha meia hora antes do início da próxima aula, então fui para o refeitório fazer um lanche e enquanto comia observei alguém colando uma folha em um dos quadros de aviso. Como o curioso que sou, terminei meu lanche e segui imediatamente em direção ao quadro de avisos:
"ATENÇÃO, VOCÊ QUE ESTAVA NA FESTA DE HALLOWEEN E DEIXOU UMA JAQUETA DE COURO COM CATARINA AIRES, BUSQUE SEU PERTENCE NOS ACHADOS E PERDIDOS NA RECEPÇÃO DA BIBLIOTECA". _Li o aviso.
Minha jaqueta! eu realmente estava preocupado com a possibilidade de não vê-la nunca mais, mas deveria imaginar que aquela patricinha não ia querer ficar com um casaco velho no armário de grife dela. Como só tinha mais alguns minutos fui direto até a biblioteca em busca da jaqueta que era do meu avô. Antes de ir até a recepcionista eu olhei em volta rapidamente para ter certeza de que Catarina não estava por perto, depois de certificar segui até o balcão.
-Bom dia, eu sou o Miguel, vi no quadro de avisos que deixaram uma jaqueta aqui, ela é minha.
-Tem algum detalhe nela que comprove que você é o dono?
-Está escrito o nome "Ferráz" em uma etiqueta na parte de dentro, é meu sobrenome. _Disse, colocando minha identidade em cima do balcão.
Esperei enquanto a senhora revirava a jaqueta em busca da etiqueta, assim que ela comprovou o que eu dizia, peguei o casaco e me apressei em sair dali antes que me vissem com a jaqueta na mão.
O corredor estava vazio quando ouvi passos atrás de mim e em seguida uma voz que estava se tornando conhecida ecoando no ambiente:
-Ei motoqueiro! ou devo te chamar de... mentiroso?
Merda. Será que seria muito vergonhoso sair correndo dali?
-Vou precisar pedir que se vire para mim outra vez? _Ela perguntou, e eu quase podia vê-la cruzar os braços.
Me virei, e enquanto fazia isso tentei pensar em boas mentiras para qualquer pergunta que ela fizesse, apesar de saber o quanto eu era péssimo em mentir.
-Oi de novo! _Disse, tentando forçar um sorriso.
-Sabia que tinha sido você.
-Eu o quê? _Me fiz de sonso, não me entregaria tão fácil assim.
-Ah por favor... Miguel, né? _Ela indagou, fingindo não se lembrar do meu nome.
-Você sabe que é.
-Eu sabia que era você o motoqueiro que me salvou na noite da festa, mas você mentiu pra mim quando eu perguntei, por quê?
-Não queria que soubesse quem eu era.
-Isso já deu pra notar, mas eu quero saber o motivo.
-Odeio chamar a atenção, e com certeza assim que soubesse quem eu era você ia sair espalhando pela escola o meu ato heróico e eu nunca mais teria paz aqui.
-O que te faz pensar que eu sairia "espalhando" para todo mundo quem você era? okay, você me salvou, mas isso é o mínimo que um cara com caráter deve fazer, não precisa de um prêmio.
Revirei os olhos.
-Eu sei disso, e exatamente por isso não achei que fosse necessário que soubesse a minha identidade.
-De qualquer forma... eu queria agradecer pelo o que fez por mim, eu realmente não sei o que faria se você não tivesse aparecido.
-Não precisa agradecer, só toma mais cuidado da próxima vez, eu não estarei sempre por perto. _Disse, e tive que segurar o riso diante daquela declaração, eu sempre estaria por perto, afinal, eu era pago para isso.
-Claro... mas eu tenho mais uma pergunta pra você.
-Se puder ser rápida, minha aula já começou e eu não posso me dar ao luxo de perdê-la.
-Como você sabia onde eu morava?
-Como assim?
-Você deu meu endereço pro taxista naquela noite, e tenho a impressão de que vi você na minha rua alguns minutos depois.
Eu esperava que ela não fosse se lembrar disso, mas em cinco minutos de conversa já conclui que aquela garota era um pé no saco.
-Você é uma Aires, toda a cidade conhece você e bom... sua casa não passa despercebida no nosso pequeno bairro, e eu estava na sua rua porque me preocupei de deixar uma garota bêbada sozinha no táxi, então acompanhei o trajeto.
Ela franziu as sobrancelhas perfeitamente desenhadas, indicando que não estava completamente convencida.
-É, com certeza é isso, desculpa parecer tão paranóica e fazer tantas perguntas, é só que... aquela noite foi tão confusa, e eu tenho a mente muito fértil.
-Tudo bem, agora eu preciso ir.
-Claro, a gente se esbarra pelos corredores.
Espero que não.
-Espero que sim. _Foi o que acabei dizendo.
Não fiquei nem mais um segundo ali, segui como um relâmpago até a minha sala. Precisei de toda minha concentração para absorver alguma coisa que a professora dizia na aula, não conseguia deixar de pensar o quão perigoso foi ter sido parcialmente "descoberto" por Catarina, por sorte eu consegui pensar em respostas rápidas.
Teria que ter o dobro de cuidado agora ao segui-la, e com certeza não ficaria mais em frente a casa dela. Mas como faria meu trabalho bem feito sem poder vigiá-la de perto?
Imediatamente peguei meu celular e mandei uma mensagem para o número que o homem que me contratou tinha me passado. "Vem até meu apartamento em uma hora, certifique-se de não estar sendo seguido". _Foi a resposta que obtive ao pedir que nos encontrássemos.
Assim que a aula terminou eu esperei até que o motorista buscasse Catarina e então fui até o apartamento do cara. Dessa vez subi sozinho e sabia o caminho até a porta dele, bati quatro vezes seguidas, era um código que tínhamos combinado em nosso primeiro contato.
-Miguel, entre. _Ele disse, abrindo passagem e fechando a porta em seguida. -Me deixou preocupado com sua mensagem, o que foi?
-Então, eu tenho seguido a garota todos os dias, e em um desses dias ela estava em uma festa numa boate, obviamente eu fui até a festa, mas em determinado momento ela sumiu, então eu fui procurá-la...
-Poderia ser mais direto? _Ele me interrompeu.
Assentindo, eu contei o resto da história até o momento em que Catarina descobriu que eu era o motoqueiro que a tinha salvado.
-Você fez um bom trabalho, apenas foi descuidado ao não perceber que colocar a sua jaqueta nos achados e perdidos era uma visível armadilha! _Falou ele, rindo.
Era a primeira vez que eu o via sem a fisionomia séria e impassível.
-Então não está irritado?
-Claro que não, mas obviamente você precisa ter mais cuidado, ela não pode desconfiar que você está seguindo-a e servindo como um segurança para ela.
-Eu sei, mas confesso que estou um pouco preocupado, antes eu ficava na frente da mansão, atrás de uma árvore, mas ela já andava desconfiada, agora com essa história ela pode acabar fazendo algum tipo de ligação caso me veja por perto outra vez.
-Entendo, para a sua sorte eu já pensei em tudo... o que acha de se mudar?
-Hãm? _Murmurei, confuso.
-Eu sei que mora com a sua vó, mas preciso que continue sempre por perto da Catarina e aos arredores da casa, e pra isso precisaria se mudar para o apartamento que eu aluguei.
-Que apartamento?
-O local é na mesma rua que a mansão, da varanda você tem vista privilegiada de toda a rua e da entrada da casa, eu fiquei lá por alguns meses, mas então começou a ficar perigoso para mim, tive que me mudar de lá há alguns anos, no entanto, você poderia ocupá-lo.
-Por que o senhor se esconde? qual o seu nome? o que é da Catarina? _Me vi perguntando, mesmo depois de termos concordado que eu jamais faria perguntas comprometedoras.
-Já conversamos sobre essas perguntas, eu sei que é inevitável que esses questionamentos surjam mas eu não posso falar nada além do que você já sabe, se tudo correr como o planejado em alguns meses suas dúvidas serão sanadas, mas por hora o que precisa saber é que não quero o mal da Catarina e que confio em você para protegê-la, e se for te deixar menos insatisfeito pode me chamar de... Luiz.
-Okay Luíz, mas eu preciso protegê-la de que exatamente? é muito difícil ficar preocupado até com um colega de escola que se aproxime dela!
-Tem uma pessoa específica, eu vou mostrar uma foto a você para que te ajude a fazer seu trabalho, mas não pode focar apenas nessa pessoa, até porque acho difícil que ela própria faça algo contra a Catarina. _Ele explicou, me mostrando a foto de um homem.
-Mas quem ele...
-Não vou responder mais nada, só preciso que me diga se concorda em se mudar ou não?!
-Não posso deixar minha vó sozinha, e ela jamais concordaria em deixar a casa dela, mas posso passar o dia no tal apartamento e algumas noites, geralmente eu só vou para casa depois que a luz do quarto da garota se apaga, farei o mesmo.
-Perfeito, faça isso e me mantenha informado caso algo a mais aconteça. _Falou. -E outra coisa, se bem conheço Catarina ela ainda vai pegar no seu pé, não precisa fugir dela como o diabo foge da cruz, vocês podem conviver, seria até interessante fazer parte da vida dela de alguma forma, manteria você por perto com mais facilidade, mas ela não precisa saber de tudo que tem a ver com você, acho que fui claro o bastante.
Apenas concordei, apertando sua mão e saindo daquele lugar que ainda me causava arrepios.
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Aquela jaqueta de couro
RomanceCatarina Aires mora em Blumenau desde que nasceu, é herdeira das empresas de sua família, escrava de uma posição que não quer ocupar e correndo um risco que desconhece, a jovem impetuosa será salva por um motoqueiro misterioso, o que ela não sabe é...